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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Abaixo À Mesmice! Acima Dos Galhos Da Árvore Se Compartilha Um Lugar Pra Ver Melhor A Lua

Os Paralamas Do Sucesso
Um Pequeno Imprevisto
Composição: (Thedy Correia - Herbert Vianna)
Eu quis querer o que o vento não leva/Prá que o vento só levasse o que eu não quero/Eu quis amar o que o tempo não muda/Prá que quem eu amo não mudasse nunca/Eu quis prever o futuro, consertar o passado/Calculando os riscos/Bem devagar, ponderado/Perfeitamente equilibrado/Até que num dia qualquer/Eu vi que alguma coisa mudara/Trocaram os nomes das ruas/E as pessoas tinham outras caras/No céu havia nove luas/E nunca mais encontrei minha casa/No céu havia nove luas/E nunca mais encontrei minha casa


E quem disse que não podemos mudar as coisas?!elas mudam mesmo, oras!!!Imagina o quanto seria chato se as coisas não mudassem, que sempre tudo se mantivesse na mesma cor, mesmo cheiro, mesma textura, mesma mesmice! O que seria de nós? Com o que poderíamos estabelecer relações? O que iremos fazer senão aceitar tudo com está, aceitar em não ter experiências novas, não poder usar o que se aprende?Não poder compartilhar!! Creio que isso é a pior coisa que poderia nos acontecer. Mesmo que tudo que vemos seja muito bonito, qual seria a importância pra nós, se não pudéssemos comentar, pudéssemos levar alguém para um lugar bonito, falar coisas legais, se divertir?E, o que é tão bom quanto isso, ser alvo de todas essas ações.Está aí uma coisa que me faria perder o caminho de casa... algo que me atordoaria por completo... não poder compartilhar! Muito do que eu sou se deve às relações que tenho. Elas são responsáveis por minhas raízes (fincar bem profundamente os pés na minha vida... o de mais profundo das minhas características.. de onde venho), e, digamos, meus numerosos "galhos", que significam que se não me mexo, também não compartilho nada, não contribuo pra nada. Através desses galhos estou disposto a trocar elementos vitais pra minha vida, e não falo só dos elementos materiais. Sim, eu não sou uma árvore muito podada!Andava revendo muito minhas ações... calculando muito meus riscos e esquecendo que essa sensação de “não saber o no que vai dar" também é muito importante.Não tem nada de mais se preparar um pouquinho...mas sempre estamos propensos a nos surpreender com algo.Podemos prever em qual quarto estará a Lua, mas, me diga, ela não sempre aparece de uma forma diferente, significando uma coisa diferente? Claro que a resposta será positiva... positiva tanto quanto o fato de que essa "boa" confusão nos faz pensar!Taí... pensemos, pensemos mesmo! Mas não nos esqueçamos de agir!(antes, durante e depois de pensar)


Diego Sandins.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Geração X?

