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segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

O Camaleão

Eu conheço DEUS!!! Eu o sinto!!! Está sempre sentado na mesa comigo. E quando vou ao cinema, Ele vai junto. Mas, quando bebo, Ele não me acompanha. Nunca está a fim de se destruir. Sempre anda comigo e me ensina as coisas do modo mais doloroso.
Conheço pessoas que também conhecem DEUS, e se comunicam o tempo todo com Ele. Mas, sei também de algumas que pensam que conhecem DEUS. E se sentem sempre acima de nós. Mas, essas estão sozinhas, perdidas no mar como uma barra sólida de chocolate, que na verdade, não é sólida e irá se derreter em poucas horas. Procuram um grão de ouro num caminhão de areia.
Ei!!! Porque você acha que tem sonhos melhores do que eu? Só porque os meus ainda, não se tornaram reais? Estou apenas, no começo da vida e ainda, aprenderei muita coisa. Sinto-me como um camaleão que pode mudar o rosto muitas vezes e preferir sempre, quando bem entendo, o lado mais obscuro (o da morte).
Estou agora, com DEUS!! Ele entra em mim e assume as minhas palavras. Me deixa deprimido, para depois me levar ao êxtase!!! Faz parte do seu plano, ser diferente comigo. Ele sabe que eu queria ter sido Elvis, mas nunca, nunca Jim Morrison!
E você garota? Está tão triste e sozinha. Devia conversar um pouco mais com Ele. Incluí-lo nos seus sonhos para que seja verdade. Levá-lo a uma festa de amigos... e não voltar muito tarde. Ele dorme cedo. De madrugada são seus anjos que nos acompanham. A não ser, que haja um show de rock. DEUS adora rock and roll!!
Já imaginou?!? DEUS dançando rock and roll nos seus olhos, na sua mente, escandalizando igrejas e seitas que pensam que Ele é doente.
É assim que eu o vejo e sinto. É assim que Ele está em mim. Como um camaleão assumindo várias formas. Como você, sempre dentro, me fazendo suar, chorar e tremer por amor.


Sandro Cortes.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Triste Retrato De Um Planeta

A verde poeira cósmica,
Matéria prima de futuros móveis,
Está sendo varrida de forma tão metódica
Que breve nos deixará imóveis.

Máquinas assassinas
Operadas por um homem só,
Movidas a gasolina,
Fazem um estrago de dar dó

Ardentes braseiros
Com sua fumaça cinza,
Malditos carvoeiros
Sufocando o que resta de brisa.

Carnes vivas ocupam os pastos,
Outrora de outras vidas.
Grandes florestas tornam-se mato,
Flora e fauna destruídas.

Em nossas casas comemos carnes,
Construímos churrasqueiras.
Sem pensar que em outra parte
Já não há mais cerejeiras

O azul agora é cinza,
O sólido branco derrete-se,
O que sobrou de verde agoniza,
Todo o colorido fenece.

Triste retrato de um planeta!
Pintura em branco e preto.
Visão que deprime e atormenta,
Causando um profundo efeito.

Até quando seremos expectadores?
Quanto ainda vamos aguentar?
Deveríamos ser protetores
De nossa terra, nosso lar.


André Fraga.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Rolam Os Dados... Dão-se Os Rolos

Os Paralamas do Sucesso - Aposte Em Mim
Se é assim mesmo, que assim seja/Me sinto numa cilada/Ouço sinos de uma igreja/Quando é plena madrugada/Sei que temos nossas rotas, fossas para superar/Sinto que nesse caminho, nossa luz vai se afinar/Sei que quando sopra o vento/Em nossa tensa estação/Sinto o sopro calmo e lento/Fundo em meu coração/Se eu te trago sorte, aposte em mim/Se te deixo mais forte, aposte em mim/Te faço ver o norte, te dou rumo/Prum eterno amor sem fim...


Quer dizer, não.. não foi sorte.Calma... não estou desmerecendo sua companhia.. longe de mim.Ok.. já que você ta aí, vamos falar disso.. de sorte. Aposto que você vai gostar.Mas afinal o que é sorte?Aquilo que te faz botar um galhinho de arruda atrás da orelha, um pé de coelho nas mãos e uma figa enfiada sei-lá-aonde?( isso vai do gosto, ou da " sorte" de quem enfiou)Jogue os dados e vai descobrir que nada irá acontecer de diferente, do momento que decidiu apostar em algo movido somente na sorte... prefiro os rolos que se fazem enquanto pensamos na sorte( e ela não pensa na gente).Mas que coisa.... nem falamos direito de sorte e já chega a desagradável companhia da superstição. Mas que coisa! Eu não deixei meus chinelos virados pra baixo, não passei por debaixo de escada, não cruzei o caminho de um gato preto, e ela me aparece!!?Mas que bobagem, viu?? Só falei na superstição uma vez e ela já querendo fazer que esse texto se guie " à sua própria sorte"? Não deixarei... azar o dela.Falemos de algo mais prático e concreto, embora eu adore viajar sobre o abstrato.. acaba que eu vou unir as duas coisas.Nada de "pé-de-pato-mangalôtrêizveiz", acredito na sorte como uma coisa que acompanha quem se persevera a realizar suas coisas de maneira sem ( utilizando a linguagem de empresas de seguro, que por sinal são as que mais lucram com a sorte, ou a falta dela) algum " sinistro".Você deve estar se perguntado: " mas esse cara tá de brincadeira... como que a definição dele de sorte, é exatamente não ser surpresa??"E isso mesmo. Acredito na sorte como a união de oportunidade e habilidade. Nada cai em nossas mãos do nada! Não somos uma espécie daqueles " pula-pulas" que os bombeiros usam para acolher pessoas que pulam de prédios em caso de incêndio.Que pessoa você pode ser, se você achar que as coisas mais valiosas que você consegue fossem conseguidas " do nada", "na sorte", na popular, cagada!?( alíás.. porque é "cagada"? Afinal cagada é algo que você tem que fazer força pra fazer.... não é o caso da sorte! hahaha).Após essa parte um tanto quanto escatológica do texto, voltemos...Afinal, seria por sorte que você consegue ter companhias legais?? Aquelas pessoas que põem a mão no seu ombro de "apostam em você"? Prefiro acreditar que não! Aliás, pra mim não é.Eu ajo, ou tento agir de uma maneira que eu consiga " ter a sorte"( não liguem, é só força de expressão) de ter pessoas que me tirem de ciladas, que me façam festa na madrugada, me ajudem a tocar sinos, ou beber, rezar ou dançar. Que se fazem luz no meu caminho e se deixam iluminar por mim.Que faz me guiar pelo vento, abusar daquilo que chamam de sorte, pois terei no meu caminho pessoas que me darão algo mais valioso do que a sorte, um sopro bem no coração!Quem será maluco de achar que isso é feito com sorte?? Eu não, não acho, e se achasse, muito provável mente não iria tentar melhorar e iluminar mais ainda o caminho de quem aposta em mim, e assim, sempre ter pessoas em quem eu aposto perto de mim.Apostar neles me deixa forte... forte para merecer que eles assim apostam em mimpode apostar!

Diego Sandins.

