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sábado, 12 de setembro de 2009

Pedra Angular

Sabe qual é o melhor momento para se fazer reflexões sobre esta merda de sociedade em que vivemos? Na madrugada de domingo pra segunda!! Esse é o momento no qual você se conscientiza de que a labuta cíclica que nos é imposta à sobrevivência vai começar novamente. E foi numa madrugada dessas que eu escrevi esse texto pensando e refletindo sobre meus muitos (peguei leve) problemas pessoais. Eu pensava sobre quantas vezes minha vida havia sido frustrante e minha mente divagou até aquelas épocas. Sempre eu jovem em busca de afirmação social... e sempre quebrando a cara. Sempre que meu objeto de expectativa havia sido destruído ou desarrumado, o sentimento de frustração abatia-se sobre mim. Maldita sociedade que nos leva inconscientemente a buscar algo que nos afirme nesse mundo flexível e que nos acultura tornando-nos, juntamente com ela, cada vez mais flexíveis. É no mínimo patético ao ser humano dos dias de hoje, socialmente instável como cada partícula que o constitui, precisar de algo estável para sobreviver. Confuso? Vou explicar. Se pegarmos a exemplo a Idade Média (fui longe? Foi necessário... observe), podemos entender sua sociedade de ordens como um local temporal na História onde facilmente o indivíduo (que nem ao menos ainda reconhecia-se dessa forma) classificava-se de acordo com seu lugar funcional – que era estático, e por ser estático, não trazia a tamanha confusão que nós temos quanto a nossa identidade. Ora bolas: eles nasciam e morriam sabendo quem eram e qual era o seu papel na sociedade. Felizes por isso... Pois ao compararmos aquela estrutura psicológica com a de nossa época, onde as flexibilidades sociais, culturais, econômicas, funcionais, etc são a veia do sistema, poderemos entender a maior dificuldade que temos em ter o que nos mantenha ancorados, que nos sustente. E o buscamos freneticamente. Essa busca nutre nossas vontades e a mesma busca é o primeiro passo em direção à frustração.
Já escutei a frase: “Hoje em dia nós não mais somos. Nós estamos”.Uma alusão justamente ao caráter flexível de nossa sociedade. Mas veementemente acredito que mesmo no mundo em que vivemos, há algo de eterno e imutável em cada um de nós. Algo inerente a cada pessoa individualmente. Algo que precisamos encontrar para nos entender, para entender o mundo melhor. Para fazer o mundo melhor. O interessante é que isso todos já sabem, mesmo que inconscientemente. Todos procuramos, como eu já disse, algo que nos comprove a nossa existência. Algo que não nos deixe enlouquecer nesse mundo mutante. Uma pedra angular. As pessoas procuram e julgam a encontrar num amor, numa família, num trabalho, numa religião... Na verdade, há uma exteriorização do que deveríamos procurar em nós mesmos. O que acontece com a pessoa que julga ser o amor que sente por outra a sua pedra angular, quando tal pessoa não a quer mais? Se aquilo a sustentava nesse mundo instável, a sua perda pode ter reflexos extremos. “A casa cai”. Não existe mais uma base, um suporte àquela pessoa nessa existência. Daí a depressão e outras doenças elitizadas que já estão bem se democratizando.
Olhemos para dentro de nós mesmos e vamos procurar lá o que tentamos, talvez por comodidade ou facilidade, encontrar fora. Não devemos deixar que uma sociedade nos consuma desta forma. Não devemos deixar que o sistema nos faça crer que somos como ele: instáveis, corrosivos, vazios. Há algo em nós que nos define. Algo acima de qualquer modelo de vida imposto a qualquer cidadão nascido em qualquer época. Encontrar nossa pedra angular em nós mesmos nos dará coragem para transformar o mundo ao nosso redor sem medo de que isso nos destrua. Não dependemos do sistema. Ele depende de nós. Somos sua pedra angular. Se mudarmos dessa forma, talvez isso seja bastante frustrante para ele.

Ulisses Figueiredo.
Na próxima semana, dia 20/09: "Contagiar para que quando você estiver sem forças, quando estiver na parte de baixo da roda gigante ou desmotivado, sempre tenha alguém para contagiar você" PARA NÃO MORRER COM A GENTE, de Diego Sandins.

11 comentários:

  1. " O Mundo não é, o Mundo está sendo" Paulo Freire

    Eu concordo.

    Seria muita pretensão( ou burrice) fechar as cortinas para um ato de uma cena que não terminou.

    A cada pulsar de coração, a cada piscadela ( consciente ou não), a cada rugido de raiva, gargalhada ou lagrima que solta na nossa face, estamos construindo algo pra nos e pros outros.