Há alguns anos, quando ainda moleque, escutei de um professor de História que todos nós que nascemos na década de 1980 havíamos sido classificados como a “geração x”. Ele estava querendo dizer que não se sabia ainda qual o papel de nossa geração no mundo. Nós seríamos uma incógnita. Hoje eu compreendo melhor o que ele disse e, mais que isso, percebo o que nossa geração representa. O mundo está andando muito depressa. As notícias, as tecnologias, tudo ao mesmo tempo rápido e obsoleto. Até mesmo as gerações estão se tornando obsoletas. Há quem diga que hoje em dia a diferença entre as gerações seja de apenas 6 anos!! Outros que, nos dias atuais, os pais aprendem muito mais com os filhos. Observem comigo: a diferença temporal entre a Ditadura Militar e a Descoberta do Brasil na cabeça de um adolescente de 14 anos é zero! Acreditem em mim... sou professor e sei o que digo. Eles não têm elo algum com aquela época. Tanto quanto com a Descoberta. É passado distante. Seus pais são anciãos. Seus irmãos mais velhos, caretas pois não sabem utilizar o twitter ou não atualizam seu facebook. E isso acontece em P.G.. Renato Russo cantou sua geração: a “geração coca-cola”. Os “filhos da revolução”. E nós? Não temos uma música... As bandas de hoje tentam a todo custo produzir gosto para as novas gerações e têm que se reciclar a todo instante. Mesmo as mais antigas sucumbem à necessidade comercial direcionada às novas gerações. Enfim: o que nós temos a ver com isso tudo? Se for assim, já estamos mais que obsoletos. Estamos integrados.
Mas eu penso que não. Somos diferentes. Nós, nascidos entre 1980 e 1986 somos diferentes e temos um papel diferenciado. Nós jogamos videogame e lemos jornais. Temos orkut, twitter, facebook, blogs e até canais no youtube... mas ainda vamos ao correio enviar cartas aos nossos. Amamos o novo CD do Metallica: DeathMagnetic... mas dizemos que o melhor ainda é Master of Puppets. Gostamos de Blink 182... mas vibramos quando rola um Ramones na rádio. Assistimos Naruto... mas temos no PC todos os episódios de Caverna do Dragão. Assistimos a esses milhares de programas humorísticos sem conteúdo... mas sabemos de tudo que está acontecendo em nosso país e no mundo. Que espécie de monstro não-mitológico nós somos? Cabeça, corpo e mente diferente. “Some kind a monster”, diria Heitfield. É isso, meu amigo(a): somos a ligação entre duas gerações. Entre duas épocas que se desconhecem e que se rejeitam. Gerações que negam uma a outra. A “geração coca-cola” renega os sofismas atuais. A molecada “segue” mais a Kelly Key no twitter do que Marcelo Tas. E nós, geração de 80, estamos no meio dessa guerra. Abraçamos a todos. E é esse o nosso papel. É esse o apelo que faço a todos os dessa geração que estão lendo e lerão sempre esse blog: “não deixem o samba morrer”. Mas também “abram alas” pois há muita gente querendo passar. Nossa geração vai desaparecer em alguns anos. Se permitirmos que as novas guiem-se sozinhas nesse mundo como se não tivessem passado ou sem alguém que as segure a mão, tudo se perderá. As lutas de 60... a cultura de 70... e tudo o mais que nos fizeram o que somos. Se não fizermos nada para sobrevivermos, nossas culturas estarão separadas e seremos então como um elo perdido. Perdido para sempre... e toda uma história conosco. Um dia sim, morreremos. Você, eu, meus companheiros desse blog. Mas nós estamos deixando algo para todos... algo que não morrerá conosco... algo que manterá o elo vivo e com um endereço não perdido. O Clóvis está aqui para sempre e cumprirá meu papel. O mesmo suplico a você: não morra.


Ulisses Figueiredo.
Próxima semana, dia 22/02: "Andava revendo muito minhas ações... calculando muito meus riscos e esquecendo que essa sensação de “não saber o no que vai dar" também é muito importante." ABAIXO À MESMICE! ACIMA DOS GALHOS DA ÁRVORE SE COMPARTILHA UM LUGAR PRA VER MELHOR A LUA de Diego Sandins.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Eu Faço Desenho Com Constelações