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Aborto

Eu estava assistindo o programa DebateMTV, mediado pelo ilustre João Luíz Woerdenbag Filho[1] sobre aborto, agora a pouco (dia 19/10/10). Resolvi “falar” sobre o assunto. A discussão de cunho cultural, religioso e social, extrapolou seus limites e tornou-se político e propagandístico no momento em que a candidata (possivelmente eleita quando esse texto for postado) Dilma Roussef declarou a postura do seu partido (PT) a favor da descriminalização do aborto. Logo após isso o assunto sofreu o efeito dominó, levando o candidato José Serra (PSDB) a declarar-se contra essa “legalização”. Bom... primeiro deixem-me fazer um levantamento sobre minha opinião relativa às intenções dos presidenciáveis com tais declarações. Dilma tenta obter o maior número de votos femininos possíveis alegando segurança para a prática do aborto (questão da Saúde), bem como a proteção do Estado às mulheres que eventualmente fossem se submeter à essa cirurgia (questão Criminal), e também a toda aquela galera a favor dos direitos humanos. O candidato Serra, ao meu ver, aproveita-se da brecha cedida pela oposição e declara-se contra, ganhando apoio de amplo setor religioso(e não só desse setor) da sociedade. Penso que seja por aí. Enfim, a discussão elevou-se imediatamente a níveis inimagináveis até antes da declaração da candidata. Ela está presente dentro de casa... nas escolas... nas igrejas... nos jornais... nos veículos de informação de uma forma geral. E agora está n’O Clóvis... rs
Vou destacar o que eu penso ser o pivô das discussões: quando se fala no conceito de vida. A questão que eu penso ser cada vez mais estrutural nesse debate é sobre quando se pode dizer, após a união do espermatozóide ao óvulo, que existe vida: Os que são contra a descriminalização do aborto acreditam em pesquisas que consideram a vida um processo, dando exemplo de que mesmo uma criança de três anos de idade estaria em processo de formação. Com esse argumento, que eu absorvi como o principal e mais lúcido destes partidários, eles comparam o aborto ao assassinato de uma criança daquela idade. Faz muito sentido, ao meu simplório olhar.
Já os seus opositores, consideram a vida um conjunto de órgãos em pleno funcionamento. Sendo assim, um feto não poderia ser considerado Ser Humano (aquele mesmo defendido por nossa Constituição de 1988
[2]), da mesma forma que um fígado, isolado das demais partes do corpo, não o seria. Isso porque não há órgãos funcionando plenamente em conjunto no feto. Porra... faz muito sentido também.
Eu percebo uma discussão onde o foco está sendo mal direcionado. Mesmo que neguem, os opositores da postura petista (e não só do PT) acabam se lançando de argumentos religiosos em suas discussões. O que é inviável se querem ser levados a sério. Não que eu não acredite em Deus, mas cristãos tendem a impor seu modo de pensar a outros, acabando por perder a razão e a moral na discussão. Isso pode ser mesmo reflexo da história do cristianismo e de como se deu sua sangrenta expansão. O filme Ágora (Amenábar, 2009) pode esclarecer o que digo. Quando o debate chega à apresentação daqueles pontos que destaquei, para rebater o argumento dos que são a favor da legalização, os primeiros insistem no “sopro divino” que dá vida ao feto em formação. Para mim eles perdem aí a razão. Você não pode expor um conceito religioso, considerá-lo paradigma geral, e esperar que tudo se resolva nisso. Estão errados. Da mesma forma em que estão errados quando colocam o combate à promiscuidade, razão da gravidez indesejada, como “solução” prévia que tornaria desnecessária a discussão do aborto. Agora vou colocar finalmente meu ponto de vista sobre o problema todo, e que eu penso que esteja mesmo nesse ligado ao combate à promiscuidade. Mas não da forma como ela é pretendida. Ou seja: levando jovens à igreja para que sua moral consiga sufocar os desejos carnais humanos... o hedonismo contemporâneo. Trata-se sempre disso: uma moral que suplante a humanidade animalesca expressa pelo sexo desmedido. Bakunin, em seu livro Deus e o Estado, já nos alertava para o perigo às sociedades causado pela exaltação espiritual e conseqüente rejeição do Homem. Enfim, meu ponto: O ABORTO NÃO PODE SER LEGALIZADO. Legalizá-lo ou, em outras palavras, descriminalizá-lo, implica na aceitação constitucional do modelo cultural que nos é empurrado garganta abaixo por toda a mídia atual. O que vemos hoje é uma tolerância total ao individualismo que vem se formando, como descrito em Modernidade Líquida (Bauman, 2002). Não estou sendo a favor de uma repressão aos direitos e vontades individuais, mas a tolerância também pode causar uma repressão, e de pior forma: daquela que não se percebe. O que eu quero dizer é: se você legaliza o aborto, você formaliza o apoio à cultura do sexo banalizado, que não é ruim por si só, mas por trazer com ele a exaltação das aparências, das imagens, da estética. De tudo que é visual, ou melhor, sensual. Estamos entrando em um neoclassicismo exaltador de tudo que mencionei. Mas não como o dos renascentistas conscientes do que faziam, mas sendo sufocados por uma cultura que reprime todos aqueles fora de seus padrões. Cirurgias plásticas, centros de estética, spás, academias... não há como escapar dessa repressão cultural imposta pelos que não querem que nos preocupemos com mais nada além de nossa imagem. A banalização sexual é conseqüência disso... a legalização do aborto vai contribuir mais ainda. Entendam: não sou contra o direito das pessoas escolherem, mas sim contra o desenvolvimento político dessa imposição cultural que sofremos. Isso vai acontecer e já está acontecendo com o PNDH3 (2009), assinado pelo nosso atual presidente em dezembro passado. Outra hora me dedicarei especificamente a esse plano, mas fique exposto que sob a capa de direitos humanos, esconde-se uma repressão à moral e valores coletivos. Um Estado que combate valores coletivos acaba desestruturando a sociedade civil em benefício próprio, ganhando coro – camuflado sob a égide de “direitos humanos” - a qualquer desconstrução cultural, dando-se o direito de reprimir quaisquer expressões morais de determinados setores da sociedade. Como eu disse: haverá uma repressão camuflada de tolerância. E essa repressão já vem ocorrendo desde fins do século passado com a imposição do hedonismo. Se o indivíduo não se enquadra no modelo estético apresentado e amplamente divulgado pela grande mídia, ele é implicitamente rejeitado pelos seus pares. A valorização de sua aparência leva a supervalorização do individual, fazendo assim com que nós concordemos com direitos que nos protejam a toda e quaisquer expressões que possam nos fazer sentir agredidos de alguma forma. As manifestações culturais passam a ser legalmente alvos do indivíduo. Instala-se, portanto, um caos cultural onde somente o Estado terá poder, através dessas leis em prol dos direitos humanos, para conter tal confusão social. Tal poder agirá sobre o indivíduo sem uma base social concreta, dando total arbitrariedade e conseqüente poder ditatorial repressivo ao Estado. E pior: tudo isso mascarado sob a forma de direitos ao cidadão. Eu não sei até onde me considerariam anarquista, mas eu me considero como tal pelo pensamento comum de luta ideológica contra qualquer forma de poder manifestada na e sobre sociedade. E estive pensando constantemente sobre o quão paradoxal se torna meu direcionamento ideológico quando exponho uma opinião como a deste texto. Como poderia eu me declarar anarquista e ao mesmo tempo contra um programa do governo brasileiro que destaque os direitos humanos? Acho que esse texto contra o aborto explica meu ponto de vista. Uma ação governamental em prol dos direitos humanos apenas daria mais poder ao Estado, retirando do indivíduo sua última proteção: a moral social. Seja lá qual for. Todos concordamos que para que uma revolução social ocorra, é preciso que as estruturas morais sejam desconstruídas. Como afirmava o “Sr.Marx”
[3]: “tudo o que é sólido se desmancha no ar”. Porém, acredito que essa desconstrução tenha que ocorrer naturalmente, dentro das próprias estruturas de moral espalhadas por aí. A ação do Estado catalisa o processo que Bauman anunciou de que a atual desconstrução das morais existentes não está sendo acompanhada pelo surgimento de uma cultura substituta, como o queria Marx, mas sim pelo seu desaparecimento total. Aqui eu caio em outro paradoxo ideológico: como posso ser, em meus termos, um anarquista e estar reclamando do desaparecimento dos sistemas de moral existentes? É que, justamente, esse desaparecimento está vindo “de cima” e em benefício do Estado. Iludidamente eu ficaria contente com um PNHD da vida e a legalização do aborto, por serem questões defendidas pelos anarquistas. Em outras palavras: o humanismo. Contudo, essas transformações estão mascarando o controle social que o Estado ganhará. Mais: estão gerando o controle social.
As pessoas não estão preparadas para uma revolução social/cultural. Infelizmente, ainda é necessário o que Carl Sagan chama de “bússola moral” que direcione o espírito dos homens ao pleno convívio com sua espécie e com o planeta. Posso até mesmo ser chamado de moralista ou reacionário, mas sou contra essas mudanças pois os brasileiros que as apóiam não são cidadãos esclarecidos e cientes do que pode realmente acontecer, mas sim cidadãos que sofrem lavagem cerebral todos os dias e que esquecem do que realmente importa.
Para mim, a questão do aborto é um passo que não podemos dar se não quisermos baixar nossas cabeças ao Leviatã que está ganhando forma bem diante dos nossos olhos, com nossa aprovação e exaltação.


[1] Lobão.
[2] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida (...).
[3] Assim Chamado no século XIX por P.-J. Proudhon.

Ulisses Figueiredo.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

As Criadas

As Criadas, obra de Jean Genet, nos conta a história de


Duas mulheres: Irmãs, amantes, rivais e criadas. Na ausência da patroa, satirizam suas condições humildes, personificando fantasias de libertação e luxúria, ora servas, ora senhoras. Num jogo em que se confundem poder e submissão, amor e ódio: pela patroa e uma pela outra.


O texto original é primoroso. Dispensa comentários. Sobre o que quero escrever, na verdade, é sobre o espetáculo apresentado na noite de 22 de outubro, no Centro de Convenções de Ouro Preto - MG, dirigido por José Luiz Filho.Apesar da história retratar personagens femininas, o elenco é composto apenas por homens. Só por isso já é impactante por quebrar certas conveções sociais. Cinco rapazes de saia interpretando uma madame e duas criadas. Parece confuso? Talvez seja essa a intenção. Quem nunca se viu como uma autoridade num instante e no outro como um serviçal?

O mais interessante é o desdobramento e fusão das duas criadas, causado pela presença de quatro atores carecas no palco e pelas suas saias que mudam de cor, num gesto rápido e expansivo. O que dá uma idéia de espelho e/ou múltipla personalidade que nos confunde e intriga.Apesar do cenário e do figurino serem bem simples, o jogo de luz e a soberba atuação do atores provam que são mais do que suficientes, deixando o resto com a imaginação do espectador.

Além do jazz estonteante de Billie Holiday, a peça conta com um leve toque da banda de rock japonesa Maximum The Hormone. Música boa nos momentos certos.


Não é por menos que acaba de ganhar os prêmios de melhor espetáculo e melhor cenário do III Festival Universitário de Patos de Minas. Essa peça é o terceiro trabalho da Cia Teatral Confraria Tambor, fundada em 2004 por atores de Uberlândia interessados em montar um elenco masculino que abordasse cenicamente questões ainda na ordem do dia, tais como a relação de poder, o confinamento, a violência e o submundo.Sem exagero, é a melhor peça teatral que já vi. Vale a pena conferir.

Vinícius "Elfo" Rennó é graduando em Letras pela UFV. Gosta de cozer bem o que escreve. Basicamente, trata-se de um leitor glutão, amante de cinema e viciado em música. Atualmente é membro do corpo editorial da Contemporâneos – Revista de Artes e Humanidades e, juntamente com a Prof. Dr. Ana Maria Dietrich, coordena a ContemporARTES – Revista de difusão cultural.

