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segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Abrir a Felicidade? (parte I)

Estou aqui. E estar aqui é doce e amargo. Pronto. Lá vem um desses cronistas depressivos pra baixar ainda mais o astral nesse invernozinho gripado e pouco contente do Rio de Janeiro, pensarão. Realmente, o que estou matutando pras próximas linhas tem contra-indicações, e é mais dor que sorriso. Se “a juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes”, como cantou de forma provocante Humberto Gessinger, eu não sei. Assim como não sei de muita coisa. Só sei que estou mergulhado numa das minhas confusões de existir. Amargo, tentando não perder o que me resta de doçura.Tenho, no decorrer da minha vida, aprendido a apreciar o amargo e também a me enjoar fácil do que é doce. Estou aqui nesta vida e neste mundo, e minha cabeça não mais vive tanto em outros mundos. O meu “algo além” não ultrapassa mais a estratosfera. Hoje pouco penso em astronomia, na organização dos astros – não que isso não mais me importe em definitivo. Os meus predadores, eles fazem-me ficar mais pra caverna do que pra céu. Quem são os meus predadores? São aqueles mesmos que me deram a vida e me ensinaram sobre a vida: os atores sociais. A sociedade é o deus dos deuses. Ela é quem nos faz ser e deixar de ser. Ela é quem nos ensina tudo o que sabemos e nos faz desaprender o essencial. Ela é quem nos torna confortáveis, “sociáveis”, e, ao mesmo tempo, nos deixa sem jeito, sem graça, com mal estar de ser. Ela e seus dogmas morais impossíveis de serem cumpridos com gosto. Ser imoral é estar vivo. E ser vivo é sofrer sanções de variada sorte.
Eu nunca tive paraíso, nem hipotético. Eu nunca acreditei em céu. E também nunca cri em inferno. E também nunca cri em formas absolutas de bem viver. Me fizeram pensar que eu pudesse acreditar nessas coisas. Creio que, na verdade, nunca acreditei em nada. Acho que eu fingi durante muito tempo – pra mim mesmo – acreditar. Mas isso já faz alguns anos.
Resta-me então agora olhar para o micro. A vida pequena e funcional. A cozinha, a sala, a cria, a companheira, os amigos, o umbigo: estas são as coisas às quais devo me ater. Verdade absoluta? Deus? Satanás? Espíritos? Big Bang? Galáxias? Creio que já gastei tempo demais com isso tudo. E, no entanto agora, o que entra no lugar de Deus e das Galáxias? O dinheiro? Não. Deus saiu e o dinheiro não entrou. Isso me deixou vazio de tudo, cheio de questões e formulações incompletas, que são como vapor de éter. Não guardo comigo as coisas que mais protegem um homem, são estas dinheiro e Deus. Sinto-me então às vezes como um pequeno homem solitário num pequeno barco, num grande mar, à mercê do tempo. Meus braços até têm alguma força para remar, mas a terra firme está longe demais. Minha vida é incontinência. Cansaço em descansos compulsórios.
(Este texto terá a continuação em 2 dias...)

Luciano Fortunato.
Próxima segunda, dia 19/10: "Por que as prostitutas alugam seu corpo? Por que achamos imoral? Por que eu quero transar com elas? Por que..." ROGANDO ENTRE NÓS", de Ulisses Figueiredo.

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