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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Tem Alguém Aí? Feliz Continuidade...

PoiZé, minha gente... passou o Natal e o ano de 2010 já está com os bracinhos de fora. É interessante como nós nos distinguimos dos restantes dos animais nos auto-declarando seres com inteligência superior a deles e ao mesmo tempo somos tão supersticiosos e crentes quanto um cão. A sensibilidade e ignorância que um simples cachorro tem diante da natureza talvez os levassem (se pudessem) a criar altares, exaltar feitos e estimular adorações. Contudo, não são inteligentes o suficiente para tanto. Aêêêê...!!! Ponto para nós. Criaturinhas ridículas, não acham? Somos tão, mas tão espertos, que acreditamos realmente que o ano novo... é novo!!!! Que um ciclo se encerra e que TUDO que estava errado pode simplesmente se transformar sem ação humana alguma. As forças sobrenaturais farão seu papel... cabe-nos apenas esperar até o dezembro próximo e ver se as coisas melhoraram. Se não, culpa da nossa descrença. Cara... a gente tem medo de morrer e, por isso, detonamos a natureza!!! Claro... ela é nosso eterno algoz. Nada mais justo, né? Que se foda a natureza!!! Eu quero viver pra sempre. Reino dos céus??? Cidade de Deus??? Nem acredito nisso... mas quando morrer, tomara que eu não vá para o inferno. Porra! Que animal mais louco esse homem... a natureza é causa e efeito. Mas dirão: “Deus nos criou à imagem e semelhança. Ele é o criador”. Se o criador é perfeito, a obra é perfeita... caso contrário haveria um paradoxo aí. E se o Homem é perfeito... por que diabos fazemos tanto mal a TUDO? E se é imperfeito, como pode seu criador ser perfeito? A humanidade tá caminhando pra descobrir Deus... pra se distanciar Dele... ou pra matá-lo (ops... dizem que já morreu)? Uma das nossas maiores contradições é acharmos que somos imperfeitos e buscar a perfeição no que desconhecemos e individualmente, fudendo os outros.
Desejamos tantas coisas pra 2010... mas eu, pessoalmente, só queria que você fosse real. Isso mesmo: real. Porque se tudo que existe estiver só na minha cabeça, eu não faço a mínima idéia de como mudar tudo sozinho. Mas se você que está lendo esse texto for realmente de verdade; se você existir independentemente da minha existência, eu clamo para que faça alguma coisa. Não espere por Deus... não tenha medo do diabo... não jogue a toalha e espere acontecer. Não esqueça 2009... 2008... 2007... etc. Se você aí for real, use dezembro não como marco final de uma etapa, mas como um momento para tomar um ar e continuar, reparar, e concertar tudo que nós e nossos pais fizemos. Eu estou aqui... escrevendo, conversando, vivendo. Estou realmente aqui. E seja lá no que eu acredite que pode nos transformar ou mudar nossa vida, eu sou um ser humano. Sou um animal como qualquer outro e, como os outros, vivo. Nosso medo da morte nos leva a buscar a salvação. Esquecemos os outros... praticamos o bem para ir ao céu. Se você realmente estiver aí, saiba que eu estou aqui. Preciso de você. A natureza é linda... as pessoas maravilhosas. Bem aqui... bem aí, do seu lado. Por que só a Cidade de Deus é perfeita? Enquanto não soubermos se essa salvação realmente existe, que tal tentar algo mais humano: altruísmo. Vivemos em sociedade e esquecemos isso. Estamos cada vez mais isolados. Passamos a crer na singularidade acima de tudo, principalmente para nos salvar. Mas quem é você? O seu ato de pensar preconiza uma conversa entre duas pessoas na sua cabeça... quem é a outra??? SOMOS NÓS!! Para pensar, para ser você, para exaltar essa sua individualidade e intelectualidade, você precisa de todos nós. Senão vai falar com uma bola que nem naquele filme do Tom Hanks. Então, para 2010 não recomecemos, que nem as formigas fazem. Tomemos fôlego e continuemos... reparando e concertando. Crendo na existência dos outros e na nossa interdependência.
Isso se você realmente existir...


Ulisses Figueiredo.
Semana que vem, dia 18/01: "Pegaram minha caneta emprestada e não me devolveram? Não, que isso?Quem escreve minha vida sou eu, e ao decorrer do que vivo." EMBARQUE NO BARCO DA ESPERANÇA!, de Diego Sandins.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Oi Querido

Oi querido, então, eu olhei pra trás e não vi você hoje, resolvi te escrever porque talvez você sinta isso que eu estou anunciando e tudo fique menos rarefeito entre nós. Eu olhei como disse, e não mais vi você, resolvi experimentar que você se perca, que você se encaixe nas lembranças boas e que você se perca na leveza, quase que secretamente como as boas coisas que perpassam por entre as carnes. Você é tão bonito, gosto tanto de você, me treme o eixo saber que você tá por aí passeando por essa mesma vida que eu e a gente inclusive se esbarrou no meio de tanto barco furado, de tanta maré remada ao contrário, tanta ilha desabitada de corpos que a constituem. Eu vi que por sua causa eu comecei a escrever mais textos, só que aí eu comecei a escrever especificidades, as mesmas palavras, os mesmos sentimentos, tudo muito se repetindo, girando e girando e parando no mesmo lugar: um lugar meu – seu lugar seu. Claro que eu quero que esse hífen suma, que as partes se juntem e que eu pare de me atrapalhar toda quando na prateleira o manual mal escrito de como lidar com alguém cai no teu nome. Eu quero, lógico que quero. Enquanto isso tudo me rondava deitei-me com outra carne, igual a minha, foi incrível, excitante, mas a carne que gosto mesmo é a diferente, aquela que junta, completa e não aquela que se sobrepõe. Agora tenho que avisar a esta carne que minha carne está guardada para outra carne. Espero que uma entenda que o gosto que gosto é o mesmo de antes dela. Eu te cobri com uma cobertinha desenhada, de figurinhas de lápis de cor aquarelável que fizeram poças alegres enquanto você dorme e de tão cansado baba na coberta. Isso são suposições, claro, mas do jeito que você corre, você deve descansar e babar até. Mesmo. É, você é bonito; é, eu me atrapalho; é, você diz que eu sou um amor; é, eu sempre choro nos finais de filmes; é, eu agora sei dos dois lados; é, eu provavelmente pensarei em você por muito tempo. É, é sim. Assim.

Danielle Ribeiro.
Na última semana do ano, dia 28/12: "...eu, pessoalmente, só queria que você fosse real. Isso mesmo: real. Porque se tudo que existe estiver só na minha cabeça, eu não faço a mínima idéia de como mudar tudo sozinho." TEM ALGUÉM AÍ? FELIZ CONTINUIDADE... de Ulisses Figueiredo.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Desnatal

No Rio de Janeiro, as aventuras de um anjo caído





(Asas do Desejo, de Wim Wenders)