Este texto foi mais uma contribuição do blog Revista ContemporARTES.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

mandEM RISCO DE PALAVRA

Cabeça, tronco, extremidades e palavra.Encarnada, na vasta unidade do corpo, a palavra faz p(arte) de nossa condição humana. Ela integra e revela, sabiamente, uma cartografia inquieta de necessidades e desejos do Ser diante do mundo e diante de si mesmo. Como estranho registro de identidade, ou variante eficaz do DNA, nosso acervo pessoal de palavras congrega a condição filo-onto-genética que nos sustenta.

Assim, afetos e desafetos; tramas e traumas; medos e coragens, entre outros sentimentos fundamentais, registrariam uma gramática pessoal que numa somática singular, semantiza corpo e alma.Cada vez que me toca solicitar aos integrantes da minha oficina itinerante - Lavra-Palavra - que resgatem do fundo do baú da memória uma palavra da infância, presto especial atenção à postura do corpo diante da palavra somatizada do participante: muda o timbre da voz, alguns ficam curvados, outros parecem elevar-se; alguns ruborizados, outros pálidos. Uns afundam os pés no chão, outros brincam nervosamente com eles. E os joelhos? Como não lembrar, então, das palavras bíblicas do evangelho de São João, percebendo o verbo intensamente habitado e feito carne, feito sujeito do discurso-memória, do discurso-sentido, do discurso-mundo.
Como educadores percebemos que a palavra está longe desta percepção encarnada e substancial, na escrita e na oralidade de nossos acadêmicos das tão Humanas ciências - área de Letras, de Pedagogia, de Filosofia, de História, de Sociologia, de Comunicação - justamente aqueles que formarão novas gerações de educadores dos educadores de tantas crianças.




Com que freqüência descobrimos que acadêmicos dos cursos de graduação e até de pós-graduação procuram a facilidade e o imediatismo da palavra de segunda ou terceira mão, disponível na prateleira para ser servida, ingerida, digerida, rapidamente, de preferência num prato corrido, urbano e banal.

Sabemos que essa palavra alheia que não passou pela interação com o outro e consigo mesmo, que não passou pelo diálogo recursivo com outras leituras e com o mundo, não permanecerá por muito tempo, nem na memória nem no coração de quem a procura e se serve dela. E o mais importante, não provocará o nascimento de outras palavras sentidas e pensadas.


O risco em si tem algo de inaugural, de primeira vez, de nascimento. Certamente colocar-se em risco de palavra, não significa apropriar-se da palavra apenas útil, somente comestível e prosaicamente disposta para garantia da sobrevivência, até o dia seguinte. Palavra, assim, tão sem vida, não permitiria ao usuário o tempo do aroma, do gosto, da percepção da geometria e da cor.

Esta palavra disponível nas mil e uma páginas dos livros ou na tela do computador, ou mesmo na voz do outro, nosso semelhante, não permitiria adivinhar-lhe a textura dos seus talos, folhas, raízes, sem a devida empatia e atenta escuta em relação a ela.




A gente não quer só comida, lembra uma bela composição de Arnaldo Antunes. Nesse sentido, é necessário modificar o ritual do banquete e modificar também a percepção e a relação com as palavras que estão aí, no mundo, saborosas, vivas e inquietas para ser selecionadas e degustadas com critério significativo vivamente vivido e estético.






Que o digam os poetas que voltam seus mais de cinco sentidos em todas elas. Que o digam os leitores de literatura que exercitam o abecedário imaginal, vasta fonte que desacomoda nossas rotineiras certezas.





Hoje a coluna Incontros trouxe um texto da querida professora Glória Kirinus. Ela é escritora bilíngüe e ministrante da oficina "Lavra-Palavra", além disso é representante da AEI-LIJ/PR (Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infanto-Juvenil no Paraná).







Izabel Liviski é Fotógrafa e Mestre em Sociologia pela UFPR. Pesquisadora de História da Arte, Sociologia da Imagem e Antropologia Visual. Escreve quinzenalmente às 5as feiras na Revista ContemporArtes.
Este texto foi uma contribuição do blog Revista ContemporARTES.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Eu Quero Que Todo Mundo Vá Tomar No Cu!

Meu antigo corpo está pedindo separação total de bens desse corpo novo que vem tomando conta de mim. Ele só quer se desvencilhar desse novo hospedeiro cheio de frescor e petulancia que se apoderou dos domínios da incerteza margeados por esse limbo de insegurança. O velho até que tentou comungar com o novo, tentou enxergar as novas aprendizagens, os novos prazeres, os novos medos também, mas fraquejou e começou a se arrebentar. Essas estrias que delimitam meu corpo, em ombros, barriga, glúteos e seios parecem ser o reflexo do velho no novo, o já gasto, o já escrito, o já acostumado a chinelos de pano e manhãs fúnebres de domingo. Meu antigo corpo quer se matar, ele já não aguenta mais a vontade de ser livre desse novo corpo, esse delírio adolescente de não ter pudores e se mostrar sim, afinal é apenas mais um corpo... e inteiro, por centelha divina ou asiática.Meu novo corpo é uma amante traída, uma viúva vingativa, uma garotinha egoísta e quer inteiramente se apossar do velho corpo. Ele vai matá-lo de tanto tesão, cavalgar com ancas largas e sorrisos libidinosos até que o corpo velho sorria para a morte que ele tanto deseja E PRECISA. Ele não concebe mais o fato da tristeza, da não crença, da vergonha, das projeções infelizes dos projetos vividos e não paridos, estarem nesse mesmo vôo de balão. ELE NÃO VAI DEIXAR.ele vai matá-lo em dedos novos nos terminais antigos de prazer só pra deixar o corpo velho ao som da pequena morte. Do gozo.

Danielle Ribeiro.
Na próxima semana estaremos publicando dois textos do nosso blog amigo Revista ContemporARTES.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Posso Morrer Amanhã E Perder As Idéias

Hoje acordei e o tempo era outro. Não era mais o mesmo tempo de quando dormi. Não digo que isso é uma novidade, ou que sempre é tudo igual, mas é que, havia uma certa urgência no dia. Não havia tempo a perder na frente do espelho do banheiro tentando calcular as tarefas do dia ou querendo enxergar mensagens filosóficas no reflexo dos meus olhos.O que quero dizer, é que não havia tempo para pensar no que já havia feito nos últimos 38 anos, no que falei sem pensar ou nas palavras que engoli e acabei cuspindo na pia ao acordar. Não tinha como voltar lá atrás para pedir perdão a quem magoei com um monte de "merda", ou então, para falar um monte de "merda" a quem merecia e não falei por medo, receio, ou porque caguei, somente.Não dava para ficar reparando nos quilos que ganhei durante o sono só de sonhar com rodízio de pizzas e no pouco que perdi porque deixei de comer aquele x-tudo antes de ir me deitar. Não comi por culpa, mas dormi com fome.O fato é que acordei sem tempo para o café e as manchetes sobre a política, tragédias, esporte, e economia. As mesmas do jornal do dia anterior, as mesmas de três dias atrás, as mesmas da semana passada, do mês passado, ou mesmo, dos anos anteriores.Tinha que me vestir e sair correndo. Encontrar a rua e o acaso soprando no asfalto, a meninada dos colégios emanando liberdade sem culpa, a dúvida de cada esquina, os ônibus e suas buzinas e o cheiro de vida que brota dos ralos. Era isso!! Eu precisava ver tudo e que tudo me visse! Não sabia do dia de amanhã. Não sabia das novas notícias, dos novos amores e dos falsos amores, ou mesmo dos horários dos transportes urbanos. Tudo poderia mudar. Ou pior, no outro dia meus olhos não poderiam ser mais os mesmos, e minha urgência, ter tempo e hora marcada.Por isso, investi em cada piscar de olho e não perdi um só cavalo, branco ou preto, que cruzou a minha estrada, não perdi nenhuma essência.

Sandro Cortes.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A Carta

Vocês que hoje nos perseguem,
Também já foram perseguidos.
Vocês que hoje nos enganam,
Também já foram enganados.

Você que hoje nos lidera
Por caminhos já traçados,
Lembre que já viu a fera.
Se sentiu desesperado.

E seus olhos hoje cegos,
Enxergavam tudo às claras.
Seus ouvidos hoje são surdos
À vidas que lhe eram tão caras.

Não estamos seguros nos ares.
Não estamos seguros nos lares.
Não estamos seguros nas ruas.
Não nos defendemos nas urnas.

Atiram contra os homens.
Massacram as mulheres.
Sufocam as crianças.
Arrancam nossas peles.

Sustentam esperanças.
Alimentam ilusões.
Prometem a bonança,
Nos reservam furacões.

Se alimentam de sangue,
Sugam nossas veias.
Roubam nossos cofres,
Ignoram nossas leis.

Brincam com a verdade,
Zombam da justiça.
Perpetuam a maldade.
Vivem na cobiça.

Não estamos seguros nos ares.
Não estamos seguros nos lares.
Não estamos seguros nas ruas.
Não nos defendemos nas urnas.

Lançam gases tóxicos, sufocam o planeta.
Abrem um buraco na câmara de sobrevivência.
Hoje temos medo de raio ultravioleta.
E como é que viveremos com essa ultraviolência?

Como é que viveremos nessa grande decadência?
Cercados de líderes corruptos,mentirosos e covardes.
Empresários assassinos sem um pingo de decência.
Traficantes dominando nossas noites,dias e tardes.

Não estamos seguros nos ares.
Não estamos seguros nos lares.
Não estamos seguros nas ruas.
Não nos defendemos nas urnas.

