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terça-feira, 23 de novembro de 2010

Rolam Os Dados... Dão-se Os Rolos

Os Paralamas do Sucesso - Aposte Em Mim
Se é assim mesmo, que assim seja/Me sinto numa cilada/Ouço sinos de uma igreja/Quando é plena madrugada/Sei que temos nossas rotas, fossas para superar/Sinto que nesse caminho, nossa luz vai se afinar/Sei que quando sopra o vento/Em nossa tensa estação/Sinto o sopro calmo e lento/Fundo em meu coração/Se eu te trago sorte, aposte em mim/Se te deixo mais forte, aposte em mim/Te faço ver o norte, te dou rumo/Prum eterno amor sem fim...


Quer dizer, não.. não foi sorte.Calma... não estou desmerecendo sua companhia.. longe de mim.Ok.. já que você ta aí, vamos falar disso.. de sorte. Aposto que você vai gostar.Mas afinal o que é sorte?Aquilo que te faz botar um galhinho de arruda atrás da orelha, um pé de coelho nas mãos e uma figa enfiada sei-lá-aonde?( isso vai do gosto, ou da " sorte" de quem enfiou)Jogue os dados e vai descobrir que nada irá acontecer de diferente, do momento que decidiu apostar em algo movido somente na sorte... prefiro os rolos que se fazem enquanto pensamos na sorte( e ela não pensa na gente).Mas que coisa.... nem falamos direito de sorte e já chega a desagradável companhia da superstição. Mas que coisa! Eu não deixei meus chinelos virados pra baixo, não passei por debaixo de escada, não cruzei o caminho de um gato preto, e ela me aparece!!?Mas que bobagem, viu?? Só falei na superstição uma vez e ela já querendo fazer que esse texto se guie " à sua própria sorte"? Não deixarei... azar o dela.Falemos de algo mais prático e concreto, embora eu adore viajar sobre o abstrato.. acaba que eu vou unir as duas coisas.Nada de "pé-de-pato-mangalôtrêizveiz", acredito na sorte como uma coisa que acompanha quem se persevera a realizar suas coisas de maneira sem ( utilizando a linguagem de empresas de seguro, que por sinal são as que mais lucram com a sorte, ou a falta dela) algum " sinistro".Você deve estar se perguntado: " mas esse cara tá de brincadeira... como que a definição dele de sorte, é exatamente não ser surpresa??"E isso mesmo. Acredito na sorte como a união de oportunidade e habilidade. Nada cai em nossas mãos do nada! Não somos uma espécie daqueles " pula-pulas" que os bombeiros usam para acolher pessoas que pulam de prédios em caso de incêndio.Que pessoa você pode ser, se você achar que as coisas mais valiosas que você consegue fossem conseguidas " do nada", "na sorte", na popular, cagada!?( alíás.. porque é "cagada"? Afinal cagada é algo que você tem que fazer força pra fazer.... não é o caso da sorte! hahaha).Após essa parte um tanto quanto escatológica do texto, voltemos...Afinal, seria por sorte que você consegue ter companhias legais?? Aquelas pessoas que põem a mão no seu ombro de "apostam em você"? Prefiro acreditar que não! Aliás, pra mim não é.Eu ajo, ou tento agir de uma maneira que eu consiga " ter a sorte"( não liguem, é só força de expressão) de ter pessoas que me tirem de ciladas, que me façam festa na madrugada, me ajudem a tocar sinos, ou beber, rezar ou dançar. Que se fazem luz no meu caminho e se deixam iluminar por mim.Que faz me guiar pelo vento, abusar daquilo que chamam de sorte, pois terei no meu caminho pessoas que me darão algo mais valioso do que a sorte, um sopro bem no coração!Quem será maluco de achar que isso é feito com sorte?? Eu não, não acho, e se achasse, muito provável mente não iria tentar melhorar e iluminar mais ainda o caminho de quem aposta em mim, e assim, sempre ter pessoas em quem eu aposto perto de mim.Apostar neles me deixa forte... forte para merecer que eles assim apostam em mimpode apostar!