Abaixo dos meus olhos estava a velha e bela esfera azul cintilante. Úmida, delicada, inacreditavelmente bela. Era eu a caminho da minha missão n.º 5 no planeta. Em alta velocidade eu me aproximava de sua atmosfera. E, no brusco contato com esta, uma dor lancinante em minhas costas. Eu já havia me esquecido em como isso doía. Só que desta vez foi bem pior – senti minhas asas se despregarem do meu corpo antes que eu caísse no mar. Dor, muita dor. E as asas se foram para não sei quando.
Acordei na praia, deitado na areia, com as ondas empurrando meu corpo. Era uma praia deserta. Impossível saber se era uma ilha deserta. Eu, contudo, sabia estar deserto de tudo: deserto de boa parte do meu passado, deserto de meus companheiros e talvez deserto de Deus. Nas minhas costas dois enormes ferimentos, da ruptura das asas. Os ferimentos iam dos ombros até a última costela inferior de ambos os flancos. Eu estava vivo. Não era ainda o meu fim. A saudade da dor já estava morta – a dor confunde, fazendo-nos pensar que ela é a pior coisa que existe. Depois de tantos anos esperando por esse momento, da minha volta à Terra, eu já estava com saudade do céu. Ah, a dor. Mergulhei no âmago da floresta e tratei meus ferimentos com ervas locais. Senti fome. Descobri que quase tudo serve como alimento mais ou menos nutritivo. Passaram os dias. A dor nas costas havia também passado. Os ferimentos cicatrizados. Decidi ir em busca do meu destino: alguma cidade. Consegui um mapa-múndi e fiz minha escolha. Para onde eu faria minha penosa peregrinação.
Rio de Janeiro. Por alguns motivos, julguei ser o Rio o melhor lugar do planeta para eu exercer minha nova humanidade pessoal. Não foi tão difícil me readaptar à vida civilizada. À vida carioca, no caso. Em poucos anos eu já havia conseguido meu ganha-pão trabalhando como escultor. Esculpia mulheres nuas, homens nus, crianças e anjos com asas. Dava pra ganhar um troco. Apesar do ofício pouco comum, aprendi maneirismos do local, como o gosto por samba, embora eu nunca tenha me habituado ao carnaval. De toda forma, sempre preferi rock a samba – na minha casa tem guitarra, não cavaquinho. Um dia eu fui a um grande tatuador em Ipanema, que ficou impressionado com minhas cicatrizes, mas não fez muitas perguntas. Em um ano as cicatrizes estavam completamente cobertas. Muitos desenhos foram feitos na minha pele disfarçando as enormes cicatrizes, com destaque para duas enormes asas.
No meu ateliê eu curtia minha arte e minha solidão. Tornara-me um colecionador não-maníaco. Em destaque, na sala, um antigo aparelho de som comprado num antiquário. No aparelho eu ouvia discos do Bob Dylan, para entender a vida – e muita coisa nesse planeta houvera mudado desde a minha última vinda, quando parti em 1848, deixando Londres e meus amigos Marx e Engels, com os quais atuei na elaboração do Manifesto. Bons tempos aqueles. Aquela foi a 4.ª grande viagem. Então, que rumo tomara minha vida nesta 5.ª viagem? Não me sentia preparado ainda, mas já era hora de eu fazer alguma coisa, ou seja, fazer o que precisava ser feito. Era dezembro, ano 2039 depois de Yeshua – este que foi um cara e tanto –, as coisas estão bastante diferentes. Um desânimo parecia pairar como nuvem de moscas sobre a cabeça de cada homem. Há uma coisa – aliás várias coisas diferentes dessa vez. Minha memória falhando era uma delas. Outra coisa são minhas forças, que não eram as mesmas, estando eu mais humano do que jamais me sentira. E já não tinha mais certeza de que poderia retornar ao céu. Minhas asas: era minha primeira vez sem elas. Se havia o lado bom, que era poder ir à praia, surfar – e essa a sensação mais próxima de voar que eu consegui como humano –, andar por aí sem o inconveniente sobretudo que as escondia, havia, por outro lado, o problema da insegurança, da incerteza se um dia as teria de volta. Não que a vida humana não seja boa. A morte humana é o que mais angustia. A morte parece sempre iminente. Teme-se a morte, e, ao mesmo tempo, anda-se tão perto dela e se a trata com tanta indiferença que não dá mesmo pra entender. As coisas parecem mais importantes que as vidas. As nações, religiões e ideologias são mais importantes que as vidas. Os automóveis mais importantes que as vidas. Os hotéis mais importantes que as pessoas hospedadas neles. As marcas mais importantes que as pessoas. Os animais não falantes? Estes, pobres coitados, não possuem mais sua própria vida: viraram coisas, meros itens alimentares. Não há diferença entre um frigorífico com bois e uma plantação de trigo. A logomarca de uma lanchonete de hambúrgueres tem mais alma que um boi, com certeza. Então alguém, de repente investe muito dinheiro para salvar as tartarugas, protegendo-as, assegurando sua reprodução e desova. Mas ninguém investe um centavo para salvar as almas dos bois. Isso ainda não é nada. Há ainda aqueles homens que tratam outros homens como se bois fossem. Hora de fazer algo.
Estávamos em dezembro. Dezembro é quando se come mais animais. É o mais sangrento dos meses. É o mês que escolheram para dedicar a meu velho conhecido Yeshua. O que Yeshua iria achar se soubesse que as nações trocaram seu nome por um outro adaptado? Se soubesse que é adorado não por seu nome, e sim por um apelido: Jesus. E, pior do que tudo, o que ele iria achar ao saber que alguém que nada se parece com ele roubou pra si as celebrações de dezembro? Um homem velho, gordo, rico, com a barba branca e um imponente e prepotente roupão vermelho. Um velho, que por ser rico, estimula a troca de presentes, que só faz enriquecer ainda mais os ricos que são donos dos meios de produção dos artefatos presenteados pelo mundo inteiro. Essa idéia só poderia mesmo vir de um rico: o mundo inteiro comprando presentes, ampliando-se ao máximo a produção e o lucro. É claro que é preciso comemorar o enorme lucro. Para isso, uma grande matança de animais. Muito dinheiro e muito sangue nos insanos dezembros pelo mundo afora. A festa está completa.
Maracanã. A velha tradição da chegada oficial do bom velhinho à Cidade Maravilhosa. Eu toco guitarra em uma das bandas que se apresenta na festa de boas vindas ao velho metido. Lá vem o desgraçado clone, da legião de clones desgraçados, no helicóptero. A nave pousa. Ele, escoltado, caminha até a plataforma onde eu toco com meus amigos. A plataforma é bem alta. Uma queda daqui de cima seria fatal. É minha chance então. Jogo a guitarra no chão e avanço com toda velocidade e raiva pra cima dele, lanço-me contra ele, caindo, nós dois, de uma altura de quase 30 metros. Nossos corpos não puderam suportar a queda. As imagens, registradas por diversos ângulos, rodam o mundo. As marcas em minhas costas chamam a atenção de um médico, que percebe que há mais que tatuagens em meu corpo. Minha matéria mortal é levada para a faculdade de medicina. Num exame de raio-x, o espanto: algo muito errado com a estrutura óssea do meu corpo. Não houve um enterro cristão para os meus restos mortais. Sem família para pleitear um funeral, a moradia ficou mesmo sendo um refrigerador no hospital da faculdade. Médicos do mundo inteiro fizeram visitas secretas ao hospital para ver a realidade gritante e surda daquele corpo. O que se sabia da identidade daquele homem? O que encontraram na casa dele? Esculturas belíssimas. Pranchas de surf. Um violão. Uma guitarra Gibson. Diários. Sim, diários. Sim, os meus diários. Os diários tornaram o assunto ainda mais complicado para os investigadores. Polícia Federal com auxílio do FBI. Nenhuma conclusão, obviamente.
É fogo. Até hoje não sei exatamente se minha verdadeira missão n.º 5 era matar um papai-noel. Isso parece tão pouco, não é verdade? Além do mais, não sou assassino. Não sou o anjo exterminador enviado por Deus para matar os primogênitos do Egito. Ouvi até dizer que isso não passa de boato. Eu nunca quis matar ninguém. O que fiz, fiz por um impulso humano. Acabei me tornando humano e mortal. É humano matar, morrer e carregar o peso das culpas. Hoje, ao escrever essas minhas memórias póstumas, ainda posso sentir o peso da culpa nas minhas costas.
Passara-se um ano daquele trágico natal. Um novo dezembro então. O detetive do FBI morava no Rio a convite do Governo brasileiro. Muitas informações sobre o caso, sem nenhuma que o pudesse esclarecer. Na noite que antecederia a festa da chegada de Papai Noel no Maracanã, apreensão na casa do detetive americano. O dia porvir seria cheio. A segurança multiplicada por dez. Nada poderia atrapalhar o culto simbólico ao anti-homem de vermelho, o falso deus capitalista – já que o verdadeiro deus é o próprio dinheiro, como já sabemos e fingimos não ver. É o dinheiro que se cultua nas noites de natal e ano-novo. A musiquinha diz de forma clara e direta sobre nossos desejos mais íntimos: “muito dinheiro no bolso, saúde pra dar e vender”. Vejam que até a saúde é uma mercadoria a ser vendida. Lendo os diários do estranho, o detetive se obrigara a pensar sobre questões nunca antes por ele formuladas a respeito do absurdo natalino. Hora de ir pra cama. Adormeceu o homem, enfim. No meio da noite silenciosa alguém bate na porta. Ele acorda e, com certo medo, vai atender. Vê que é uma menininha – bonita, com os cabelos encaracolados, olhos grandes. Abre a porta. A menina o entrega o que parecia ser um terno sob um plástico escuro. Ele segura. A menina sai correndo noite a dentro. Na sala ele retira o plástico. E o que ele tem em mãos? Um enorme par de asas.
Luciano Fortunato.
Próxima segunda, dia 21/12: "É, você é bonito; é, eu me atrapalho; é, você diz que eu sou um amor; é, eu sempre choro nos finais de filmes..." OI QUERIDO, de Danielle Ribeiro.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Eu Pensei Que Todo Mundo Fosse Filho de Papai Noel, Mas Alguns São Filhos-Da-Puta Mesmo

Happy Xmas (War Is Over) - John Lennon - Composição: John Lennon e Yoko Ono
So this is christmas/And what have you done/Another year over/And new one just begun/And so this is christmas/I hope you have fun/The near and the dear one/The older and the young/A very merry christmas/And a happy new year/Let's hope it's a good one/Without any fear/And so this is christmas (war is over...)/For weak and for strong (...if you want it)/The rich and the poor one/The world is so wrong/And so happy christmas/For black and for white/For the yellow and red one/Let's stop all the fight/A very merry christmas/And a happy new year/Lets hope it's a good one/Without any fear/And so this is christmas/And what have we done/Another year over/And new one just begun.../And so happy christmas/We hope you have fun/The near and the dear one/The older and the young/A very merry christmas/And a happy new year/Let's hope it's a good one/Without any fear/War is over - if you want itWar is over - if you want it/War is over - if you want it/War is over - if you want it
TRADUÇÃO:
Então é natal/E o que você tem feito?/Um outro ano se foi/E um novo apenas começa/E então é natal/Espero que tenhas alegria/O próximo e querido/O velho e o Jovem/Um alegre Natal/E um feliz ano novo/Vamos esperar que seja um bom ano/Sem sofrimento/E então é natal/Para o fraco e para o forte/Para o rico e para o pobre/O mundo é tão errado/E então feliz natal/Para o negro e para o branco/Para o amarelo e para o vermelho/Vamos parar com todas as lutas/Um alegra Natal/E um feliz ano Novo/Vamos esperar que seja um bom ano/Sem sofrimento/E então é Natal/E o que você fez?/Um outro ano se foi/E um novo apenas começa/E então feliz Natal/Esperamos que tenhas alegria/O próximo e querido/E velho e o Jovem/Um alegre Natal/E um feliz ano novo/Vamos esperar que seja um bom ano/Sem sofrimento/A guerra acabou , se você quiser/A guerra acabou agora/A guerra acabou , se você quiser/A guerra acabou , se você quiser/A guerra acabou , se você quiser/A guerra acabou , se você quiser/Feliz Natal.