Estão matando nosso povo.
Estão matando nosso orgulho.
Estão usando as mesmas armas,
Que ceifaram tantas vidas.

Fomos condenados à morte por motivos absurdos.
Fomos reduzidos à sorte de um velho moribundo.
E você que hoje é império
Não se esqueça que amanhã será minério.

Nada vai sobrar. É sério!


André Fraga.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Ácido E Doce Como Uma Boa Limonada

Skank - Réu e Rei
Desde que você disse nem/Saber quem foi John Coltrane/E Noel Rosa era alguém/Que seus tios gostavam bem/Eu te amo desde que/Anjo caído cai/Desde quando nem vi/A sombra do amor ali/Desde que não fugimos/Pras ilhas de sal, pros cimos/De neve que nunca vimos/Desde que nada infrigimos/Aquela tenda que não houve/Beijo nenhum a boca soube/Amor ao léu sem quem o louve/Cego que vê,surdo que ouve/Quantos pais eu já matei/Ao mesmo tempo réu e rei/A lua, o quarto, me deito, me dei/Por perdido assim que te achei.

Eu não gosto de amarelo. Mas, pensemos, o que seria do verde se ninguém gostasse de amarelo?Nada. Tão pouco se todos gostassem só do amarelo.Se for analisar... o amarelo não é tão ruim assim. Eu, pelo menos, gosto muito mais de milho do que de azeitona.Andando pela rua e parando pra pensar nas sortes e revezes que a vida nos prepara, percebi que, mesmo que seja "fisicamente" impossível enxergar " os dois lados da moeda" ao mesmo tempo, isso não quer dizer que não existam.O texto de hoje é exatamente sobre isso... os dois( ou vários lados) lados das coisas da vida.Você pode ser como John Coltrane, mandar bem no sax, dar interessantes pitacos no rock ou até na música erudita... isso é ótimo.Mas como também não ser um Noel Rosa? Os filmes sobre ele e sua presença a importância na famosa Vila Isabel, com sua voz e seu bandolim, promove a legitimação do samba de morro com o "asfalto".Eles são muito Diferentes?? Bem menos do que se imagina. Cada um à sua maneira e à sua época foram líderes, construíram algo de importante. Fazem valer que, mesmo por caminhos diferentes, pode-se chegar a feitos parecidos.Fico pensando aqui o quanto prejudicial seria se eu torcesse o nariz pra um ou outro.. talvez eu fosse castigado e fosse transformado uma moeda de uma face só... algo bem obscuro, embora o nome( se não lermos pelo sentido material) não aparente ser.Só lembrando.. não to propondo "ser duas caras", falsidade não combina comigo. O lance é que tanto a cara, tanto a coroa, devem fazer parte da vida.Ora, ter coragem e/ou maluquice de botar a " cara" nas situações; ou conseguir ter a experiência de um "coroa" em outras situações. Tudo está ligado!Eu sei, você deve estar pensando: " ahh, é fácil falar... você fica aí, falando isso, de longe... tu não sabe como é minha vida!". Eu sei, eu fico pensando( muitas vezes reclamando) quando algo acontece de ruim na minha vida, como é normal ficar chateado, se perguntar por que se passa por isso.Taí a resposta... lembre da moeda!Assim como quando acontece algo muito bom, não prestamos atenção( estamos muitos felizes e ocupados para isso) de que algo pode não ter dado certo, algo poderia melhorar( sim, não tenhamos medo de ser exigentes); devemos ter a paciência, pois podemos encontrar algo que nos fortaleça, nos ensine, nos guie, mesmo nos momentos difíceis e tristes.Devemos ter humildade de manter momentos de réu na hora de que somos "Rei"( ou "Rainha", para contemplar as valiosas mulheres que lêem esse humilde blog); e não podemos deixar de ter no nosso coração e na nossa cabeça, traços positivos e, digamos, majestosos quando estamos na posição de réu.O que fica é que sempre andaremos numa estrada, cabe a nós, fazer com que a mão dupla nos leve a caminhos interessantes.E quem diria que um breve jogo de cara ou coroa poderia render alguns dedinhos de prosa?Agora vou lá tomar minha limonada... afinal o limão é ácido... mas também pode ser doce... depende do ponto de vista.


Diego Sandins.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sentado

Por que eu não levanto? Por que não levanto meu rabo de onde quer que ele esteja pregado, nem um minuto a mais e nem um minuto a menos, para ir a lugar algum? Existem muitas coisas que me fazem ficar em casa. Minha querida ingênua mãe e a única comida no mundo que não me dá gases... meu irmão brincalhão e invejosamente alheio às filosofias existências que me atormentam... minha namorada com seus instintos próprios do século XX de plano de carreira, de vida, de tudo.
Havia mais que pregos que me prendiam à minha casa. E quando falo casa, digo a todos os locais onde, principalmente, estão estas pessoas. Acontece que eu mudei. Mudei muito desde aquelas escolhas. Sabe aquelas escolhas que mudam pessoas? Não é como escolher comer ou no Bob’s ou no McDonalds. São escolhas que te transformam e que não são trapaceiras a ponto de só revelarem suas intenções após você não ter mais a opção de voltar atrás. São daquelas que vêm com o manual no qual estão bem explícitas as conseqüências de ligar sua TV de LCD 42”, recém comprada em 24 prestações, numa tomada 220V. É dessas escolhas que eu tô falando. Num momento se está diante da Bíblia e de algum daqueles livros de Richard Dawkins. Você escolhe o último e sabe muito bem onde isso tudo vai parar. Você opta não por ser adverso ao senso comum, mas porque faz sentido ao seu coração... à sua alma. Essas escolhas transformaram aqueles pregos em tachinhas minúsculas. E isso não quer dizer que estou mais propenso a levantar e nunca mais voltar. Quer dizer apenas que não preciso mais de tanta força caso o queira fazer.
Mas eu disse que existiam mais que pregos. Minha própria essência não me deixa levantar a bunda daqui. E não tô falando da essência que me torna ser-humano. Mas da que me torna indivíduo. É ela que me identifica com Alexandre Supertramp, do maravilhoso filme Into The Wild, ou com Sal Paradise, do homônimo livro On The Road. Personagens que levantaram e saíram. Mas eu me pergunto se Alexander, vigoroso leitor das mais instigáveis obras que o Homem já produziu, teria esquecido de ler Hegel. Se o fizesse, talvez tivesse entendido, antes de sua Ilíada, que o homem não é Homem fora da sociedade, e talvez tivesse tido chance para sua Odisséia. E Sal? Teria saído em direção a Denver se tivesse emprego... mulher... amigos em Nova Iorque? Eu gosto de acreditar que sim... até porque amo esses personagens. Então, se meu espírito se identifica tanto com eles... porque eu não me levantaria? Ainda não sei. Acho que, simplesmente, eu não quero fazer isso. Não há mais aqueles pregos... minhas rechaçadas e criticadas escolhas os transformaram para mim. Sempre fui alvo de muitas opiniões e dedos em riste – ora indicadores, ora médios. E amo todas elas, porque a cada uma que sobrevivo – quando digo sobrevivo, refiro-me à sobrevivência da minha alma - , minhas pernas se tornam mais fortes.
Mas minha essência não me leva a virar as costas para tudo e todos. Pelo contrário... me faz ficar bem de frente. Parado. Como aquele monolito do filme 2001: Uma Odisséia No Espaço, do Stanley Kubrick. Parado bem ali aos que quiserem chegar perto. Sentado em “minhas casas” esperando os que quiserem algo de mim. Porém... diferentemente a um monolito, já tenho a certeza que, a qualquer momento, posso me levantar.