Diego Sandins.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aborto

Eu estava assistindo o programa DebateMTV, mediado pelo ilustre João Luíz Woerdenbag Filho[1] sobre aborto, agora a pouco (dia 19/10/10). Resolvi “falar” sobre o assunto. A discussão de cunho cultural, religioso e social, extrapolou seus limites e tornou-se político e propagandístico no momento em que a candidata (possivelmente eleita quando esse texto for postado) Dilma Roussef declarou a postura do seu partido (PT) a favor da descriminalização do aborto. Logo após isso o assunto sofreu o efeito dominó, levando o candidato José Serra (PSDB) a declarar-se contra essa “legalização”. Bom... primeiro deixem-me fazer um levantamento sobre minha opinião relativa às intenções dos presidenciáveis com tais declarações. Dilma tenta obter o maior número de votos femininos possíveis alegando segurança para a prática do aborto (questão da Saúde), bem como a proteção do Estado às mulheres que eventualmente fossem se submeter à essa cirurgia (questão Criminal), e também a toda aquela galera a favor dos direitos humanos. O candidato Serra, ao meu ver, aproveita-se da brecha cedida pela oposição e declara-se contra, ganhando apoio de amplo setor religioso(e não só desse setor) da sociedade. Penso que seja por aí. Enfim, a discussão elevou-se imediatamente a níveis inimagináveis até antes da declaração da candidata. Ela está presente dentro de casa... nas escolas... nas igrejas... nos jornais... nos veículos de informação de uma forma geral. E agora está n’O Clóvis... rs
Vou destacar o que eu penso ser o pivô das discussões: quando se fala no conceito de vida. A questão que eu penso ser cada vez mais estrutural nesse debate é sobre quando se pode dizer, após a união do espermatozóide ao óvulo, que existe vida: Os que são contra a descriminalização do aborto acreditam em pesquisas que consideram a vida um processo, dando exemplo de que mesmo uma criança de três anos de idade estaria em processo de formação. Com esse argumento, que eu absorvi como o principal e mais lúcido destes partidários, eles comparam o aborto ao assassinato de uma criança daquela idade. Faz muito sentido, ao meu simplório olhar.
Já os seus opositores, consideram a vida um conjunto de órgãos em pleno funcionamento. Sendo assim, um feto não poderia ser considerado Ser Humano (aquele mesmo defendido por nossa Constituição de 1988
[2]), da mesma forma que um fígado, isolado das demais partes do corpo, não o seria. Isso porque não há órgãos funcionando plenamente em conjunto no feto. Porra... faz muito sentido também.
Eu percebo uma discussão onde o foco está sendo mal direcionado. Mesmo que neguem, os opositores da postura petista (e não só do PT) acabam se lançando de argumentos religiosos em suas discussões. O que é inviável se querem ser levados a sério. Não que eu não acredite em Deus, mas cristãos tendem a impor seu modo de pensar a outros, acabando por perder a razão e a moral na discussão. Isso pode ser mesmo reflexo da história do cristianismo e de como se deu sua sangrenta expansão. O filme Ágora (Amenábar, 2009) pode esclarecer o que digo. Quando o debate chega à apresentação daqueles pontos que destaquei, para rebater o argumento dos que são a favor da legalização, os primeiros insistem no “sopro divino” que dá vida ao feto em formação. Para mim eles perdem aí a razão. Você não pode expor um conceito religioso, considerá-lo paradigma geral, e esperar que tudo se resolva nisso. Estão errados. Da mesma forma em que estão errados quando colocam o combate à promiscuidade, razão da gravidez indesejada, como “solução” prévia que tornaria desnecessária a discussão do aborto. Agora vou colocar finalmente meu ponto de vista sobre o problema todo, e que eu penso que esteja mesmo nesse ligado ao combate à promiscuidade. Mas não da forma como ela é pretendida. Ou seja: levando jovens à igreja para que sua moral consiga sufocar os desejos carnais humanos... o hedonismo contemporâneo. Trata-se sempre disso: uma moral que suplante a humanidade animalesca expressa pelo sexo desmedido. Bakunin, em seu livro Deus e o Estado, já nos alertava para o perigo às sociedades causado pela exaltação espiritual e conseqüente rejeição do Homem. Enfim, meu ponto: O ABORTO NÃO PODE SER LEGALIZADO. Legalizá-lo ou, em outras palavras, descriminalizá-lo, implica na aceitação constitucional do modelo cultural que nos é empurrado garganta abaixo por toda a mídia atual. O que vemos hoje é uma tolerância total ao individualismo que vem se formando, como descrito em Modernidade Líquida (Bauman, 2002). Não estou sendo a favor de uma repressão aos direitos e vontades individuais, mas a tolerância também pode causar uma repressão, e de pior forma: daquela que não se percebe. O que eu quero dizer é: se você legaliza o aborto, você formaliza o apoio à cultura do sexo