Bem, como é Natal, darei um presente aos inúmeros fans desse blog. Será um post bem-humorado, como algumas pessoas haviam falado pra eu fazer."Então, é Natal...". E como a gente percebe isso?Porque as pessoas começam a ficar mais amáveis ou porque o clima de simpatia começa a incidir no ar?NÃO!É porque começa a tocar " Já é Natal na Leader Magazine"( ou outros jingles de lojas de departamentos), e começamos a ouvir a insuportável a extremamente nasalizada voz de Simone no clássico ( das trevas) "Então é Natal". John Lennon deve se revirar no tumulo até hj, até a Yoko Ono, que AINDA não morreu ja se revira! Aliás, deve ser a única coisa em que ela se revira em cima, né! Resumindo, se formos contar com as coisas especialmente natalinas, o Natal é um inferno! Contrasenso, não?Se alguem está feliz e agradável SÓ porque o está perto do Natal... desconfie!Talvez essa pessoa quando não tiver em clima natalino, seja um filho da puta, ao invés de ser filho de Papai Noel.Eu, por exemplo, não preciso olhar em que data estou para tentar ser legal. Não é porque é Natal que vou mudar pra melhor, afinal, isso subentende que eu não me esforçaria para melhorar antes de dezembro.Acho que eu sei por que o Natal é no fim de ano, afinal não deveria ser " privilégio" só do Papai Noel chegar a esse final de ano de SACO CHEIO! Se eu fosse o Papai Noel, já teria um Natal logo em março! Com direito um lá pela festas junina, porque com certeza vou ter de esvaziar o saco mais de uma vez.E o fato de ser vermelha a sua roupa? Por causa da Coca-Cola? Po, o Flexa-Cola e o Refri Convenção também é vermelho e ninguem diz nada.O Papai Noel usa vermelho porque se, por acaso o Comunismo vingar, ele nao vai ter que aproveitar pontas-de-estoque dar para não deixar nenhuma criança sem presente. Daí ele vai poder passar suas férias em Cuba!Talvez fumando um charuto, ou tomando um belo de um drink à base de Rum.Ou vcs acham que o Papai Noel gosta incondicionalmente de seu trabalho? Nada disso! Ele é a pessoa que mais trabalha no Mundo, é uma espécie de " Mega trabalho temporário", afinal, trabalha na noite do dia 24 de Dezembro, nao come nada( nenhuma boa alma o convida para a ceia) e não lhe pagam vale-transporte( ele tem que usar seu próprio transporte, as renas). Em falar nas renas... po, imagina a paciência do o Santa(ui) Clauss tem de ter, para aturar a cada casa que ele vá, uma rena daquelas reclamar que quebou a unha... que frescura! Mas o que esperar de uma festa onde seu avô passa o dia inteiro atras de rabanadas e que se conta os minutos para dar meia-noite e ver sua mãe botar um Peru na mesa? Até o Ano Novo, ponha um sorriso nessa cara... não espere que esse sorriso venha socado na meia do Papai Noel que vc botou na janela.

Diego Sandins.
Próxima semana, dia 14/12: "Dezembro é quando se come mais animais. É o mais sangrento dos meses. É o mês que escolheram para dedicar a meu velho conhecido Yeshua..." DESNATAL, de Luciano Fortunato.

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Macaco-Rei

Havia, há muito tempo, numa floresta muito, muito distante (perdão, não resisti...), uma grande e maravilhosa alcatéia. E não era uma alcatéia comum, senhoras e senhores. Ademais de nela coexistirem das mais diversas variações lupinas que o leitor jamais pudesse imaginar, uma curiosidade era incrivelmente notória: o líder dessa sociedade não era um lobo, meu amigo! Ele era um macaco!! Seria possível? Lá era. Diziam que o líder macaco era visto como um rei entre os seus (literalmente “seus”) lobos. Dizia-se líder devido sua inteligência, sabedoria e, é claro, esperteza. Ele contava, sobretudo e a todos que tivessem ouvidos, que residia em si a fonte única da harmonia entre tantos lobos diferentes. Os lobos passaram a acreditar, com o tempo, que sem ele todos acabariam se matando. O macaco era esperto e todos lhe pagavam tributos. Tiveram inclusive que aprender a plantar só para agradar o tal símio com seus modos vegetarianos... O abusado macaco, além de exigir suas frutas prediletas, ainda atacava de juiz!! E adivinhem quais leis nosso amigo aplicava: logicamente as que ele mesmo havia outorgado. Imaginem só...um macaco mandando em um lobo! Chega a ser engraçado. Mas meus amigos, pasmem. Pois agora vou lhes contar a maior proeza do astuto macaco: ele fez com que todos os lobos daquela incrível e gigantesca alcatéia acreditassem que todos eles também eram macacos!! Assim, suas leis e vontades “de macaco” não eram questionadas pelos “macacos”.
Realmente incrível, não é, nobre leitor? Onde mais, senão numa crônica fictícia dessas, encontraríamos algo do tipo? rsrs


Ulisses Figueiredo.
No próximo domingo, dia 06/12: "Se formos contar com as coisas especialmente natalinas, o Natal é um inferno! Contrasenso..." EU PENSEI QUE TODO MUNDO FOSSE FILHO DE PAPAI NOEL,MAS ALGUNS SÃO FILHOS-DA-PUTA MESMO, de Diego Sandins.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Tesão Enrustido

Hoje eu acordei no cio, o cheiro da tua roupa ainda vai me levar a loucura, na beira da tábua eu já tô... se não fossem outras passistas eu já te teria devorado (novamente e por completo agora). Eu acordei com a sensação das musas do Leminski, das carnes onde se projetam poemas sujos e deliciosos, o filme pornô vendido a partir das dezenove horas nas grades fedidas do campo de Santana, a mulherzinha que dança pra tirar um troco ali na praça Tiradentes, o pensamento que faz morder a boca do adolescente que senta ferozmente a mão no membro recém descoberto... Levantei me sentindo a musa cálida das grandes pinturas, uma Vênus, com gavetas ou não, com cabelos vermelhos ou não ( logo eu que sempre tive o rojo, el fuego na cabeça), as mulheres cheias de dobras nas imagens de saudek, a virgem prestes a derramar sangue numa viela úmida com seu garanhão negro... (só dou o cu, papai tem que acreditar na minha pureza). Abri os olhos com a visão de pernas abertas convidando você a tomar um chá... hahahahha...um chá das cinco, me comendo pontualmente ao estilo da realeza, me sentei na cama com o gosto bitter sweet do recém cuspe voluntário, pedido, suplicado, nunca experimentado mas sempre desejado. Tomei banho aos escorregões duma boca de lava jato, nervosa e delirante ao som da água que tira todo o gemido pra arquear as costas num gozo, de pé. Deitei quente.Volto a dormir com as mãos cheirando a mim mesma...

Danielle Ribeiro.
Em uma semana, dia 30/11: "Os lobos passaram a acreditar, com o tempo, que sem ele todos acabariam se matando" MACACO-REI, de Ulisses Figueiredo.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

A Vida É Fogo

O corpo estava em chamas. Agora ele era mais do que indivíduo, pois a luz que de si emanava como que de um pequeno sol, mais o cheiro, mais o fumo, faziam dele uma referência na paisagem urbana, multiplicando-o. Ele tinha naquela época quarenta e quatro anos idos e já estava cansado de queimar aos poucos. Ele queria ser uma estrela de fogo, recusando-se a uma vida (morte) comum, com seus crediários, sermões, noticiários forjados, livros planejados pra reproduzir ignorância, a obrigação da seriedade moral cristã nas rugas e nos cabelos brancos, o sofá do vovô, o velório com um monte de gente repetindo frases feitas, frases moldando falsos pesares, frases copiadas e repetidas como a vida, frases sem fogo.
Passara semanas fechado num apartamento fazendo tatuagens no corpo. O que ele tatuava? Frases. Como um Rosário solto na selva de concreto, ele sentia precisar daquelas palavras escritas. Escrita.Versículos bíblicos, pequenos aforismos de pensadores como Sêneca, Epicuro, Nietzsche, Fernando Pessoa e Pedro Bial, pequenos trechos de escritos comunistas, versos budistas, versos de escritores da beat generation, além de misteriosos códigos de barra. Saiu do apartamento com uma sensação de plenitude, de orgulho pela coragem da decisão tomada. Tomou ácido com uísque, e foi. Galão plástico em mãos, passou no posto de gasolina e mandou encher. Na faixa de pedestres, na hora do rush, parou no meio, jogou os cinco litros de gasolina por sobre a cabeça e deixou que toda a roupa ficasse embebida. Riscou o fósforo e mandou ver. Rapidamente – mas não tão rápido assim – pessoas logo vieram socorrer, tentando abafar o fogo da imensa fogueira viva em que ele se transformara. O enxame de seres humanos que fervia nas calçadas parou para contemplar todo o espetáculo. Depois, famigeradas equipes de TV tentavam explicar o que é tão difícil, e fotógrafos amadores procurando o melhor ângulo para registrar o evento. Helicóptero. Hidrante. Tarde para socorrer. Cedo pra explicar.
IML – RJ. Trabalho de identificação do cadáver. Sobrou algo. Havia digitais pra contar a identidade. E havia uns poucos pedaços intactos de pele branca tatuada. Num deles a inscrição “a vida é fogo”. A vida é fogo: estava escrito com tinta preta esverdeada e com um jeito de amor em fragmento, meio que em forma de reclamação, meio que em forma de homenagem ao fogo. O amor – vislumbrado como loucura – a alimentar, como um combustível renovável, essa porra toda, maravilhosa. Essa vida que é fogo. Love, peace and desire.