Ulisses Figueiredo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

La Jetée É O Máximo Dentro Do Mínimo

Aqui onde trabalho uma visão entorpece minha manhã: um ipê amarelo carregado de flores, que caem fazendo um tapete no chão ao seu redor. Isso dá um contraste lindo com o prédio cinza. Ou com o dia cinza. Ou, ainda, com a vida cinza. Se o ipê fosse retratado numa foto preto-e-branco ele não teria graça. Só tem graça ser retratado em preto-e-branco aquilo que já é preto-e-branco, como os sonhos. Como o filme que assisti há uns três meses. É um filme de 1962, francês, chamado La Jetée. Christian François Bouche-Villeneuve, com o nome artístico que o “popularizou”, Crhis Marker, é o diretor e realizador deste grande filme de meia hora de duração.O que La Jetée tem de mais? Em primeiro lugar, acho que o que ele tem de mais está exatamente onde tem de menos: é curto, sem cores, sem movimento... Isso mesmo: sem movimento. O filme é o que hoje, com a linguagem eletro-informática, poderia ser chamado por algum não-cinéfilo de slide show. É exatamente uma seqüência de fotos o que vemos na tela. Mas... calma... Há muito mais do que isso na obra de arte à qual me refiro. As belas e intrigantes fotos em p&b vão sendo colocadas de forma tão bem encadeada que às vezes somos iludidos – num efeito psicológico “foto-novela” – de que há ali um movimento, quando na verdade, não há. O fato é que as fotos em “slide-show” dão conta, sem problema, de contar-nos a história, e, desta forma inusitada, o roteiro flui muito bem, obrigado. Além disso, não são usadas apenas fotos, mas também fotogramas – o que significa dizer que algumas cenas foram filmadas previamente no método tradicional, extraíndo-se das filmagens apenas as fotos que interessaram ao diretor. Ou seja, fotografias são, na edição, mescladas a fotogramas (estes, que são cada uma das 24 fotos de cada segundo de um filme). Além disso, há ainda uma breve cena no meio do filme em que temos movimento, e não me cabe aqui dizer qual é.
Então La Jetée é um desses exercícios estilísticos feitos por um cineasta excêntrico da Nouvele Vague? Sim, de certa forma. Mas não apenas isso. Eu diria que trata-se aqui de muito mais. Imagine uma obra de arte que tenha influenciado boa parte da ficção-científica cinematográfica posterior – sim, o filme é de ficção-científica. Imagine que o filme foi feito nos anos de 1960 e ainda hoje é impactante. Imagine que o filme tem suspense, fantasia, amor e tragédia, em apenas meia hora de projeção. Então, imagine o que um cara que se diz cinéfilo, como eu, estava fazendo a vida inteira que não conhecia este filme... Eu. Justo eu, amante de filmes de amor e de ficção-científica. De filmes que fazem pensar, enfim. É, amigos... Nem mesmo em tempos de Internet dá pra se conhecer tudo o que foi (e é) produzido.
A trama? A bela atriz Hélène Chatelain, com seu incógnito rosto, nos conduz, juntamente com seu apaixonado – vivido por Davos Hanich – a uma viagem quase sem volta, da qual eu mesmo não voltei até hoje. Não sei se a trama do filme importa ou convenha ser contada aqui. Até porque o filme é tão curto... O que posso dizer? É mais ou menos um filme sobre viagens no tempo. Inspirou Terry Gillian à realização do esplendido Os Doze Macacos. Está bem assim? A narração de Jean Négroni, os intrigantes efeitos sonoros e a maravilhosa música de Trevor Duncan e coral da Catedral St. Alexandre-Newsky fazem toda a idéia funcionar, de forma macia e ao mesmo tempo áspera, própria à introspecção.
Universos paralelos, intuição de futuros apocalípticos, experimentação psico-estética, pactos com o impossível e com o imponderável, amores impossíveis, inexorabilidade do carrossel da vida, guerra, paixão, nostalgia, fim do mundo, mundos que habitam exclusivamente o desejo – inconsciente ou consciente... La Jetée. Compre, baixe, faça o que quiser, mas não deixe de conhecer esta pequena grande obra do cinema mundial.

Luciano Fortunato.
Próxima semana: "Num momento se está diante da Bíblia e de algum daqueles livros de Richard Dawkins. Você escolhe o último e sabe muito bem onde isso tudo vai parar". SENTADO, de Ulisses Figueiredo.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

De Muletas

Essa é a semana da minha estréia como colunista do blog. Aliás, é a minha estréia como colunista. Escrevo letras de música, projetos na área cultural, contos e outras coisas, mas nunca publiquei meus escritos em nenhum meio de comunicação, nem mesmo num blog. Por isso, estou muito feliz de fazer parte da família "Clóvis" e poder dividir minhas idéias com todos vocês, leitores. Infelizmente, pra mim, começo minha nova atividade revelando aqui as habilidades que adquiri nos últimos 23 dias, quando num jogo de futebol, quebrei meu tornozelo e rompi os ligamentos. Espero que ajudem todos vocês, leitores, a enxergar um lado positivo de estar imobilizado. Bem, pra início de conversa, essa infelicidade, ocorreu no dia 07 de Agosto e a cirurgia, a que fui submetido, aconteceu dez dias depois. À essa altura, você, leitor, deve estar se perguntando: "mas, que habilidades são essas, que um cidadão, operado do tornozelo, desenvolve em pouco mais de vinte dias?" Confesso, que minhas ordens médicas, foram para ficar em repouso absoluto, sem poder, em hipótese alguma, apoiar o pé esquerdo no chão. Então, para que não haja mais nenhuma áurea de mistério envolvendo o tema do meu texto, revelo que tais habilidades, são em relação ao manuseio das muletas, e como sobreviver nesta situação. Jogo futebol, praticamente, desde que nasci, e nunca, nunca mesmo, quebrei alguma parte do meu corpo, passei por alguma cirurgia ou levei algum ponto. Anestesia mesmo, só no dentista.Mas, desta vez, passei pelo pacote completo, uma espécie de "batizado" para sair dos "trinta" e entrar no "enta" (quarenta, cinquenta, sessenta, ....). E acho que pela primeira vez na vida, passei a dar valor ao meu corpo. Entendi o quanto precisamos de cada membro dele. É claro, que existem pessoas que já nascem sem algum ou que, por algum tipo de acidente, perdem alguma parte. Mas, vivem, normalmente, e felizes, na maioria das vezes. Mas, . . . . . . sem dor. Eu não perdi o meu pé, graças a Deus, mas, preciso de muito cuidado para me locomover, porque dói pra cacete!!! As duas noites que se seguiram ao pós operatório foram barra pesada. A primeira, ainda no hospital, precisei de uma injeção, do tipo "sossega leão" para conseguir dormir, e a outra, já em casa, não consegui pregar os olhos, mesmo a base de um coquetel de remédios, pesadissímos: cefalexina de 500mg, Voltaren de 75 mg e o PACO - paracetamol + fosfato de codeína de 530 mg. Todos esses remédios e mais uma rodada de cerveja, dá pra fazer uma viagem bacana, não? Mas, sai caro!! Bom, mas, vamos, ao que interessa. Uma das principais habilidades desenvolvidas, diz respeito ao equilíbrio. Hoje com o auxilio das muletas, sou capaz de subir e descer escadas, deslocar-me com tranquilidade por entre os móveis das sala, vestir a cueca ou a bermuda num pé só, e acho até, que me arrisco numa caminhada de 300 metros. Ou seja, se houver algum projeto do Grupo Corpo, para um espetáculo com bailarinos que se utilizam de muletas, eu me candidato!!! Também aumentei bastante a minha paciência. Numa situação delicada, como essa, ficamos reféns da boa vontade alheia. Por exemplo: eu moro numa casa com dois andares, onde a cozinha fica no primeiro e a sala, onde passo os dias e as noites, fica no segundo. Então, quando estou com sede ou fome, preciso que algum familiar, por gentileza, apanhe pra mim. Acabo vítima de inúmeras chantagens do meu filho mais velho, que insiste em trocar seus favores por coisas que o beneficiem. Tem que ter MUUUUIIIIITA PACIÊNCIA. Tomar banho, também exige algumas habilidades. E entre elas, se encontram algumas das já citadas: equilíbrio e paciência. Confesso que no começo, a dificuldade era tamanha, que cheguei a ficar dois dias sem uma ducha quente. Nada que tenha me deixado com um cheiro desagradável. Nas minhas condições, suar é quase um luxo. Ver televisão, também se tornou uma prática muito importante e, ao mesmo tempo, obtive uma constatação: não dá para viver sem uma tv por assinatura. Não há como depender, apenas, da programação dos canais abertos. Percebi que a televisão é uma companhia. É ela que está contigo nos momentos de solidão, nos momentos em que ninguém vem te visitar, nos momentos em que os parentes estão no primeiro andar e fingem que são surdos, quando você grita querendo algo. A televisão não te pergunta pela milésima vez, como foi que você se machucou. Ela é uma mulher bonita, gostosa e MUDA!! Há ainda, uma outra coisa que aprendi, e que considero muito valiosa para a minha vida: dormir sentado. Vocês não imaginam como isso me acrescentou.Por ter muitas dores ao deitar, encontrei uma posição confortável, no sofá da sala. Desde então, vivo ali. Sentado e com o pé para o alto, acordo, almoço, vejo tv, durmo e acordo, de novo, sem sair do lugar.Já adquiri, até um certo "apego" pelo local, e não sei, como farei, depois de curado, para voltar para a minha cama. E acreditem, não estou desenvolvendo nenhum tipo de problema na coluna. A vantagem dessa habilidade, é que não terei mais dificuldades em dormir em ônibus ou trens, ou mesmo, em reuniões ou palestras no trabalho. Desenvolvi também, elasticidade. Para ir ao banheiro fazer o "nº 2", por exemplo, não é nada simples. Pensem o seguinte: para se limpar, é preciso apoiar o peso do corpo no pé esquerdo, pois a mão que passa com o papel na bunda, é a direita, não é mesmo? Então, como fazer, se não posso apoiar o meu peso no pé esquerdo? Já imaginaram?!? Lamento amigos, mas, infelizmente, esse é um segredo que não pretendo revelar. Só digo que tem a ver, com elasticidade. O que certamente, me qualificaria como ginasta para as próximas Olímpiadas. Ginástica artística, é claro. FUI!!!!!!

Sandro Cortes.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Olhos de Parede

Abro os olhos lentamente, em uma manhã de domingo quase gélida. Fico na cama sentindo a vida despertar em cada músculo de meu corpo, reavivando as sensações da luta cotidiana, travada no trânsito, nos trens, no caminhar frenético pelas ruas da cidade...
Tenho que encontrar uma maneira de filtrar, ou melhor, digerir tudo isso e transformar em algo positivo. Em energia motriz para continuar a luta pela sobrevivência, travada nas florestas concretas plantadas por nós homens e que a cada dia invadem vorazmente o verde que nos alimenta. É uma incrível, porém real, contradição de nossa parte, plantamos o que nos destrói, destruímos o que nos alimenta.
Levanto, ou melhor, sento em minha cama, pego minhas armas: notebook, rabiscos em alguns papéis que foram acumulados durante as sensações da semana, caneta, um copo de café. Com estas armas em punho, começo a transposição da matéria e crio minha válvula de escape:

Dias de fúria

Esmagados pelo sórdido cotidiano

Olhos, espectadores silenciosos da angústia

Dias sem cura
A sociedade adoece agonizante
Em sua louca correria

Assisto a tudo calado
Hermeticamente fechado
Sistematicamente isolado
Com meus olhos vidrados

Duvido da felicidade dos sorrisos
Mais parecem retratos amarelados
De vidas sem vida

Duvido da veracidade dos olhares
Mais parecem janelas abertas
Para negras paisagens

Busco um sopro de vida
Em existências precárias
Que nem percebem as feridas
De sua alegria fingida

Pobre de mim
Assistindo a tudo, de mãos atadas
Vivendo a agonia de minha alma calada.