banalizado, que não é ruim por si só, mas por trazer com ele a exaltação das aparências, das imagens, da estética. De tudo que é visual, ou melhor, sensual. Estamos entrando em um neoclassicismo exaltador de tudo que mencionei. Mas não como o dos renascentistas conscientes do que faziam, mas sendo sufocados por uma cultura que reprime todos aqueles fora de seus padrões. Cirurgias plásticas, centros de estética, spás, academias... não há como escapar dessa repressão cultural imposta pelos que não querem que nos preocupemos com mais nada além de nossa imagem. A banalização sexual é conseqüência disso... a legalização do aborto vai contribuir mais ainda. Entendam: não sou contra o direito das pessoas escolherem, mas sim contra o desenvolvimento político dessa imposição cultural que sofremos. Isso vai acontecer e já está acontecendo com o PNDH3 (2009), assinado pelo nosso atual presidente em dezembro passado. Outra hora me dedicarei especificamente a esse plano, mas fique exposto que sob a capa de direitos humanos, esconde-se uma repressão à moral e valores coletivos. Um Estado que combate valores coletivos acaba desestruturando a sociedade civil em benefício próprio, ganhando coro – camuflado sob a égide de “direitos humanos” - a qualquer desconstrução cultural, dando-se o direito de reprimir quaisquer expressões morais de determinados setores da sociedade. Como eu disse: haverá uma repressão camuflada de tolerância. E essa repressão já vem ocorrendo desde fins do século passado com a imposição do hedonismo. Se o indivíduo não se enquadra no modelo estético apresentado e amplamente divulgado pela grande mídia, ele é implicitamente rejeitado pelos seus pares. A valorização de sua aparência leva a supervalorização do individual, fazendo assim com que nós concordemos com direitos que nos protejam a toda e quaisquer expressões que possam nos fazer sentir agredidos de alguma forma. As manifestações culturais passam a ser legalmente alvos do indivíduo. Instala-se, portanto, um caos cultural onde somente o Estado terá poder, através dessas leis em prol dos direitos humanos, para conter tal confusão social. Tal poder agirá sobre o indivíduo sem uma base social concreta, dando total arbitrariedade e conseqüente poder ditatorial repressivo ao Estado. E pior: tudo isso mascarado sob a forma de direitos ao cidadão. Eu não sei até onde me considerariam anarquista, mas eu me considero como tal pelo pensamento comum de luta ideológica contra qualquer forma de poder manifestada na e sobre sociedade. E estive pensando constantemente sobre o quão paradoxal se torna meu direcionamento ideológico quando exponho uma opinião como a deste texto. Como poderia eu me declarar anarquista e ao mesmo tempo contra um programa do governo brasileiro que destaque os direitos humanos? Acho que esse texto contra o aborto explica meu ponto de vista. Uma ação governamental em prol dos direitos humanos apenas daria mais poder ao Estado, retirando do indivíduo sua última proteção: a moral social. Seja lá qual for. Todos concordamos que para que uma revolução social ocorra, é preciso que as estruturas morais sejam desconstruídas. Como afirmava o “Sr.Marx”
[3]: “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Porém, acredito que essa desconstrução tenha que ocorrer naturalmente, dentro das próprias estruturas de moral espalhadas por aí. A ação do Estado catalisa o processo que Bauman anunciou de que a atual desconstrução das morais existentes não está sendo acompanhada pelo surgimento de uma cultura substituta, como o queria Marx, mas sim pelo seu desaparecimento total. Aqui eu caio em outro paradoxo ideológico: como posso ser, em meus termos, um anarquista e estar reclamando do desaparecimento dos sistemas de moral existentes? É que, justamente, esse desaparecimento está vindo “de cima” e em benefício do Estado. Iludidamente eu ficaria contente com um PNHD da vida e a legalização do aborto, por serem questões defendidas pelos anarquistas. Em outras palavras: o humanismo. Contudo, essas transformações estão mascarando o controle social que o Estado ganhará. Mais: estão gerando o controle social.
As pessoas não estão preparadas para uma revolução social/cultural. Infelizmente, ainda é necessário o que Carl Sagan chama de “bússola moral” que direcione o espírito dos homens ao pleno convívio com sua espécie e com o planeta. Posso até mesmo ser chamado de moralista ou reacionário, mas sou contra essas mudanças pois os brasileiros que as apóiam não são cidadãos esclarecidos e cientes do que pode realmente acontecer, mas sim cidadãos que sofrem lavagem cerebral todos os dias e que esquecem do que realmente importa.
Para mim, a questão do aborto é um passo que não podemos dar se não quisermos baixar nossas cabeças ao Leviatã que está ganhando forma bem diante dos nossos olhos, com nossa aprovação e exaltação.