Luciano Fortunato.
Em uma semana, dia 23/11: "Hoje eu acordei no cio, o cheiro da tua roupa ainda vai me levar a loucura, na beira da tábua eu já tô..." TESÃO ENRUSTIDO, de Danielle Ribeiro.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Sabão de Côco

Corrí pra janela rezar quando vi a lua cheia me lambendo o cóccix nessa noite calorenta do hell de jano, sei que o mar, aquele infinito limpador de almas deve estar numa espécie de máquina de lavar carregando meus desejos-impecilhos pra áfrica (é o lugar mais longe que pude pedir, na verdade seria ótimo, porque aí minha mãe mandava um afago nas minhas costas direto de suas entranhas para dentro das minhas raízes) e minha vontade é de que meu coração se acalme, é, sempre peço calma para ele porque não agüento mais esse descompasso, esse signo que ataca ferozmente meu estômago como um câncer, que de fato é o signo que me rege, peço que eu saiba o que será de mim quando a tarde terminar assim e que eu pare de despejar palavras doces e bonitas pra homens que merecem tanto, porque eu quero escutar palavras doces e bonitas dos homens que me merecem tanto, eu tenho escrito muito sobre meu coração, gostaria de escrever sobre carros, confeitos, pombos e avenidas, mas na velocidade que minha cabeça anda, e em como eu me sinto uma criança atrapalhada quando abro a boca, tenho medo de ser uma falsa paris, um falso glamour, um asfalto há muito não olhado com vontades, é, eu sei escrever sobre carros, confeitos, pombos e avenidas sim, agora é noite e para ser mais precisa nesse meio do texto já são vinte-e-duas-e-um e a tarde assim aqui é assim mesmo, lá no fundo as crianças brincam e se perguntam secreta e telepaticamente sobre os mistérios do planeta, na verdade elas participam sendo o mistério porque crescem e se negam a dar as respostas já que quando a gente fica esticado na idade vai encurtando a liberdade em averiguar porque as baratas que são tão pequenas e nojentinhas sobrevivem às bombas nucleares (o que quer que sejam bombas nucleares) e as pessoas não, elas-crianças conversam sobre as respostas corretas e deus sabe como seria bom ser curto na idade pra me lembrar dos enigmas do ser-feliz, ainda saber do leve, do pisar macio, do velocípede rapidão e de olhar diretinho pro sol com pescoço em riste sem medo ficar ceguinho, eu olhei pela janela e a lua já subiu até onde meu olhar alcança, senti o balançar da última lavagem do dia e tá agora escorrendo tudo pelo cano de limpeza, ficou branco de repente, meus pés pisaram em solo sagrado e senti o amparo dos seios fartos cheios d’água amniótica me embalando pelo dorso. e amanhã, amanhã quando rebentarem-se as águas que eu saia na velocidade da luz pra nascer em novos desejos e medos.

Danielle Ribeiro.
Próximo domingo, dia 15/11: "Ele queria ser uma estrela de fogo, recusando-se a uma vida (morte) comum, com seus crediários, sermões, noticiários forjados..." A VIDA É FOGO, de Luciano Fortunato.

Noite No Botequim

Paulo Roberto é um rapaz normal. Neurótico como a maioria. Obsessivo como a maioria. Enfim, normal. Tem por costume, assim como todos os obsessivos normais, comparecer aos antros e vias noturnas da boemia fluminense. Torce, por coincidência, pelo time de nome já citado. O que o torna um nativo na linguagem do sofrimento humano, e um praticante semi-profissionalizado e passivo do escárnio futebolístico. Bem. É um rapaz normal como já foi dito.
E como todo rapaz normal, tem muitos amigos normais. Dentre eles, Luiz Guilherme e Pedro Felipe são seus companheiros mais fiéis na arte de se manejar o copo. Têm por hábito o consumo de toda sorte de substâncias tóxicas, e até onde sei, lícitas, em suas jornadas noturnas enquanto debatem e fazem das mesas de botequins e pés-sujos sedes de seminários internacionais dos mais variados campos do conhecimento humano: de filosofia agostiniana, à visita aos clássicos da política, até discussões acaloradas sobre quem ocupará a vaga de Roberto Carlos na lateral esquerda da seleção. Conheciam tanto a noite, que eram daqueles que, mesmo variando de bar, já tinham pelo menos dois afilhados, cada um, entre os filhos dos garçons da região.
Numa destas noites, Paulo Roberto e seus amigos se instalaram num boteco novo, de cujo dono ainda não conheciam. Resolveram experimentar, já que o cenário e as personagens, inclusive as femininas, de tão batidos, já não suportavam novos relacionamentos fugazes, o que por vezes, os obrigava a encararem falsas promessas de telefonema num mesmo ambiente. E nesse novo estabelecimento teriam a vantagem de, por uma noite, se liberarem dos compromissos outorgados por anos de boemia gratuita.
O dono deste novo lugar percebendo a presença de novos clientes se aproximou e com cordialidade deu as boas vindas:
- Boa noite. Fiquem à vontade.
Pedro Felipe de pronto perguntou:
- Tudo bem. Lugar legal. Como se chama?
- Ta escrita lá na frente.
- Não. Hehe... O que ele quis perguntar era qual é o nome do senhor. - Argumentou Paulo Roberto, meio sem jeito.
- É Salim.
Perceberam então, que se tratava de um senhor, provavelmente imigrante vindo do oriente, o que denunciava seu sotaque, talvez árabe ou semita. E que respondera de certa forma atravessada.
- Que figura esse Salim. – Comentou Luiz Guilherme.
Depois de alguns chopes, e alguns graus de álcool no sistema nervoso, os três, em movimento sincronizado, avistam numa mesa próxima, o cabalístico número de três belos exemplares do sexo feminino e sorridentes e falantes e provavelmente bêbadas e certamente desacompanhadas.
- Oi, acho que vocês nunca vieram aqui, né? – Perguntou cheio de ousadia Paulo Roberto.
- Como assim? – Retrucou a mais ébria – A gente sempre vem aqui! Vocês é que eu nunca vi por aqui.
- Proa da fragata! – Pensou ele ao constatar um forte indício de que elas os haviam percebido no ambiente.
- Não, peraí... Você eu nunca vi, mas o seu amigo, eu acho que conheço de algum lugar. – Em Niterói isso é natural, quase regra – Você fez inglês onde?
- Nunca fiz inglês – Respondeu imprudentemente Pedro Felipe. – Mas fiz espanhol. Serve?
- Água! – Exclamou internamente Paulo Roberto ao perceber o interesse dela por Pedro Felipe. – Mas vem cá... Qual é o nome de vocês?
- Maria.
- Helena.
- Janaína.
Como que por uma propriedade estranha ao conhecimento de Paulo Roberto, os nomes de cada uma, assim que proferidos de suas bocas, eram imediatamente apagados, e no lugar de tais importantes informações, apenas restavam borrões.
- Prazer, Paulo Roberto.
Os outros também se apresentaram.
- Vamos juntar as mesas? – Botou logo pra fora, o nosso herói.
Os três já bem acomodados iniciam a conversa, na qual descobrem uma série de ligações e pessoas em comum, lugares onde estudaram ou onde conhecem pessoas que estudaram na mesma época, bares que freqüentam em comum ou que recomendam, além de outros temas também comuns. Depois passaram às preferências pessoais. Como que time torcem, se acreditam em óvnis, se votam ou não no Lula e polêmicas desse tipo.
O flerte neste momento é tácito, porém escancarado. A grande questão a essa altura é saber quem será de quem, já que as três parecem interessadas e são de beleza exuberante, cada qual a seu modo.
- Sabia que Paulo Roberto uma vez fugiu da escola por causa de uma menina?
- Puta que o pariu! Lá vem essa história... – Xingou o Luiz Guilherme mentalmente Paulo Roberto.
Esse assunto, todos sabiam, era o sinal para a declaração de guerra.
- Conta!
- Bem. Ele gostou de uma menina na oitava série, mas não tinha coragem de se declarar, então mandou um monte de poesias. Pois é, ele escreve poesia! Ela ficou toda boba, mas não sabia quem as havia mandado. Um amigo nosso, de sacanagem, um dia ameaçou contar pra ela e começou a escrever o nome dele pela escola em lugares escondidos e mandou que ela procurasse a fim de saber quem era o tal admirador.
- Gente, que maldade! – Interveio Helena.
- E você não viu nada. Nessa hora que ela começou a procurar, as pessoas iam atrás perguntando o que estava acontecendo, e com isso partiam para a procura também. Virando assim uma espécie de gincana. Em determinado momento havia umas cinqüenta cabeças procurando o tal nome. Isso foi criando nele um desespero tamanho, só agravado quando as primeiras pessoas começaram a encontrá-lo, que Deus sabe como, estava escrito no teto de uma das salas de aula, atrás do ventilador. Ao ver que alguns já o procuravam pra questionar por que ainda não se declarara e outros já comentando se a menina deveria ou não ficar com ele, não agüentou a pressão a que essa situação o submetia. Fugiu. Saiu correndo ao imaginar todas aquelas mais de cinqüenta pessoas e mais sua musa, aquela pela qual suas pernas bambeavam, sua boca secava e suas palavras se cortavam tomando conhecimento da identidade de seu admirador e estar ali, cara a cara com a realidade que se tornara então insuportável. Inventou que estava doente, forjou uma autorização de improviso, e o porteiro, ao vê-lo em tal estado de palidez, o liberou.
- Ah, meu Deus. Coitado!
- Dizem que depois da fuga ele foi avistado no Orquídea solitariamente bebendo stanhagger à seco.
Depois de ter voltado a viver toda aquela humilhação numa mesa de bar com mulheres bonitas que até então demonstravam algum interesse por ele, Paulo Roberto tentou amenizar:
- A parte do Orquídea é mentira!


Bruno Dutra.
Na próxima semana, dia 08/11: "(...)não agüento mais esse descompasso, esse signo que ataca ferozmente meu estômago como um câncer...". SABÃO DE CÔCO, de Danielle Ribeiro.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Casa Na Montanha

Leoni - A Casa Na Montanha
Eu fiz bem lá no alto da montanha/Mais alta, mais distante das cidades/A casa-esconderijo das saudades./Pensei: nenhum problema mais me alcança./Nem cartas, nem notícias, nem desgraças,/Nem dívidas, nem falsas amizades/Vão ter nem ousadia, nem vontade/De vir me ver. já nada me ameaça./Mas, eu só percebi quando era tarde/Depois que eu acionei os meus alarmes,/Depois de por a tranca no portão,/Que eu me tranquei sozinho com o inimigo/Que vai passar a vida aqui comigo/Vivendo do meu medo e solidão.

Não precisamos, não podemos e não adianta se esconder dos problemas e dos perigos!Mas não confundamos esconder-se, de esquivar-se.Ao invés dos problemas deixarem as pessoas enfraquecidas, eles acabam (ou deveriam acabar) fazendo fortalecê-las!Sim!Enfrentamos os problemas, tornemo-nos fortes!Não adianta trancar-se, confinar-se, fazendo isso, fica mais perto do inimigo, e isso não garante maior facilidade na solução dos problemas!Acho que ninguém quer se trancar com um monstro chamado “aporrinhação", não?Então, respiremos o ar puro da rua, sejamos livres!Livres pra combater os problemas com espaço, com afastamento, por que não, o afastamento não garante dificuldade na solução dos problemas...Enfim, vivemos. Nos "ocupamos" e não "preocupamos"!


