Meu antigo corpo está pedindo separação total de bens desse corpo novo que vem tomando conta de mim. Ele só quer se desvencilhar desse novo hospedeiro cheio de frescor e petulancia que se apoderou dos domínios da incerteza margeados por esse limbo de insegurança. O velho até que tentou comungar com o novo, tentou enxergar as novas aprendizagens, os novos prazeres, os novos medos também, mas fraquejou e começou a se arrebentar. Essas estrias que delimitam meu corpo, em ombros, barriga, glúteos e seios parecem ser o reflexo do velho no novo, o já gasto, o já escrito, o já acostumado a chinelos de pano e manhãs fúnebres de domingo. Meu antigo corpo quer se matar, ele já não aguenta mais a vontade de ser livre desse novo corpo, esse delírio adolescente de não ter pudores e se mostrar sim, afinal é apenas mais um corpo... e inteiro, por centelha divina ou asiática.Meu novo corpo é uma amante traída, uma viúva vingativa, uma garotinha egoísta e quer inteiramente se apossar do velho corpo. Ele vai matá-lo de tanto tesão, cavalgar com ancas largas e sorrisos libidinosos até que o corpo velho sorria para a morte que ele tanto deseja E PRECISA. Ele não concebe mais o fato da tristeza, da não crença, da vergonha, das projeções infelizes dos projetos vividos e não paridos, estarem nesse mesmo vôo de balão. ELE NÃO VAI DEIXAR.ele vai matá-lo em dedos novos nos terminais antigos de prazer só pra deixar o corpo velho ao som da pequena morte. Do gozo.
Danielle Ribeiro.
Na próxima semana estaremos publicando dois textos do nosso blog amigo Revista ContemporARTES.
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