[1] Lobão.
[2] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida (...).
[3] Assim Chamado no século XIX por P.-J. Proudhon.

Ulisses Figueiredo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

As Criadas

As Criadas, obra de Jean Genet, nos conta a história de


Duas mulheres: Irmãs, amantes, rivais e criadas. Na ausência da patroa, satirizam suas condições humildes, personificando fantasias de libertação e luxúria, ora servas, ora senhoras. Num jogo em que se confundem poder e submissão, amor e ódio: pela patroa e uma pela outra.


O texto original é primoroso. Dispensa comentários. Sobre o que quero escrever, na verdade, é sobre o espetáculo apresentado na noite de 22 de outubro, no Centro de Convenções de Ouro Preto - MG, dirigido por José Luiz Filho.Apesar da história retratar personagens femininas, o elenco é composto apenas por homens. Só por isso já é impactante por quebrar certas conveções sociais. Cinco rapazes de saia interpretando uma madame e duas criadas. Parece confuso? Talvez seja essa a intenção. Quem nunca se viu como uma autoridade num instante e no outro como um serviçal?

O mais interessante é o desdobramento e fusão das duas criadas, causado pela presença de quatro atores carecas no palco e pelas suas saias que mudam de cor, num gesto rápido e expansivo. O que dá uma idéia de espelho e/ou múltipla personalidade que nos confunde e intriga.Apesar do cenário e do figurino serem bem simples, o jogo de luz e a soberba atuação do atores provam que são mais do que suficientes, deixando o resto com a imaginação do espectador.

Além do jazz estonteante de Billie Holiday, a peça conta com um leve toque da banda de rock japonesa Maximum The Hormone. Música boa nos momentos certos.


Não é por menos que acaba de ganhar os prêmios de melhor espetáculo e melhor cenário do III Festival Universitário de Patos de Minas. Essa peça é o terceiro trabalho da Cia Teatral Confraria Tambor, fundada em 2004 por atores de Uberlândia interessados em montar um elenco masculino que abordasse cenicamente questões ainda na ordem do dia, tais como a relação de poder, o confinamento, a violência e o submundo.Sem exagero, é a melhor peça teatral que já vi. Vale a pena conferir.

Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.

Este texto foi mais uma contribuição do blog Revista ContemporARTES.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

mandEM RISCO DE PALAVRA

Cabeça, tronco, extremidades e palavra.Encarnada, na vasta unidade do corpo, a palavra faz p(arte) de nossa condição humana. Ela integra e revela, sabiamente, uma cartografia inquieta de necessidades e desejos do Ser diante do mundo e diante de si mesmo. Como estranho registro de identidade, ou variante eficaz do DNA, nosso acervo pessoal de palavras congrega a condição filo-onto-genética que nos sustenta.

Assim, afetos e desafetos; tramas e traumas; medos e coragens, entre outros sentimentos fundamentais, registrariam uma gramática pessoal que numa somática singular, semantiza corpo e alma.Cada vez que me toca solicitar aos integrantes da minha oficina itinerante - Lavra-Palavra - que resgatem do fundo do baú da memória uma palavra da infância, presto especial atenção à postura do corpo diante da palavra somatizada do participante: muda o timbre da voz, alguns ficam curvados, outros parecem elevar-se; alguns ruborizados, outros pálidos. Uns afundam os pés no chão, outros brincam nervosamente com eles. E os joelhos? Como não lembrar, então, das palavras bíblicas do evangelho de São João, percebendo o verbo intensamente habitado e feito carne, feito sujeito do discurso-memória, do discurso-sentido, do discurso-mundo.
Como educadores percebemos que a palavra está longe desta percepção encarnada e substancial, na escrita e na oralidade de nossos acadêmicos das tão Humanas ciências - área de Letras, de Pedagogia, de Filosofia, de História, de Sociologia, de Comunicação - justamente aqueles que formarão novas gerações de educadores dos educadores de tantas crianças.