Diego Sandins.
Semana que vem, dia 02/11: "Numa destas noites, Paulo Roberto e seus amigos se instalaram num boteco novo, de cujo dono ainda não conheciam. Resolveram experimentar..." NOITE NO BOTEQUIM, de Bruno Dutra.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Rogando Entre Nós

Por que nós nascemos? Por que tantas pessoas são diferentes? Por que umas pessoas nascem privilegiadas e outras não? Por que a Revolução Francesa não serviu de nada? Por que pessoas acham que vão para o céu por ajudar os que precisam? Por que outras pessoas acreditam ser escolhidas por Deus? Por que precisamos crer em Deus? Por que debochamos da ingenuidade alemã diante da filosofia nazista e continuamos a crer religiosamente na Globo? Ou na Veja? Ou na Record? Ou no Silvio Santos? Ou em Marx? Ou no que nós escrevemos aqui? Por que precisamos de um amor? Por que precisamos dar amor? Por que o Collor foi eleito... e reeleito? Por que as pessoas vivem? Por que acreditamos em respostas sem sentido? Por que não há sentido? Por que nos achamos racionais? Por que comemoramos um gol? Por que eu sou vascaíno se meu pai era botafoguense... e minha mãe tricolor? Por que os velhos só agora reclamam? Por que os novos não quase sempre obedecem? Por que eles têm juízo? Por que não temos paz mundial? Por que só mulheres venezuelanas se preocupam com isso? Por que mandamos militares ao Haiti? Por que eles acreditam no nosso altruísmo? Por que nós acreditamos que somos altruístas? Por “quem” os militares morrem? Por que achamos que basta bater palmas? Por que os carros poluem? Por que os carros são caros? Por que há milhares explorados pelas produtoras de automóveis? Por que eu quero comprar um carro? Por que as prostitutas alugam seu corpo? Por que achamos imoral? Por que eu quero transar com elas? Por que você me criticou automaticamente quando leu isso? Por que somos hipócritas? Por que temos que agradar? Por que temos medo? Por que causamos medo? Por que não há respostas? Por que há tantas perguntas? Por que eu envelheço e fico experiente? Por que não há experiência quando há energia e tempo para usá-la? Por que minhas experiências não valem de nada? Por que deveriam valer se vou morrer? Por que ainda erro? Por que há o certo? Por que você não se preocupa comigo? Por que não nos conhecemos? Por que você vai morrer? Por que devemos fazer coisas boas? Por que precisamos aceitar verdades? Por que devemos crer no inferno para sermos bons? Por que não podemos ser bons? Por que não podemos ser maus? Por que meu time tá na segunda divisão? Por que o Dunga é técnico da seleção? Por que isso me preocupa? Por que me desviam a atenção? Por que deixo desviarem minha atenção? Por que eu tenho preguiça para trabalhar? Por que eu não recebo um salário justo? Por que me dizem que devo agradecer por ter um emprego? Por que devo rezar e agradecer por ser explorado? Por que eu creio que alguém me escuta? Por que Deus apontou para o Romário e o encheu de dívidas? Por que nada é nossa culpa? Por que os assassinos (e os pastores) culpam o diabo? Por que pessoas acreditam nele (no assassino)? Por que pessoas acreditam nele (no diabo)? Por que pessoas acreditam nele (no pastor)? Por que os norte-americanos podem lançar bombas no Oriente? Por que o Obama não pode olhar pra bunda de uma brasileira? Por que dizem que a bomba de fusão é a melhor arma? Por que a Bíblia foi democratizada? Por que não a proibiram em Genebra? Por que o homem quer fazer o que der na telha? Por que achamos que isso é que é ser livre? Por que há tantos conceitos? Por que não acreditamos em nós? Por que temos medo de nós? Por que votamos para pessoas como nós dizerem o que devemos fazer? Por que alopramos quando somos revistados pela polícia? Por que a chamamos quando queremos que alguém seja revistado? Por que está cansado? Por que não descansa? Por que eu e meus amigos acreditamos na diferença que podemos fazer nesse blog? Por que eu quero fazer a diferença? Por que então já fui chamado de niilista? Por que não desliga o computador e vai dormir?

Ulisses Figueiredo.
Próxima segunda, dia 26/10: "Não adianta trancar-se, confinar-se. Fazendo isso, fica mais perto do inimigo, e isso não garante maior facilidade na solução dos problemas!" A CASA NA MONTANHA, de Diego Sandins.

domingo, 18 de outubro de 2009

Abrir a Felicidade? (parte final)

Confesso que fico feliz quando abro uma Coca-cola com garrafa de vidro. Há estudos sobre o papel das marcas no mundo contemporâneo e seu papel na felicidade das pessoas que confirmam o que eu estou falando, o que não faz de mim um louco varrido por me contentar com uma coisa tão pequena como abrir uma Coca-cola. Sou apenas mais uma vítima do mercado mundial. Há muitas coisas bem baratas que me trazem contentamento psicológico – que é o único contentamento que existe –, como abrir uma Coca-cola, alugar um filme na locadora, comprar um CD e ouvir as músicas que estão nele, comprar um livro e ler o que nele está escrito, sabendo inconscientemente de antemão o conteúdo, pois muito do que se lê nos livros já se sabe. Quase sempre assim: comprar, comprar, comprar. Mas como eu faço para comprar as felicidades mais caras – aquelas que só as pessoas da parte de cima da pirâmide social podem comprar... O sol nasce para todos? Tá legal. Alguém hoje em sã consciência realmente se satisfaz com essa informação, de que o sol nasce para todos? Entramos então naquelas velhas novas anedotas: “O que você prefere? Aproveitar esse sol que nasce pra todos, de pés descalços com uma enxada nas mãos, longe da sombra num sertão sem nuvens, ou ainda na sombra quente e insalubre de uma fábrica, fazendo hora extra, ou preferiria olhar para esse sol com óculos escuros de dentro de uma Mercedes Benz conversível, com uma bela e despreocupada mulher ao seu lado numa estrada paradisíaca?”.
Seria a Coca-cola um deus? Sei lá. De qualquer forma, Deus abençoe a Coca-cola! A felicidade vinda desta bela garrafa com seu belo rótulo vermelho, me custa apenas duas moedas. Quanto ao feio líquido negro que vem dela, que mais lembra suco de petróleo ou de cocô? Ah, isso é o que menos importa. E quando Ele, Deus, puder dar uma olhadinha nos trabalhadores rurais, operários e todos os pobres compradores de aparelhos de TV e de garrafas de Coca-cola... Que não falte comida barata, diversão barata e arte barata aos pobres do mundo.
Tudo o que eu escrevi nos parágrafos anteriores está impregnado de ironia e tristeza, isso parece claro. Houve, porém, um intervalo entre o tempo em que eu os escrevia e o instante imediatamente atual, este aqui. Não fui assistir TV. Mas fui tomar um banho em chuveiro quente – uma dessas maravilhosas invenções que só puderam ser disponibilizadas a todos, graças ao nascimento e desenvolvimento da burguesia capitalista industrial. Botei uma confortável blusa de lã, meu jeans, meus velhos tênis adidas, e fui até o meu quintal, de onde vislumbrei as discretas montanhas do meu bairro com suas casas, do outro lado da ferrovia. Olhei pra minha garagem, pro meu carrinho velho e tosco, mas, no fundo, simpático e funcional, e pensei se eu precisaria mesmo de um Mercedes. Voltei do quintal mais animado. Minha doce e atenciosa esposa – uma mulher boa, porque é, entre vários atributos, uma boa lutadora – passa álcool no telefone. Puxa vida... Chuveiro, ferrovia, telefone... este computador aqui... tudo isto advém do tal capitalismo industrial. Talvez eu ame o capitalismo mais do que presuma. Esse amor pode trazer na bagagem toda essa minha carga de ódio. Amor e ódio são irmãos em luta. Quem afinal não gosta disso tudo que nos rodeia? Quem não gosta da TV? Bobagem. Todos gostam, ainda que alguns não admitam ou não saibam. E todos gostam da idéia do grande e delicioso bolo – aquele quase mítico bolo que deve crescer pra depois ser distribuído. Eu queria apenas que o bolo fosse mais igualitariamente dividido. Eu queria uma fatia maior para mim e os meus. Uma fatia mais justa e mais irmã para todos. Mas, enquanto o bolo não chega... Vamos trabalhando e vivendo o prazer das “pequenas coisas”. E, pieguice ou não, o sol nasce pra todos, sim. Abrir a janela e ver a luz do sol é, na verdade, abrir a felicidade. E nada contra a minha querida Coca-cola. Até porque não posso contra ela.
Luciano Fortunato.
Próxima segunda, dia 19/10: "Por que as prostitutas alugam seu corpo? Por que achamos imoral? Por que eu quero transar com elas? Por que..." ROGANDO ENTRE NÓS", de Ulisses Figueiredo.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Abrir a Felicidade? (parte II)