Nada melhor do que transformar vida em poesia. Deixar fluir o que está contido e acumulado em cada entranha do corpo. Só assim consigo gritar o que está calado e ser ouvido bem alto!
E mais uma semana se inicia...A nave vai...


André Fraga.

Aluga-se...

Star Man - Jota Quest
Eu não vim aqui pra delirar/Neste lugar eu sou antena/falante, eu vejo tudo/Eu só vim aqui pra contemplar/Essa riqueza, água e fogo/Dividindo o mesmo mundo/Vivem sem se amar/Aqui a verdade é um absurdo/Sem tempo pra sonhar/E o sonho é o começo de tudo/Star man!!!/Star man!!!/Star man!!!/Star man!!!/Vi que aqui o certo/Não é nem de perto o correto/E o que gera sofrimento é o egoísmo burro/Lá na minha estrela há mudança/Movimento, dinamismo, alegria/Liberdade e sentimento/Vivem pra amar/A luz brilha mais forte onde é escuro/Há tempo pra sonhar/E o sonho é o começo de tudo/Star man!!! A poesia das estrelas/Star man!!! Dos cometas aos gametas/Star man!!! A canção do novo mundo/Star man!!! A poesia das estrelas/Star man!!! Dos cometas aos gametas/Star man!!! A canção do novo mundo/Star man!!! O universo que se sonha junto

Quanto deve ser um aluguel de uma casa na Terra, pra quem não é da Terra?Difícil saber.Vou alugar a minha, e como eu não gosto de viver no Mundo da Lua, resolvi morar numa estrela.Prazer... podem me chamar de Star Man.Aqui nessa estrela ( vou preservar a identidade do lugar, porque aqui parece um paraíso turístico... só que.. não tem ninguém), construí uma antena para ter informações da Terra, afinal, tenho que pôr minha casa na Terra nos Classificados.Como farei isso?Posso dizer que meus vizinhos não andam muito a fim de falar a verdade? NãoE dizer que eles estão muito preocupado com riqueza? Jamais, jamaisTalvez, falar que muitos dos meus vizinhos não ligam mais pros seus próprios sonhos? ah.... não!Eita.... fazendo assim quem vai comprar??A casa tá ótima, mas , po, com essa vizinhança e esse clima, ninguém seria " de outro planeta" a ponto de comprar a casa.Bem... vou me concentrar... deve ter algo de bom que eu possa falar da minha casa, a Terra.Ah sim...A minha antena começa a captar, o canto dos pássaros, e eles me lembram de alguns dias que eu tava com problemas e alguém me ajudou.Nem preciso da antena, lembrei que pude ajudar outros, e o sorriso dessas pessoas foi de " outro planeta"! ( que nada, foi desse mesmo, ainda bem)Não preciso, mas a antena acaba de captar o barulho do mar, e com ele, consigo lembrar de sentir as várias amizades que fiz quando estava na Terra. Os risos, as piadas...Mas que antena chata... ela fica me lembrando muitas coisas boas pra pôr nos classificados.. tá bom já sei!!Tá, escrevi nos classificados... amizades... sorrisos... OK tudo escrito.Ah... quer saber... não vou botar nada nos classificados.Tô pegando o próximo foguete pra Terra...Em tempo, minha casa não está mais pra locação, muito menos à venda!Sou otimista, as coisas boas valem mais que as ruins... vou voltar pra minha terrinha chamada Terra.Fui... quer dizer, "voltei"!

Diego Sandins.

Aniversário

Olá, pessoal... Como muitos já devem estar sabendo, hoje, dia 13 de agosto de 2010, nós estamos completando nosso primeiro ano de vida. Essa data é muito importante para nós. Foi o dia em que o estatuto do blog foi definido... o dia em que o último passo para o blog ir ao ar foi dado. Um sonho comum de alguns bons amigos teve 9 meses de gestação para em agosto do ano passado se tornar realidade. É incrível a receptividade que tivemos de vocês. Idéias, ajudas, discussões... de adolescentes estudantes do ensino fundamental a doutores professores de universidades... todos lendo O Clóvis. O blog é isso... fruto de uma vontade de nos doarmos a vocês. É de graça... não ganhamos nada com isso, mas estamos religiosamente escrevendo. Mesmo quando ninguém lê, sempre há um novo texto para vocês. Hoje, mais do que nunca eu digo: O Clóvis veio pra ficar... e por muito tempo. Espero que mesmo depois de nós e de vocês ele ainda esteja aqui.
A literatura de Luciano; as prosas poéticas de Danielle; as reflexões musicais de Diego; as críticas sociais de Bruno; e meu sarcasmo de praxe estarão agora sendo somados com o talento de André e Sandro. Espero que os recebam tão bem quanto a nós. Nosso blog acredita que a palavra pode transfomar pessoas, vidas. E que devemos dar algo às pessoas em retribuição ao dom que recebemos. Talvez um dia, quem sabe, sejamos fonte de inspiração a outros que nos inspirarão ainda mais.
Podem ter certeza que estaremos sempre aqui... pensando e os fazendo pensar conosco.
Obrigado por nos manter vivos. Vocês são o motivo disso tudo.

Como editor nesse primeiro ano, um abraço em nome de todos do blog:
Danielle Ribeiro;
Bruno Dutra;
Diego Sandins;
Luciano Fortunato; e
Ulisses Figueiredo.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Cruel?

Pensamentos existenciais são cruéis com a gente. Podemos nos perguntar porquê vivemos ou para onde vamos... que nem aquele comercial da TVFutura. E geralmente chegamos à conclusão de porra nenhuma. Acabamos por preferir o que mais nos convém para que possamos viver da melhor forma possível. A certeza de que vamos morrer nos leva a imaginar tanta coisa que acabamos nos desvirtuando do real. É cruel isso... se vamos morrer, qual o sentido de viver? Como disse: cruel... cruel conosco mesmos que precisamos desse tipo de resposta e abraçamos a quem nos dá. Mas mais cruel que isso é quando começamos a nos questionar não sobre a nossa existência, mas sobre a existência dos outros, ou melhor, de tudo a nossa volta. Vou explicar: pare agora e perceba tudo a sua volta. As paredes... as cores... o teclado... os sons... os cheiros... a temperatura. Agora siga meu raciocínio. Todas as cores que você está enxergando são provenientes da luz que está iluminando o ambiente aí. Elas apenas batem numa superfície que tem a característica de refleti-las em proporção devida. Nossos olhos, portanto, recebem tal informação, filtra e as envia a nosso cérebro. Então se a cor é da luz, qual é a cor verdadeira das coisas? Não há cor? E se esse filtro estiver defeituoso? O mesmo com o tato... se nossa pele recebe contato e o informa ao cérebro, o que acontece quando apresenta defeito total? No mais, se todos os meus sentidos deixassem de funcionar e enviar informação ao meu cérebro, o que me provaria que tudo a minha volta existe? Se essa existência exterior é dependente dos meus sentidos, desses filtros de informação, quem pode afirmar que tudo que você está vendo, sentindo, escutando e etc. não está sendo manipulado por alguém ou alguma coisa. Ou seja, nesse exato momento eu estou tentado a crer que você, que está lendo esse blog, não existe. É como no filme Matrix, ou no Mito da Caverna, de Platão. Nosso cérebro está indefeso e sujeito à manipulação. Você pode estar morrendo e sucumbindo num hospital bem no futuro e a tecnologia deles o faz acreditar que está vivendo isso só pra amenizar sua dor. Ou nosso universo morreu e nossa tecnologia criou tudo isso para continuarmos existindo...
Tá bom, parei.


Ulisses Figueiredo.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Moça Em Janela De Hotel