Toda segunda-feira é a mesma coisa. Esperar a estética começar pra eu me desligar do mundo através da melodia baiana prolixamente ditada e esperar por ele, meu objeto de desejo. Branco, esguio, montado deliciosamente sobre ombros largos, ossos magros de costas retas... meu objeto, o pescoço daquele menino encantador assim... quieto, calmo, bonito... acho que o nome dele é... (bom, não quero dizer aqui, mais sei qual é porque esperei ele assinar a pauta)... "o belo essencial de Platão"... (talvez foi isso que o professor disse)... "Platão pensava assim... amor, beleza, dialética ascendente"... Eu até que fui bem na prova... de perfil ele também é lindo... um cabelo curto, claro, uma barba por fazer, um nariz grande adequadamente posto num rosto comprido...uma boca semi-aberta ao copiar a matéria "a idéia do sublime de baumgarten".... a boca se fecha com a mão no queixo e um olhar atento... Será sono? Vontade de passar os dedos naquele pescoço... "podemos falar de prazer"... que frase perfeita pra essa hora... "experiência estética fenomenal"... caraca, o professor sabe mesmo das coisas.... fenômenos da natureza... ele tosse, ele sempre tosse... e ele sempre passa a mão naquele pescoço... Chega menina, parece romance barato de banca de jornal da Central do Brasil... depois que descobrí aquele pescoço nunca mais dormí nas aulas...
Sabe aquelas vontades de ficar quieta ou de não falar tão alto? Pois é, dá sempre essa vontade... Mais aí eu sempre rio e estrago tudo. Como sempre. "O belo é o universal sem conceito"...foi a última coisa que ouví.
Danielle Ribeiro.
Próxima semana, dia 15/02: "Assistimos a esses milhares de programas humorísticos sem conteúdo... mas sabemos de tudo que está acontecendo em nosso país e no mundo. Que espécie de monstro não-mitológico nós somos? " GERAÇÃO X? de Ulisses Figueiredo.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Os Ratos E O Ano Novo