Estou aqui. Tentando me distrair com arte e afins. Tentando extrair um mínimo de satisfação da arte. Música e artes visuais. São elas, as artes pop, a minha religião, onde me refugio tentando satisfazer meu não-sei-o-que. Satisfação. Alguém, em algum dia, provavelmente uma bactéria, inventou que satisfação é o que de fato importa na vida. A luta por satisfação pode ser vista no comportamento de qualquer inseto, planta ou micróbio. E de lá pra cá – desde as bactérias primordiais – isso é tudo o que buscamos. Satisfação pode ter como sinônimo a palavra felicidade. Antigamente, que eu me lembre, o slogan da Coca-cola era um simples “Coca-cola é isso aí”. Como é que alguém conseguia vender um produto dizendo sobre ele apenas “... é isso aí”? “É isso aí” pode ser, na verdade, a expressão máxima irredutível da afirmação do ser. Era eu um menino, e no dia em que eu ganhei uma camisa da Coca-cola, numa tampinha premiada, pensei, sem ter feito a formulação em si, mas pensei: “eu sou”. Nada mal o trabalho daqueles marqueteiros. Depois vieram outras frases ainda bem interessantes como a recente “Viva o lado Coca-cola da vida”. Mas nada supera e consegue ser mais pesado e contundente que o novo slogan. E eles pegaram bem pesado desta vez: “Abra a felicidade”. “Abra a felicidade”, este é o novo slogan da multinacional. Num mundo que busca a felicidade como algo a ser conquistado imediatamente – uma felicidade fast food – nada poderia ser mais oportuno que essa nova campanha. A felicidade nunca esteve tão barata: o preço de uma Coca-cola. São os truques, os mecanismos do capitalismo para multiplicar seus ganhos e manter o povo anestesiado. É um grande barato. Há muitas coisas baratas. Somos idiotas felizes com uma bebida barata, e todos os tipos de felicidade forjada e barata, como um crediário a perder de vista para comprar uma nova TV, e assim poder ver nela, em bom vermelho, o rótulo do refrigerante. A felicidade que vem da TV às vezes é mesmo muito barata, como esta coisa, essa possibilidade de extraí-la de dentro de uma garrafa como se uma lâmpada maravilhosa fosse. Porém o eterno e aparentemente imortal americam way of life trazido pela televisão não é tão barato assim. Há um vasto repertório de sonhos pré-fabricados que não saem nada barato para os pobres do mundo. Há muitos sonhos caríssimos. Sonhos impossíveis. Sonhos que eram inconcebíveis antes do advento da comunicação de massa. Sonhos que eram insonháveis e que agora habitam nossas almas. Burguesia e plebe sonham juntos os mesmos sonhos, porém só a primeira tem poder para realizá-los a contento, transformando-os em, mais do que sonhos, projetos de vida.
(Última parte em 2 dias...)
Luciano Fortunato.
Próxima segunda, dia 19/10: "Por que as prostitutas alugam seu corpo? Por que achamos imoral? Por que eu quero transar com elas? Por que..." ROGANDO ENTRE NÓS", de Ulisses Figueiredo.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Abrir a Felicidade? (parte I)

Estou aqui. E estar aqui é doce e amargo. Pronto. Lá vem um desses cronistas depressivos pra baixar ainda mais o astral nesse invernozinho gripado e pouco contente do Rio de Janeiro, pensarão. Realmente, o que estou matutando pras próximas linhas tem contra-indicações, e é mais dor que sorriso. Se “a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes”, como cantou de forma provocante Humberto Gessinger, eu não sei. Assim como não sei de muita coisa. Só sei que estou mergulhado numa das minhas confusões de existir. Amargo, tentando não perder o que me resta de doçura.Tenho, no decorrer da minha vida, aprendido a apreciar o amargo e também a me enjoar fácil do que é doce. Estou aqui nesta vida e neste mundo, e minha cabeça não mais vive tanto em outros mundos. O meu “algo além” não ultrapassa mais a estratosfera. Hoje pouco penso em astronomia, na organização dos astros – não que isso não mais me importe em definitivo. Os meus predadores, eles fazem-me ficar mais pra caverna do que pra céu. Quem são os meus predadores? São aqueles mesmos que me deram a vida e me ensinaram sobre a vida: os atores sociais. A sociedade é o deus dos deuses. Ela é quem nos faz ser e deixar de ser. Ela é quem nos ensina tudo o que sabemos e nos faz desaprender o essencial. Ela é quem nos torna confortáveis, “sociáveis”, e, ao mesmo tempo, nos deixa sem jeito, sem graça, com mal estar de ser. Ela e seus dogmas morais impossíveis de serem cumpridos com gosto. Ser imoral é estar vivo. E ser vivo é sofrer sanções de variada sorte.
Eu nunca tive paraíso, nem hipotético. Eu nunca acreditei em céu. E também nunca cri em inferno. E também nunca cri em formas absolutas de bem viver. Me fizeram pensar que eu pudesse acreditar nessas coisas. Creio que, na verdade, nunca acreditei em nada. Acho que eu fingi durante muito tempo – pra mim mesmo – acreditar. Mas isso já faz alguns anos.
Resta-me então agora olhar para o micro. A vida pequena e funcional. A cozinha, a sala, a cria, a companheira, os amigos, o umbigo: estas são as coisas às quais devo me ater. Verdade absoluta? Deus? Satanás? Espíritos? Big Bang? Galáxias? Creio que já gastei tempo demais com isso tudo. E, no entanto agora, o que entra no lugar de Deus e das Galáxias? O dinheiro? Não. Deus saiu e o dinheiro não entrou. Isso me deixou vazio de tudo, cheio de questões e formulações incompletas, que são como vapor de éter. Não guardo comigo as coisas que mais protegem um homem, são estas dinheiro e Deus. Sinto-me então às vezes como um pequeno homem solitário num pequeno barco, num grande mar, à mercê do tempo. Meus braços até têm alguma força para remar, mas a terra firme está longe demais. Minha vida é incontinência. Cansaço em descansos compulsórios.
(Este texto terá a continuação em 2 dias...)

Luciano Fortunato.
Próxima segunda, dia 19/10: "Por que as prostitutas alugam seu corpo? Por que achamos imoral? Por que eu quero transar com elas? Por que..." ROGANDO ENTRE NÓS", de Ulisses Figueiredo.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Meu Coração Anda Pensando Agora

Meu coração anda pensando agora, ele sai da minha cabeça e não da minha caixa torácica. Quero celebrar guerras novas, torturas novas, amores novos, novas torres caindo, novos deuses sendo derrubados, bigodes aparados com outras navalhas e outras navalhas na carne, quero novas doenças para desafiar as velhas curas, novos desastres, a natureza se vingando de outras maneiras, novas espécies de flores, novas crianças em novos parquinhos, novos ungüentos, nova educação, novas tecnologias e preços de passagens aéreas sem queimas... nem de estoque, nem de gente. Gostaria de supor que na manhã depois da trepada e do sono, às vezes ele vinha e me abraçava com seu hálito prolixo num meio de noite, gostaria de supor que não estivéssemos tão absorvidos pelo torpor do desconhecimento daqueles nossos corpos, mas que isso não importava porque nos encaixamos perfeitamente e isso não era compromisso, era só questão de carne boa pra comer, cabeça boa para que eu ficasse tão desconcertantemente amedrontada e feliz de ficar quieta e apenas olhando a profusão das palavras e gestos leves, como as mãos, os dedos gélidos e macios, sabonete que livra impurezas, mas conserva o cheiro do fumo califórnia, bastava isso e outra xícara de café pronto em pó que ele deveria arriscar fazer melhor. Quero novos lugares descobertos nesse e noutro mundo, novos teatros, novas rugas e tenho que lidar com as velhas, novas estrias em novas fotografias, novas partes do meu corpo em pedaços inimaginavelmente mostrados pra você, novas drogas em novos chás e em novas fumaças e porque não, debaixo de novas línguas?, quero a morte de Caetano e Gil, de Sandy e Junior, de Jose Saramago e quero Cem Anos de Solidão para quem não conseguir decifrar seus próprios pergaminhos. A musica do André tamborilando no cara já suado as seis da manha no final da linha do trem, seus dedos calejados e firmes, na boca da dona de casa sonhadora e da novinha que só vai no show dele porque ele é um gatinho, a direção de Ticiano em diversas línguas, porque é um homem milenar, aprendedor e sábio, do mondo e de seus redemoinhos e sibilações, quero minha bailarina sílfide dançando em cima de todos os rios, pontes e overdrives empunhando sua sobrancelha no céu e se curvando diante da sabedoria das lanças, nas quais também nos curvamos todos. Meu coração anda pensando agora, quero ter muitos olhos e muitos filhos, novos olhos e novos filhos, mergulhar em novos mares, sem me esquecer que aprendi a nadar no velho. Quero que esse texto não se pareça com a musica que Elis cantou, querendo uma casa no campo, porque eu quero a paulista e novos dreads em parceria com olhos azuis que talvez amanhã já me apagaram de seu mundo boniot y extrovertiod. Tudo pode até ser reciclado, desde que seja parido com a verdade das coisas secretas e verdadeiras de indícios de que ali jaz o morto e da bosta nasceram flores. No casamento do novo o velho se faz uma concubina necessária e diária para martelar em dedos vadios e deselegantes a promessa de deitar naquela rede de moleza uma alma-de-púcaro.
Levanta-te e anda.