Olho pela janela: é o Rio de Janeiro nublado e muito frio. Oculto. Imenso. Quase irreal. Ouço em meu headphopne um dos CDs que ele me deixou. Agora, uma grupo sinfônico que toca música do Metallica. Músicas de vários estilos e artistas estão misturadas num CD que ele me deu, pois ele é viciado em montar coletâneas, mais ou menos como faz aquele personagem do livro Alta Fidelidade, do Nick Hornby. Antigamente ele fazia com fitas, agora são CDs. Agorinha mesmo entrou nos meus ouvidos Jefferson Airplane – nada a ver. Legal e nada a ver. Mas ele é assim mesmo. Daqui a pouco pode pintar um samba com Los Hermanos que só fãs da banda de rock podem conhecer. Vá saber. Suas coletâneas são incoerentes. Como o seu vestuário tosco com alguns esporádicos e inesperados toques de requinte que só no corpo magro, leve e lindamente desengonçado dele podem parecer requintados. Ele só é coerente com uma coisa: suas incoerências.
Sei que lá fora é frio. Mas o quarto é quente e sou bela. Hoje sou a mais bela mulher do mundo, com minha camiseta branca e calcinha também branca, a me espreguiçar. A TV sem som é um pequeno papel de parede, um quadro vivo, uma caixa preta cheia de gente pequenininha se mexendo e sendo feliz. Volto pra cama e sinto mais uma vez os cheiros de deixamos no lençol e penso em como é bom ser mulher. Vontade de passar o dia nessa cama lembrando da noite que foi. Eu faria isso fácil, fácil. Mas, melhor não. Como o hotel não tem serviço de quarto é melhor eu subir logo para o restaurante e tomar o meu café, enquanto ainda é servido. Engraçado como os dois homens no elevador, que sobem também para o café, me parecem feios. Um barrigudo e com jeito de pseudo-intelectual e o outro, negro, com alguma elegância, porém sem graça. Mas não dá pra ver outros homens agora como machos. Não num dia como hoje. Só os consigo ver como seres humanos assexuados. Não os vejo com antipatia ou desagrado – até gosto de vê-los –, mas o fato é que depois da noite que passou – eu junto ao meu pequeno deus – todos os homens são pra mim seres sem sexo, com exceção dele, obviamente, que é – penso brincando com minha fantasia – o inventor do sexo.
O café do hotel é muito bom. Muitas frutas e muitas coisas pra escolher. Estou faminta e devo comer como nunca. Na noite que passou, parte do meu corpo se perdeu em suor e demais líquidos. O alimento que ele, o re-inventor do meu sexo, me deu na cama não alimenta o corpo. Muito embora aquilo, de calibre e sustância, seja puro corpo, não sustenta o meu corpo, apenas consumindo-o. É uma pequena morte que me torna viva e com mais fome. Sinto-me leve, não posso negar. Mas é um estado meio vampiresco. O corpo dele junto ao meu e dentro do meu não me satisfaz como um alimento. Aquilo é como um sangue a meio copo. Um vinho a meio copo. Um copo d’água pela metade, que alivia um pouco a sede, mas não a sacia completamente – e isso parece deixar a água mais saborosa que qualquer outra coisa. E ele em mim é melhor que água, melhor que vinho, talvez melhor que tudo. E tudo o que ele faz comigo... Ele só não é melhor que a completude por que a completude não existe. Hoje esses meus olhos que agora olham pelas grandes janelas do restaurante para uma Guanabara cinza são capazes de transformar tudo em beleza. E é disso que eu preciso, de instrumentos que transformem coisas simples em coisas belas. Sempre as janelas. Janelas são fábricas de vida. Graças a estes olhos outrora tão habituados a ver o feio do dia-a-dia da roda semi-viva, e que agora só parecem saber ver o bom das coisas, o meu dia começou assim, agraciado com belezas, onde até um lavatório com a torneira enferrujada é belo. E quanto a ele? Ele, o mais belo dos esquisitões. Como ele estará agora? O que estará passando pela cabeça daquele que tanto me faz sorrir? Sorrir com risadas, sorrir por dentro, e até sorrir chorando...
Desço. Ruas molhadas. Cachorro na calçada sorri pra mim. Uma velhinha que anda com muita dificuldade sorri pra mim. Policial sorri pra mim. Um lindo bebê no colo de sua mãe faz o mesmo. Bem. Vejo que o mundo sorri pra mim. Só voltarei a vê-lo à noite. Que tipo de dia terei nesta cidade tão bela e tão enigmática? Sou mais estranha no Rio do que seria em Nova York. E o Rio me é por demais estranho. Eu não entendo o Rio. No Rio eu não sei quem eu sou – e isso me aproxima de mim. É o tipo de lugar onde me sinto a todo instante pronta para uma gafe. Só que hoje não. Hoje eu sou da gema. Marisa Monte e Chico Buarque já muito me ensinaram sobre carioquices. E tenho aprendido até que ser carioca é não ser carioca. Não há, por exemplo, coisa mais boba que um carioca sair falando que é carioca. Seria como gente ter que falar que é gente. Não se diz “sou carioca”. Triste do carioca que precisa dessa afirmação. E cariocas não deveriam ser tristes.
Well. Depois de ter andado um bocado pelas ruas, praças, museus, Metrô, acho que vou beber algo. Chope? Vinho? Chope? Vinho? Não está tão frio assim: chope. Espuma gostosa. Lembra o beijo de ontem com gosto de cerveja. Penso em como eu demorei na vida a gostar de cerveja. Nossa... Demorei a gostar de tanta coisa. Acho que demorei a gostar de homem. E veja hoje como estou... Apaixonada por um. Paixão: esse negócio que o Freud parece ter tratado como desvio comportamental. Não sou especialista em Freud, mas assim li algo a respeito. Eu, finalmente uma mulher apaixonada. Mas quem sou eu? O que posso falar de mim? Meu nome é Michele. Sou filha de mãe brasileira com pai francês. Não conheço meu pai, a não ser pelas lembranças de minha mãe, além de uma fotografia dos dois tirada com uma antiga câmera Canon automática equipada com timer, vejam só, num quarto de hotel. Seus olhos sorriam na foto. Eles se conheceram num carnaval, de onde eu fui concebida. Então ele partiu pra não mais. Não gosto de carnaval. Não que eu não goste de bagunça e de climas orgíacos. Gosto de farra. Pode ser um traumazinho básico, relacionado a meu pai, a quem um dia pretendo conhecer. Eu preciso rever esse negócio com o carnaval. Se eu nasci de um carnaval, e se eu gosto de existir, logo eu deveria gostar de carnaval. É. Mas não gosto por enquanto. Gosto de passar a noite na balada, mas não muito. Prefiro o dia. E não gosto de natal também porque acho que todos ficam hipnotizados – e outros acordados demais, o que os faz mergulhar em tristeza. Também não gosto de ano novo. No entanto, gosto sim de certas celebrações. Difícil entender, eu sei. Sou de Touro, mas isso não faz a menor diferença, pois não acredito em astrologia. Minha cor preferida é o vermelho. No entanto, não uso roupa vermelha. Se eu botar vermelho eu não fico meia hora sem ir a um espelho. Sei lá. Acho que o vermelho é sagrado. Só é bom pra vestir modelo de revista e pra propagandas de Coca-cola. Até batom vermelho na minha boca me acanha. Não acredito em Deus. Tenho muito medo da morte e da velhice. Às vezes quase me pego rezando – rezando não sei em nome de que ou de quem. É a falta que um deus faz. Mas é foda. Deus se foi como o Papai Noel. Mas eu continuo acreditando em um monte de coisas que seriam absurdas para um físico ou astrônomo. Parece uma piada até pra mim: eu costumo acreditar em metade da laranja. E pelo que tenho vivido com esse cara... Puta que pariu... somos as metades de uma laranja. Ah. Que nada. Ele é apenas alguém a quem adoro porque me faz gostar de mim como eu nunca havia gostado. Obviamente isso não é pouco. E, saiba-se, pra eu adorar algo, é porque o objeto é digno de adoração.
“Posso me sentar aqui?”, ela pergunta. Tenho certeza: é a senhora idosa que arrastando os pés sorriu pra mim quando eu saía do hotel. “Sim, fique à vontade”, respondo. “Mas... a senhora, quem é? Nos conhecemos?” Ao que ela me responde com uma pergunta, no mínimo, estranha: “Você gosta muito de cinema, não é, querida? Gosta da ‘trilogia das cores’ do Krzysztof Kieslowski, não é mesmo?” Essa foi mesmo surpreendente: uma senhora tão velhinha falando de um assunto tão específico. Ainda que ela seja uma cinéfila, a pergunta é desconcertante. Se ela gosta de cinema, esperava-se que fosse falar sobre algum filme antigo, tipo Casablanca, sei lá. Mas Krzysztok Kieslowski foi demais. “Você já me viu antes de hoje”, ela continua. “Sou aquela que aparece nos três filmes, ‘A Liberdade é Azul’, ‘A Igualdade é Branca’, e ‘A Fraternidade é Vermelha’, tentando colocar uma garrafa numa grande lixeira, mais alta que minha estatura, somente conseguido no terceiro filme”. Então trata-se de uma atriz, que coisa legal. “Sim, é claro que me lembro das cenas. Aquelas cenas fizeram muita gente pensar em muita coisa, a senhora deve saber disso. A senhora é atriz profissional?”.
Sei que todo tipo de estória já foi contada, e que meu caso é só mais um. Já li coisas muito estranhas, como, por exemplo, um livro em que uma menina conversava com sua vagina. Acontece que se acharmos que não falta mais nada pra se mostrar, a literatura pára, a música pára, a arte pára, a imaginação pára, o sonho pára, a vida pára. E sei também que o aconteceu comigo foi real, não é ficção, eu juro. Aconteceu comigo num momento em que eu estava inundada de sentimento. Porém sóbria – não duvidem –, como poucas vezes estive em toda a minha vida. Que coisa chata essa de pensarem que os apaixonados estão dentro de um surto psicótico. Todos tentam viver uma vida emocionante. Gostam de se emocionar com os filmes, de se excitar com as viagens, de ficarem exultantes com a apresentação teatral do filho na escola... Mas quando alguém se apaixona – é isso é a grande emoção do ser – é tratado hoje como um insensato. Apaixonar-se por dinheiro pode. Apaixonar-se por gente é tolice, como parece dizer o novo senso-comum. O dinheiro é o verdadeiro deus deste mundo. Ele passou a ser a premissa para qualquer coisa que chamem de amor ou paixão. Por ele as pessoas vivem e morrem. “Deixe-me esclarecer uma coisa, minha bela menina”, continuou a falar. “Eu jamais tive o privilégio da juventude. Sempre fui velha. Sabe por que? Porque eu não sou uma mulher como você e como as que conhece. Sou uma personagem sem nome dos filmes do Kieslowski. A pobre mulher idosa que mal consegue andar. O que não quer dizer que eu não exista, pois personagens de filmes são mais reais que o que aprendemos a chamar de gente de verdade. O que tive em minha vida? Uma rápida aparição em três filmes. Pode parecer pouco. No entanto, isso me eterniza e me faz existir, compreende? Não se preocupe, você não está ficando maluca. Você está apaixonada, é verdade, mas não louca. Eu estou aqui, pode me tocar”. Levei minhas mãos até as dela e soube que era ela real. Suas mãos enrugadas e manchadas pela idade eram quentes. Subitamente chorei. Sem barulho, chorei com minhas mãos envolvendo as dela. Ela também estava emocionada, porém sem lágrimas – o que é típico de pessoas daquela idade. “O que a senhora faz aqui? Porque me procurou?” Com a voz cansada e mais doce do mundo: “Minha querida... Nós, personagens de filmes somos, imortais e onipresentes, mas não somos oniscientes. Portanto eu não sei o que me trouxe aqui. Talvez o Grande Diretor saiba.” “Grande Diretor? A senhora está me dizendo que Deus existe?” “Todos dizem que sim, não é mesmo? Muito embora eu tenha estado em toda parte e nunca o tenha visto. Eu sou criação da mente de um cineasta. Isso me faz preferir achar que as coisas são criadas por alguém. Já pensou que neste momento você pode estar sendo dirigida, fazendo parte de um filme? Consegue se lembrar, por exemplo, como foi parar naquele quarto de hotel? Você pode me dar um cigarro?” “Sim, claro”. Acendi o cigarro para ela, que tremia. Nesse instante fumávamos juntas, e isso é puro cinema. Pensei em voz alta, com os olhos parados: “Na verdade eu não consigo me lembrar de como cheguei ao hotel. Lembro-me da minha infância até. Mas não de como cheguei ao hotel”. Ela tossiu. “Não interessa ao roteirista, meu amor, explicar como você chegou ao hotel. Eu preciso ir embora” “Não! Por favor, fique mais!” “Adeus, linda moça!”. Ela levantou-se com bastante dificuldade e foi embora vagarosamente. Não sei porque motivo eu não tive forças para me levantar da cadeira e acompanhá-la. Fade out. De repente, como aconteceu com Juliette Binoche em “A Liberdade é Azul”, o sol veio bater suavemente em meu rosto ali na mesa daquele bar. Como é lindo um raio de sol no meio de uma nublada tarde de inverno no Rio. O sol veio como música. Podia ouvir o seu calor em meu rosto. Foi numa situação mais ou menos assim que a personagem de Juliette vislumbrou a velhinha a andar na rua com enorme dificuldade, possivelmente a pensar “e quando eu ficar velha?”.
Já no hotel, sentada no chão do box, com a água super quente batendo na minha cabeça, com os dedos indicadores tapando os ouvidos pra poder ouvir melhor o barulho da água chocando-se contra meu couro cabeludo sem a interferência do barulho da resistência elétrica do chuveiro, fiquei a pensar em tudo o que havia acontecido. Já não pensava mais no meu homem, mas apenas no que havia representado meu encontro com a velha senhora que me sorriu e me disse aquelas coisas. Engraçado: nos filmes ela não parecia ser o tipo de pessoa capaz de sorrir fácil. A personagem, sorrindo, se modificou pra mim – e como eu gostaria que alguns personagens que margeiam minha vida se modificassem pra mim. Egoísmo, eu sei. Porém seria aquela sempre a velhinha corcunda, ainda que pudesse sorrir, como não tivera a oportunidade de fazer nos filmes onde aparecera tão brevemente. E quanto a mim? Poderia eu voltar a sorrir depois de tudo o que houvera passado naquele dia. Alguém pode sorrir em meio a um turbilhão de dúvida? Alguém pode sorrir ao pensar nas desgraças do mundo, e se existe Deus, etc? Alguém pode sorrir enquanto pensa se sua vida é real ou se está dentro de um filme?
Seco os cabelos, ainda nua, frente à janela que dá para a Baia de Guanabara. As luzes do anoitecer carioca nesta janela de hotel podem trazer tantos pensamentos que acabamos por misturá-los de tal forma que chegamos a um estado de quase-não-pensar. Tento também não fazer esforço para ter pensamentos recorrentes sobre tudo o que aconteceu. Distraio-me olhando para o meu corpo, meus pequenos seios, meus pêlos pubianos muito negros, minhas pernas finas... Meu magro e belo corpo. Mais magra do que eu gostaria, é verdade. Mas tudo bem. Afinal, quem está cem por cento em paz com seu corpo? Acho que ninguém. Tenho força. Tenho poesia. Tenho pensamentos. Tenho um apaixonado – parece que ele está apaixonado por mim. Já ia me esquecendo, ele vai chegar daqui a pouco. Neste instante gostei de pensar nele, de quem já havia me esquecido. Campainha toca. Visto-me antes de atender. Ao abrir a porta, sorrio. Sorrio finalmente. Ele entra. Pergunto se ele está bem. Nos abraçamos com calor. Sentamos na cama sem muitas palavras. Nos damos as mãos. Venha o filme.