Com que freqüência descobrimos que acadêmicos dos cursos de graduação e até de pós-graduação procuram a facilidade e o imediatismo da palavra de segunda ou terceira mão, disponível na prateleira para ser servida, ingerida, digerida, rapidamente, de preferência num prato corrido, urbano e banal.

Sabemos que essa palavra alheia que não passou pela interação com o outro e consigo mesmo, que não passou pelo diálogo recursivo com outras leituras e com o mundo, não permanecerá por muito tempo, nem na memória nem no coração de quem a procura e se serve dela. E o mais importante, não provocará o nascimento de outras palavras sentidas e pensadas.


O risco em si tem algo de inaugural, de primeira vez, de nascimento. Certamente colocar-se em risco de palavra, não significa apropriar-se da palavra apenas útil, somente comestível e prosaicamente disposta para garantia da sobrevivência, até o dia seguinte. Palavra, assim, tão sem vida, não permitiria ao usuário o tempo do aroma, do gosto, da percepção da geometria e da cor.

Esta palavra disponível nas mil e uma páginas dos livros ou na tela do computador, ou mesmo na voz do outro, nosso semelhante, não permitiria adivinhar-lhe a textura dos seus talos, folhas, raízes, sem a devida empatia e atenta escuta em relação a ela.




A gente não quer só comida, lembra uma bela composição de Arnaldo Antunes. Nesse sentido, é necessário modificar o ritual do banquete e modificar também a percepção e a relação com as palavras que estão aí, no mundo, saborosas, vivas e inquietas para ser selecionadas e degustadas com critério significativo vivamente vivido e estético.






Que o digam os poetas que voltam seus mais de cinco sentidos em todas elas. Que o digam os leitores de literatura que exercitam o abecedário imaginal, vasta fonte que desacomoda nossas rotineiras certezas.





Hoje a coluna Incontros trouxe um texto da querida professora Glória Kirinus. Ela é escritora bilíngüe e ministrante da oficina "Lavra-Palavra", além disso é representante da AEI-LIJ/PR (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto-Juvenil no Paraná).







Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual. Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
Este texto foi uma contribuição do blog Revista ContemporARTES.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Eu Quero Que Todo Mundo Vá Tomar No Cu!

Meu antigo corpo está pedindo separação total de bens desse corpo novo que vem tomando conta de mim. Ele só quer se desvencilhar desse novo hospedeiro cheio de frescor e petulancia que se apoderou dos domínios da incerteza margeados por esse limbo de insegurança. O velho até que tentou comungar com o novo, tentou enxergar as novas aprendizagens, os novos prazeres, os novos medos também, mas fraquejou e começou a se arrebentar. Essas estrias que delimitam meu corpo, em ombros, barriga, glúteos e seios parecem ser o reflexo do velho no novo, o já gasto, o já escrito, o já acostumado a chinelos de pano e manhãs fúnebres de domingo. Meu antigo corpo quer se matar, ele já não aguenta mais a vontade de ser livre desse novo corpo, esse delírio adolescente de não ter pudores e se mostrar sim, afinal é apenas mais um corpo... e inteiro, por centelha divina ou asiática.Meu novo corpo é uma amante traída, uma viúva vingativa, uma garotinha egoísta e quer inteiramente se apossar do velho corpo. Ele vai matá-lo de tanto tesão, cavalgar com ancas largas e sorrisos libidinosos até que o corpo velho sorria para a morte que ele tanto deseja E PRECISA. Ele não concebe mais o fato da tristeza, da não crença, da vergonha, das projeções infelizes dos projetos vividos e não paridos, estarem nesse mesmo vôo de balão. ELE NÃO VAI DEIXAR.ele vai matá-lo em dedos novos nos terminais antigos de prazer só pra deixar o corpo velho ao som da pequena morte. Do gozo.

Danielle Ribeiro.
Na próxima semana estaremos publicando dois textos do nosso blog amigo Revista ContemporARTES.