Danielle Ribeiro.
Próxima semana, dia 12/10:"Deus saiu e o dinheiro não entrou. Isso me deixou vazio de tudo, cheio de questões e formulações incompletas, que são como vapor de éter." ABRIR A FELICIDADE?. De Luciano Fortunato.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tipos Ideais

Existem três tipos de pessoas (dentre os outros infinitos tipos): os fisiológicos, os ideológicos e os orgânicos.
Os fisiológicos são do tipo mais comum. Sua forma de ver o mundo pode ser expressa pela frase: “amo muito tudo isso”. Suas profissões são bem variadas, indo desde altos executivos, empresários, políticos, economistas, até a vendedores ambulantes ou psicólogos.
Caracterizam-se pela falta de personalidade, ou à presença de “personalidade” com uma grande tendência fetichista, como, por exemplo, em colecionar toda sorte de coisas ou se entusiasmar pelas modas mais atuais possíveis. Em geral, não reconhecem no seu trabalho a satisfação em si mesmo, mas o utilizam como forma de atingir fins outros, status social ou simplesmente o vêem como forma de ganha-pão sem qualquer crença na razão social ou ideológica dele.
Sua relação com algum sistema de crenças é o mais variado possível. Mas por mais que creia no transcendental, ele de modo algum ou apenas superficialmente transformará sua forma de enxergar e/ou agir na sociedade, tão somente se adaptará e continuará na mesma maneira em que aprendeu a viver.
Este tipo é o grande responsável pela reprodução dos valores e instituições sociais, bem como do próprio sistema capitalista, devido principalmente à sua ânsia consumista. Em relação aos problemas e mazelas sociais, prefere crer nas soluções mais abstratas e complicadas, como o “fim da violência” ou a “paz mundial” através da conscientização dos outros, do que nas ações na vida prática e política. Tirando de si mesmo a responsabilidade nas preocupações políticas, transferindo a culpa cristã ao Estado e governo onde a política se faz num terreno distante e de onde seus ouvidos cansados de mais um dia de trabalho não merece tomar contato com tão baixa e vil natureza, para tão somente viver o mundo imaginário das revistas de moda, do mundo dos carrões, das festas aristocráticas ou de outras tantas frugalidades escapistas.
Os ideológicos são do tipo mais incerto e perigoso. Podemos encontrá-los em diversos lugares, como nas igrejas, mosteiros, partidos políticos da esquerda ou da direita, nas academias, nas juventudes mais pensantes e passionais, escritórios de advocacia, casas de família.
Caracterizam-se principalmente por suas ações de caráter de extrema moralidade. Agem e tão somente o fazem com o prévio consentimento de sua consciência. Têm em sua vida interior uma constante busca por uma legitimação filosófica de sua forma de se postar ao mundo.
Em geral já a encontraram, mesmo aqueles que mudam o pensamento na mesma velocidade com que respiram, sempre dirão que já a encontraram. E mesmo aqueles que nunca transformaram sua cosmovisão, vivem na incessante e constante tentativa de cimentar sua construção de tijolos ideais.
É aí que se encontra a face perigosa dos ideológicos. Pois o esforço que despenderão com toda sua energia será tão somente no sentido de legitimar sua moral, sem a qual, é o que me parece, cairiam em depressão profunda e secarão como uma flor não regada. E assim, ao invés de estarem comprometidos em descortinar as ideologias, sejam elas quais forem, e buscar estarem mais próximos da realidade das coisas, ao invés disto, serão capazes das mais diversas atrocidades, violências e arbitrariedades contra qualquer um que seja e/ou até contra si mesmos.
Caracterizam-se também pela extrema dificuldade com o diálogo. Não que tenham problemas com a conversação social, mas o empecilho maior está na aceitação do que é idéia externa a eles mesmos. Pois o fardo da auto-legitimação é de tanto peso que são capazes de toda a sorte de operações sofismáticas como estratégia de uma enganosa sensação de segurança filosófica em sua rígida moral. Os ideológicos são cegos por natureza, pois necessitam daquilo que não tem matéria, daquilo que é só uma fraca metáfora da realidade, para agüentarem o peso fatídico da consciência de sua própria morte.
Os de tipo orgânico são os mais raros. Basicamente são a negação dos tipos anteriores e a positivação e aceitação, sobretudo o espírito de investigação do que é real e constitui o mundo e si próprios.
Os orgânicos podem errar. Não se abatem ou se se abatem se levantam e tentam novamente. Pois sabem que podem transformar o mundo, mas que não precisam ter a fórmula certa de agir, ser ou pensar, nem sustentar alguma que não possa ou deva ser mudada diante da matéria real que lhe grita.
Principalmente negam o medo. Estão em constante mudança, e se sentem confortáveis com o desconforto perpétuo das incertezas e do princípio da dúvida que caracteriza a boa intelectualidade. Assim, botam à prova a cada momento todos seus sistemas de valores e crenças. Mesmo aqueles mais profundos e arraigados, alguma vez já questionaram.
Eles sabem que o mundo e si mesmos são fluidos e se transformam com tal dinâmica que só a mais simplória humildade os torna capazes de entendê-lo, nem que seja por alguns poucos e parcos momentos, mas não menos preciosos por isso.
Podemos encontrá-los em qualquer lugar a qualquer tempo, mas dificilmente saberíamos que estão lá. Pois são raros como diamantes, mas quando surgem fazem do mundo um lugar melhor.


Bruno Dutra.
Na próxima semana, dia 05/10: "Quero celebrar guerras novas, torturas novas, amores novos, novas torres caindo, novos deuses sendo derrubados..." MEU CORAÇÃO ANDA PENSANDO AGORA, de Danielle Ribeiro.

domingo, 20 de setembro de 2009

Para Não Morrer Com A Gente

Edson Conceição E Aloísio - Não Deixe O Samba Morrer
"Não deixe o samba morrer/Não deixe o samba acabar/O morro foi feito de samba/De samba pra gente sambar/Quando eu não puder pisar/Mais na avenida/Quando as minhas pernas/Não puderem agüentar/Levar meu corpo/Junto com meu samba/O meu anel de bamba/Entrego a quem mereça usar/Eu vou ficar/No meio do povo espiando./Minha escola perdendo ou ganhando/Mais um carnaval/Antes de me despedir/Deixo ao sambista mais novo/O meu pedido final/Não deixe o samba morrer"

Pode parecer que eu falo de fim, mas não...O meu fim é falar de algo que começa e não acaba.Somos o que fazemos. Somos aquilo que nos predispomos a fazer para que nossa existência não seja nula, inútil.Não falo no sentido de futilidade.O sentido é: que adiantaria fazermos coisas formidáveis só para si mesmo?Me diz... Você regaria uma flor que só você pudesse sentir o aroma? Plantaria uma árvore que só você pudesse usufruir do árduo trabalho dela de limpar o ar que você respira? Ou mesmo pintar um quadro que só você pudesse ver?Não... Não ia.Também não estou falando de "voluntariado" pura e simplesmente.É uma coisa conjunta, contínua, você faz para os outros também, mas você é participante, é um andar junto, produzindo junto.Se fazemos samba, é pra que a gente sambe, como sugere a música.Formular ideias, realizar ações positivas, ajudar, compartilhar, cooperar, tudo isso deve ser conjugado. Essa é a essência.Fazer com que após a uma conversa, uma outra pessoa pense no que você falou, reflita e diga: “é... isso faz sentido, por que não pôr em prática?", falar: "essa conversa não me fez gastar tempo, me fez ganhar tempo!", "ih... não é que eu posso usar isso na minha vida?".Sem notar, (a princípio, pois, como o tempo você acaba notando, óbvio) você vai propagando uma chama... plantando uma semente. Fazendo com que seus esforços não sejam em vão, que suas ações encontrem moradia no peito de
outras pessoas, contagiando outras e outras.Contagiar! Você agir para que o que você quer de bom, as ideias, as vibrações, o que você quer mudar de errado, o que quer manter (e por que não aumentar, ou melhorar ainda mais?) de bom.Contagiar para que quando você estiver sem forças, quando estiver na parte de baixo da roda gigante ou desmotivado, sempre tenha alguém para contagiar você. Que as pessoas sintam que sua existência não foi em vão, e que através de você, muitas coisas aconteceram, você foi importante para uma pessoa, para muitas delas. Para que no dia que você não existir como corpo vivo, sua alma esteja viva naquilo tudo que você deixou.Quando não puder desfilar na avenida da vida, poderei sentir que a samba não atravessará, pois parte do coro, fará parte de mim, terá gente mostrando no pé, o que passei tentando passar; e em algum lugar estarei dando minhas batidas no repique, que só foi possível porque muitos outros assim tomaram essa batida.Ao contrário do que o título sugere, prefiro não falar no passado, acho que falar no presente é mais compatível.Só para reforçar, eu não sou nem quero ser “a única voz da razão", mais do que ensinar algo, estou aqui para aprender. Para receber e passar as jóias, e não somente bijuterias... entregar para quem merece usá-las e tentar ser merecedor delas também.Meu pedido final, para mais novo e mais experiente sambista, letrista, turista, artista...... para “a gente" é:Não deixe o samba morrer......deixe a morte sambar!



Diego Sandins.
Próxima semana, dia 28/09: "...raros como diamantes, mas quando surgem fazem do mundo um lugar melhor." TIPOS IDEAIS, de Bruno Dutra.