A chuva que cai ininterruptamente aqui sobre o bairro de Humberto Antunes, Mendes, Estado do Rio de Janeiro, desde ontem pela manhã é cinematográfica. Chuvas ininterruptas me dão a sensação de filme, ou de livro. Dão uma sensação de afastamento da realidade. Tudo está aqui. A ferrovia está aqui. As pequenas matas – aqui quase tudo é pequeno – estão aqui. As ruas de paralelepípedo – muita gente nem sabe o que é uma rua de paralelepípedo – estão aqui. Os mesmos vizinhos de sempre. O abissal silêncio das madrugadas, que só é interrompido ora ou outra pelas locomotivas ou pela música dos sábados – pela péssima e barulhenta música dos sábados. Tudo está tão “aqui” que faz com que as coisas se pareçam com um filme que é reapresentado por tempo indefinido, como aconteceu nos cinemas com Blade Runner, por exemplo, que ficou em cartaz por muito tempo, voltando e voltando. Blade Runner, um filme extraordinário. Neste filme também chove muito. As chuvas ácidas de um dos possíveis futuros preconizados pelo cinema.
Ontem, quarta-feira, um som no quintal quebrou o silêncio: Lisbela, minha amiguinha canina, matava mais um rato. São milhões de anos de instinto predatório não perdidos, ali, no DNA de Lisbela. Mais um rato enorme. O segundo em três dias. Ela sabe que nós aqui em casa ficamos agradecidos, afinal ratos são incômodos e transmitem doença – ratos já dizimaram milhões de homens no curso da história. E sei que ela, Lisbela, ficou feliz e orgulhosa com sua performance assassina. O terreno ao lado da minha casa abriga ratos. É bonito ver o verde do terreno, e olhar o morro e o céu por entre as plantas que nele há e crescem em pura força verde, mas há certos inconvenientes, como os ratos e insetos morando ali. De manhã, quando, na minha incumbência masculina, fui pegar o bicho e colocar em duas sacolas – quando o correto seria enterrá-lo – eu percebi que o rato é um animal muito bonito. Bonito mesmo. A sua cauda nem tanto. Acho que o rato é um animal que não ficou numa boa no processo de urbanização advindo com o século dezenove. Acho que homem e rato têm uma grande dívida um com o outro. Muito embora creio que o bichinho esteja em desvantagem – assim como os palestinos em relação aos judeus (parêntese importante este, pois preciso ressaltar que palestinos não são ratos, e que em muitos momentos, na dada questão geo-política, judeus foram mais ratos, num ambiente em que todos estão certos e errados ao mesmo tempo, sejam homens ou homens-rato, semitas ou anglo-saxãos). De toda forma, acho que ele, o rato, ainda está em melhores condições que a vaca, o porco, a galinha e até mesmo que o cavalo, que é usado pelo homem com certa indiferença. O rato tem sua independência. Tem sua dignidade. Um certo direito à marginalidade. Nem isso os outros animais citados possuem, já que são tratados muito mais como coisas que como bichos.
Então lá fui até um dos latões do bairro com as sacolas de lixo não selecionado – como é o costume por aqui – com o bichinho dentro de uma delas. Ecologicamente incorreto, porém dentro do senso comum local – ainda que eu seja um pequeno homem a lutar, em algumas situações, contra o senso comum local. Na volta, o que vejo em frente ao meu portão? Um passarinho morto. Puxa vida. Não dá pra ter menos mortes num dia como o de hoje, com essa chuva que mata sem parar pessoas nas casas mal feitas, construídas em lugares mal habitáveis por todo o país? Levanta-se aqui uma suspeita de bruxaria no tocante ao pequeno pássaro morto. Certa vez havia sete cigarros no chão apontados para o meu portão, ordenados cuidadosamente, como se apontando pra minha casa como flechas. Sempre houve muita macumba no meu bairro. Acho um barato as pessoas crerem nisso. Digo “um barato”, numa visão antropológica hiper-relativista e tolerante, pois, na verdade, sou ateu e acho que elas deveriam se ocupar mais com ciência, com trabalho, com arte e com prazer.
Com os ratos e o passarinho e as pessoas vítimas dos desastres pela chuva no famigerado sistema de loteamento camponês que insiste em encurralar seres humanos em habitações pouco-humanas para os padrões atuais de humanidade que estas mesmas pessoas mortas estavam cansadas de ver nas novelas, morre também o ano de 2009. É Preciso. Tem que ser assim. Pra nascer 2010. Mas o que podemos fazer pra 2010 nascer feliz? Encher a cara? Beber e beber e beber? Comer e comer e comer? A frase é legal e gosto de ouvir e repetir: “estamos de parabéns!”. Celebremos a morte e a vida do calendário. Eu, aqui, com minhas mãos com o odor de dessalgar bacalhau, tecendo minhas impressões críticas com minha metralhadora giratória de brinquedo com inofensivas bolinhas coloridas. Um hipócrita a mais. Tenho convencido um amigo a tornar-se vegetariano – pois admiro demais os vegetarianos –, falando pra ele coisas como a nossa hipocrisia em querer salvar baleias enquanto comermos bois como se fossem estes maçãs caídas do pé. Quem disse que um boi vale menos que uma baleia? O amigo disse que está indo por partes, e que já não come mais aves e pode olhá-las agora sem culpa. Que bonito isso! E eu na cozinha temperando uma ave pra assar. Sou culpado. Sou mantenedor do sistema de matança capitalista industrial. Sou poluidor. Sou hipócrita. Sou escravo. Sou um homem. E não sou muito diferente do rato que foi assassinado pela Lisbela. Tenho pena do rato. Tenho pena de quase tudo.
Preciso de um final feliz para esse texto, pra ver se o ano também termina/começa bem. Senão vão achar quer sou pessimista. E este ano foi, na verdade, muito bom pra mim. Final feliz é bom. Talvez finais felizes sejam hipócritas. Talvez não. Talvez eles sejam fruto da nossa eterna necessidade de sonhar. Essa mesma necessidade que fez a ciência e a arte – a cultura, por fim. A nossa necessária e companheira inseparável imaginação. A necessidade de pensar no que é bom, a aperfeiçoá-lo. Preferencialmente no que seja bom para mais de uma pessoa, já que, como disse o poeta “é impossível ser feliz sozinho”. Então vou olhar para meu bairro imutável como bela fotografia amarelada e ver que ele é um belo lugar, com gente feia e gente bonita, como qualquer outro lugar. Com homens, mulheres e ratos. E com uma bela chuva de final de ano. Uma chuva que parece estar saindo do terceiro livro da série Crepúsculo que minha menina acabou de ler, enquanto eu releio, com mais contemplação que outrora, o monótono – porém lindo – On The Road, a emblemática obra de Jack Kerouack que tanto inspirou os malucos do mundo inteiro, chegando até mim.Venha o porvir, que eu quero é mais. Mais do bom e do melhor, e para o maior número possível de seres vivos e mortos.


Luciano Fortunato.