    Não acredito em destino. Nós somos os arquitetos do nosso próprio caminho.
    Perseguimos algo que não está pronto, nao esta sólido, não está visivel, pq nos construimos enquando perseguimos.

    E esse caminho é o maior e o menos possivel.
    Explico.

    É o maior caminho, pois ele nunca acaba.. sempre trilhamos, e, lógico, com a nossa campanhia. Mesmo depois da nossa morte.
    É o menor caminho, pois nem precisamos percorrer nada, é só fecharmos os olhos e nos encontrarmos com nos mesmo, internamente.


    Sim, precisamos achar nossa aceitação, mas devemos comçar por nos...

    nem tão dificil é, mas facil parecer ser.

    Belo Texto

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  2. As pessoas procuram extensões de si mesmas, elas se sentem um enorme polvo no mundo, e as pessoas que elas julgam iguais se dependuram (in)conscientemente nos seus bracinhos porque querem, porque se acomodam, porque são fracas ou porque são manipuladas seja pelo que ou por quem isso acontece.

    Querem ser John Malkovich?

    Eu gosto de ser Danielle Ribeiro.

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  3. Concordo com o texto.Mas acho que as pessoas vivem em um mundo superficial, em que a verdade sobre o que somos não tem importância, o que conta é o nosso comportamento diante das pessoas que nos cercam.
    Em relação ao "sistema" ele foi criado por todo mundo.As pessoas quando estam de bem com a vida, fazem planos(compram casa,compram carro, se casam etc.)são a favor desse "sistema".
    Quando estão chateadas colocam a culpa no "sistema",que elas mesmas criaram.
    É pura hipocrisia da sociedade.

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  4. puxa vida... onde estaria este "algo além" que nos une? o texto é muito bonito e instigante, ulísses. e me faz pensar em algo que não me soa bem: que estamos "programados" ou "predestinados" a sermos alguma coisa. esta idéia que me veio não é a minha idéia sobre a vida humana. também não sei se entendi o teu texto, que é bem rico e provocante.(luciano fortunato)

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  5. (continuação) uma questão é "o que é mais forte na raça humana"? aquilo que vem de fora ou aquilo que vem de dentro? (l. fortunato)

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  6. Concordo e reflito com o texto e com os comentários, mas vale a pena também por em voga a questão que é tudo "construção humana", a existência, a vida, o "algo além" e etc. A gente tá sempre querendo definir e/ou classificar as coisas!
    é isso!

    frequentarei mais aqui!
    um abraço a todos, principalmente ao ulisses! =D

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  7. Adorei o texto, e só pra descontrair queria comentar que como disse a Dani Ribeiro, algumas pessoas querem ser John Malcovitch e ela prefere ser Danielle Ribeiro...eu também prefiro ser Dani Ribeiro rs... Abraço tri forte e parabéns pelo Blog! (Zeca Crescenco - EBA)

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  8. Gostei muito do texto.Vejo que as pessoas não tem a força de vontade para mudar, elas apenas são escravas dessa sociedade em que vivemos, uma sociedade na qual valoriza só rostos bonitinhos e diversão, assim vivendo em uma falsa realidade.
    A falta de vontade para ir para a verdadeira realidade, é a grande falha do ser humano hoje, e com isso o mundo vai caminhando em direção ao Caos Iminente. Quando a sociedade e a massa abrir os olhos, irá ser tarde demais.
    Como diz um livro de Rpg que eu adoro:
    "A Realidade é uma mentira, a verdade é magica, abre teus olhos e desperta".

    abraço a todos, e um abração especial ao Ulisses.

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  9. Excelente texto, Ulisses. Realmente, estamos nos tornando dependentes da externalidade. Infelizmente, privamo-nos da felicidade ao nos conscientizarmos de que há uma multiplicidade de pedras angulares, todas elas insuficientes na nossa incessante busca pelo "algo mais".

    Abraço e parabéns pela genialidade!

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  10. pow a sociedad, constantment nos força a eskecer nossos ideiais, para q ñ tomemos um rumo certo, e assim agent fik sem rumo nessa droga de mundoo!!!!

    ps.: olha q gay essa fotinha do ulisses(ñ se espante, e pior ao vivo)

    abraço

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  11. Pow, minha pedra angular era comprar um carro do ano e depois que ele não fosse mais do ano comprar outro do ano e assim sucessivamente até o fim dos meus dias.
    Assim, vc. tira meu chão seu fdp!!
    Brincadeira, valeu mano Clóvis, muito bom!!
    Tito

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