sábado, 12 de setembro de 2009

Pedra Angular

Sabe qual é o melhor momento para se fazer reflexões sobre esta merda de sociedade em que vivemos? Na madrugada de domingo pra segunda!! Esse é o momento no qual você se conscientiza de que a labuta cíclica que nos é imposta à sobrevivência vai começar novamente. E foi numa madrugada dessas que eu escrevi esse texto pensando e refletindo sobre meus muitos (peguei leve) problemas pessoais. Eu pensava sobre quantas vezes minha vida havia sido frustrante e minha mente divagou até aquelas épocas. Sempre eu jovem em busca de afirmação social... e sempre quebrando a cara. Sempre que meu objeto de expectativa havia sido destruído ou desarrumado, o sentimento de frustração abatia-se sobre mim. Maldita sociedade que nos leva inconscientemente a buscar algo que nos afirme nesse mundo flexível e que nos acultura tornando-nos, juntamente com ela, cada vez mais flexíveis. É no mínimo patético ao ser humano dos dias de hoje, socialmente instável como cada partícula que o constitui, precisar de algo estável para sobreviver. Confuso? Vou explicar. Se pegarmos a exemplo a Idade Média (fui longe? Foi necessário... observe), podemos entender sua sociedade de ordens como um local temporal na História onde facilmente o indivíduo (que nem ao menos ainda reconhecia-se dessa forma) classificava-se de acordo com seu lugar funcional – que era estático, e por ser estático, não trazia a tamanha confusão que nós temos quanto a nossa identidade. Ora bolas: eles nasciam e morriam sabendo quem eram e qual era o seu papel na sociedade. Felizes por isso... Pois ao compararmos aquela estrutura psicológica com a de nossa época, onde as flexibilidades sociais, culturais, econômicas, funcionais, etc são a veia do sistema, poderemos entender a maior dificuldade que temos em ter o que nos mantenha ancorados, que nos sustente. E o buscamos freneticamente. Essa busca nutre nossas vontades e a mesma busca é o primeiro passo em direção à frustração.
Já escutei a frase: “Hoje em dia nós não mais somos. Nós estamos”.Uma alusão justamente ao caráter flexível de nossa sociedade. Mas veementemente acredito que mesmo no mundo em que vivemos, há algo de eterno e imutável em cada um de nós. Algo inerente a cada pessoa individualmente. Algo que precisamos encontrar para nos entender, para entender o mundo melhor. Para fazer o mundo melhor. O interessante é que isso todos já sabem, mesmo que inconscientemente. Todos procuramos, como eu já disse, algo que nos comprove a nossa existência. Algo que não nos deixe enlouquecer nesse mundo mutante. Uma pedra angular. As pessoas procuram e julgam a encontrar num amor, numa família, num trabalho, numa religião... Na verdade, há uma exteriorização do que deveríamos procurar em nós mesmos. O que acontece com a pessoa que julga ser o amor que sente por outra a sua pedra angular, quando tal pessoa não a quer mais? Se aquilo a sustentava nesse mundo instável, a sua perda pode ter reflexos extremos. “A casa cai”. Não existe mais uma base, um suporte àquela pessoa nessa existência. Daí a depressão e outras doenças elitizadas que já estão bem se democratizando.
Olhemos para dentro de nós mesmos e vamos procurar lá o que tentamos, talvez por comodidade ou facilidade, encontrar fora. Não devemos deixar que uma sociedade nos consuma desta forma. Não devemos deixar que o sistema nos faça crer que somos como ele: instáveis, corrosivos, vazios. Há algo em nós que nos define. Algo acima de qualquer modelo de vida imposto a qualquer cidadão nascido em qualquer época. Encontrar nossa pedra angular em nós mesmos nos dará coragem para transformar o mundo ao nosso redor sem medo de que isso nos destrua. Não dependemos do sistema. Ele depende de nós. Somos sua pedra angular. Se mudarmos dessa forma, talvez isso seja bastante frustrante para ele.

Ulisses Figueiredo.
Na próxima semana, dia 20/09: "Contagiar para que quando você estiver sem forças, quando estiver na parte de baixo da roda gigante ou desmotivado, sempre tenha alguém para contagiar você" PARA NÃO MORRER COM A GENTE, de Diego Sandins.

sábado, 5 de setembro de 2009

Capitalismo e o Diabo

Eu era menino pequenininho e conversava muito com minha mãe ex-operária que me dizia: “– Não sei, não... acho que comércio é roubo e que esses comerciantes são todos ladrões”. No que eu pensava no silêncio sábio e indagador de uma criança sincera: “– Não sei, não... acho que a mãe está enganada... a coisa não é bem assim”. Minha mãe era uma mulher apenas (mal) alfabetizada.
Passadas mais de três décadas, sei hoje que minha mãe tinha muita razão. A lógica do capitalismo é o roubo. E já pensei sobre porque eu não gosto da maioria dos ricos que conheço. É que só há três formas de se ser rico. A primeira é herdando riqueza. A segunda é roubando. A terceira é explorando os outros – o que significa “roubar dentro da lei”. Rejeito profundamente essas três formas. Herdeiros não têm culpa? Não. Não têm culpa de nascerem ricos. Já de morrerem ricos... Roubar? O que dizer do roubo... Roubar dá mais trabalho que herdar. Mas também é um artifício “anti bem-comum”, “anti-felicidade”. E quanto a explorar? Bem... Na verdade é isso o que os empresários e comerciantes fazem o tempo todo. Funciona assim: eu sou um comerciante e compro uma caneta que vale cinqüenta centavos por um real. Então eu pego e vendo a caneta para um idiota por três reais e ainda o convenço de que ele fez um bom negócio. Ele pagou quantos por cento de ágio? Calculem. Detalhe interessante é “quem disse que a caneta valia cinqüenta centavos”? É claro que ela valia menos que isso, pois, senão, de onde viria o lucro da industria que a fabricou? Ninguém se sente culpado por vender uma caneta, claro. As coisas são assim mesmo. Mas quem vende ou fabrica canetas costuma levar uma vida muito boa. Ao passo que quem junta moedas para comprar uma...
Isso é a regra. É claro que para toda regra há exceções. Mas será que há empresários ricos que não vivem da exploração dos pobres infelizes? Claro que não. Se assim fosse, de onde viria a sua riqueza. Não existe salário justo. Marx iluminou o mundo com essa teorização (da “mais-valia”), e, ainda hoje, as pessoas acreditam em empresários bonzinhos e salário justo. O cara tem uma empresa com mil empregados e se ufana de ser um cidadão que gera mil empregos, dando assim sua valiosíssima contribuição à sociedade. Ora. A sociedade não lhe deve nada. Muito pelo contrário. Ele, sim, é o grande devedor. O que ele tem são mil escravos a patrocinar suas viagens pela Europa e suas construções de belos imóveis pra deixar de herança. Muito bonito. Há bons ricos? Provavelmente sim. Como eu disse, as regras têm exceções. Mas não se enganem: são meras exceções.
Ateu, eu não creio no diabo. No entanto afirmo que se houvesse diabo, o capitalismo seria a sua obra-prima. Não sou teísta nem satanista, graças a Deus. E não sou hipócrita a ponto de não admitir que gosto de alguns frutos da sociedade capitalista industrial. Gosto de carro, de cinema, etc. Minha mente é colonizada como a de qualquer mortal. No entanto tenho um grito dentro de mim, que eu gostaria que os ricos do mundo pudessem ouvir: “– Menos!”.

Luciano Fortunato.

Próximo domingo, dia 13/09: "Todos procuramos algo que nos comprove a nossa existência. Algo que não nos deixe enlouquecer nesse mundo mutante..." PEDRA ANGULAR, de Ulisses Figueiredo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Deixa Te Contar

Eu vou te contar uma coisa nessa carta muito doida que to te escrevendo agora. O vento tá soprando numa velocidade sem igual, cara. As coisas estão voando, papel na ventania já se desfez tem é tempo, as águas estão revoltadaças e o fogo pode lamber a gente a qualquer momento. Mas me disseram por aí que tem gente que tá toda se coçando por dentro pra reorganizar o tempo, tomar banho dessa água calmamente e deixar o fogo lamber deliciosamente sem queimar por completo, assim de cantinho, de pouquinho, pra acalmar mesmo, mas pra sentir também. Essa tal gente por aí, que tá se coçando, acabou virando uma mesma esquina numa mesma hora e se viu, e se olhou, e chegou perto e apertou as mãos: olá, eu to a fim de dar uma passeada nesse mundo mas quero companhia, tá querendo? Meu negócio é o seguinte, a gente sai por aí, olha as coisas dum jeito particular, porém parecido e diferente e partilha das nossas cabeças abertas, olhos apontados pra horizontes legais, esperançosos e aí a gente vai se dividindo com as pessoas que forem passando por aquela esquina que a gente se conheceu e convida toda essa gente disposta a viver. É isso mesmo, convidar a viver. A viver mais, melhor dizendo. Que nem criança, que sente cócegas e adora sentir mais... e vai fazer xixi nas calças de tanta felicidade. Ah, toma banho depois, mas primeiro se lambuza disso aí. Eu to com essa gente agora, eu apertei a mão e disse que queria um espacinho entre eles, e eles super sorriram pra mim, cara. Isso tá muito bom, a gente vai esmiuçar o mundo, pedacinho por pedacinho, em todas as coisas bacanas que o homem faz e em todas as coisas não-bacanas que os homens também fazem. Eu to tão animada que to me embaralhando nas coisas, mas espero que você consiga entender o que to sentindo agora. Tenho certeza que a gente vai se dar bem, eu já freqüento a casa deles. O cara maior, o Senhor Clóvis, é muito legal, me deixa praticar a vida na casa dele. Eu corro descalça e danço com todo mundo. Vai ser bom, te escreverei sempre. Vem aqui um dia. Tenho que correr que agora a gente vai comer sobremesa.

Danielle Ribeiro.
E no próximo domingo, dia 06/09, a estréia: "Ateu, eu não creio no diabo. No entanto afirmo que se houvesse diabo..." CAPITALISMO E O DIABO, de Luciano Fortunato.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Pré-Estréia

Nesta próxima quarta-feira, dia 02/09, teremos o texto DEIXA TE CONTAR de Danielle Ribeiro para a pré-estréia.

E já no próximo domingo, dia 06/09, a tão aguardada estréia com o texto CAPITALISMO E O DIABO, de Luciano Fortunato.

Aguardamos a todos aqui... fiquem à vontade. A casa é sua....

Do editor,
Ulisses Figueiredo.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Primeira Postagem

Na verdade, senhores, o homem é uma criatura perfeita! Estatuário sublime, Deus esgotou no talhar desse mármore todo o seu esmero. Prometeu divino, encheu-lhe o crânio protuberante da luz do gênio. Ergueu-o pela mão, mostrou-lhe o mundo do alto da montanha, como Satan quatro séculos depois o fez a Cristo, e disse-lhe: Vê, tudo isso é belo — vales e montes, águas do mar que espumam, folhas das florestas que tremem e sussurram como as asas dos meus anjos — tudo isso é teu. Fiz-te o mundo belo no véu purpúreo do crepúsculo, dourei tudo aos raios de minha face. Fiz-te rei da terra! banha a fronte olímpica nessas brisas, nesse orvalho, na escuma dessas cataratas. Sonha como a noite, canta como os anjos, dorme entre as flores! Olha! entre as folhas floridas do vale dorme uma criatura branca como o véu das minhas virgens, loira como o reflexo das minhas nuvens, harmoniosa como as aragens do céu nos arvoredos da terra.— E tua: acorda-a: ama-a, e ela te amara; no seio dela, nas ondas daquele cabelo, afoga-te como o sol entre vapores. — Rei no peito dela, rei na terra, vive de amor e crença, de poesia e de beleza, levanta-te, vai, e serás feliz!

Trecho do livro "Noite na Taverna" de Álvares de Azevedo.