Luciano Fortunato.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

" Um Pingo De Mel Captura Mais Abelha Que Um Galão De Fel"

Jorge Ben Jor - Salve Simpatia
Com sorriso, carinho, suavidade simpatia e amor, esbanjando saúde e alegria/Ele vai chegar, ele vai chegar /Para animar a festa salve simpatia, para animar a festa,boa noite,boa noite bom dia/Da ciência arcaica a filosofia oculta e moderna pode perguntar que ele responderá/Sem pestanejar às vezes as suas respostas ferem como uma flecha ponteaguda e certeira /Por muito que você não acredite é só esperar ele chegarpara animar a festa /Para animar a festa salve simpatia, para animar a festa,boa noite, boa noite bom dia/A Banda do Zé Pretinho chegou......../Paraaaa animar a festa


Salve, salve...Tudo bem.... em referências apenas de pele eu estou longe de ser um Zé Pretinho, mas pouco importa, nesse caso a pele não é o mais importante. Aliás... pra proteger a pele tem o filtro solar... proteger a alma que é mais complicado... se bem que quando a gente quer e age certo, ela, a alma, sabe muito bem se defender sozinha.Fica a dica de saúde.. filtro solar!Mas, agora acabou o momento "boletim verão", embora seja de suma importância para a saúde sorrir, e fazer com que tenhamos alegria, para animar a festa que é a nossa vida. E olha que esse " produto" que dá alegria não é vendido em farmácia e nem mesmo vem em embalagens coloridas de plástico, e muito menos sai na água!Sem pestanejar digo, esse produto é a simpatia.Não precisamos nem ser PhD em nenhuma ciência, nem sermos filósofos( se bem que cada um tem um pouco de filósofo, médico , técnico de futebol e de roteirista de cinema ucraniano) para saber o bem que a simpatia faz às pessoas.Não sei vocês( mentira... eu sei sim, afinal, eu sinto o mesmo que vocês nisso, posso apostar!), mas eu fico balançado tanto com um soco, tanto com um belo sorriso inesperado( ou esperado, com gratidão). Todavia, podemos convir que o sorriso dói menos( dói nada) a quem recebe, e o soco faz com que a pessoa que dá mova mais músculos e se esforce à toa( é.. viu... quem disse que a preguiça é de todo mal?).É muito mais agradável receber as pessoas com sorrisos e estar sempre disposto a ajudar e a fazer com que as outras pessoas também estejam feliz, tirando o fato de que isso também é mais fácil. Não acredita? Experimente tratar com carinho e com uma alma sorridente alguém a quem você quer pedir um favor! Elogie ao invés de criticar, pra você ver as transformações que irão ocorrer? É.. acho que você começa a me dar razão.Veja bem... no fundo , no fundo queremos que nós estejamos bem. É... é isso mesmo ... a si próprio. Parta de um princípio egoísta-altruísta. Faça com que as pessoas se sintam melhor, para que isso beneficie a você mesmo! Não tem nada de errado nisso.Para ilustrar o que eu falei aqui, vou contar uma história sobre o vento e o Sol:O vento e o Sol estavam conversando e o vento decidiu que queria ganhar do Sol em algo. O vento observou um senhor que usava um vistoso chapéu, e decidiu apostar com o Sol quem faria o senhor ter de tirar o chapéu em menos tempo. O Sol, altruísta que é, aceitou aposta.O vento foi o primeiro. Ventou, ventou... fez uma ventania, mas à medida que a força do vento ficava mais forte, com mais força o velhinho se agarrava em seu chapéu. O vento ventou tanto que se cansou. Chegou a vez do Sol. O Sol simplesmente abaixou a terra e deu uma jocosa risada com seus raios quentes e aconchegantes pro velhinho. Resultado, o velhote tirou o chapéu levemente para enxugar sua já cansada testa, mas com um sorriso no rosto. O Sol ficou tão feliz com isso que pouco importou a aposta que ele fez com o vento.O Sol provou que muito mais se consegue com doçura, simpatia e leveza, do que com força, atos rudes e sisudez, como fez o vento.É... não é á toa que chamam de astro-Rei.

Diego Sandins.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Guerra Mundial

Como estamos em clima de Copa do Mundo de futebol, mesmo após a eliminação do Brasil – e de Gana - , eu pensei que talvez fosse das melhores oportunidades de compartilhar algumas de minhas idéias sobre futebol. Não que eu seja um entendido de métodos, táticas, jogadores e etc.. A não ser pelo meu Vascão, não sei de mais nada...rs Mas eu sempre pensei sobre o futebol. Por que ele leva as pessoas a tamanho fanatismo? Certa vez, em uma aula de sociologia na Universidade Federal Fluminense, falando sobre momentos em que a sociedade sente-se como um só corpo, o professor mencionou o futebol como exemplo. Realmente... o futebol nos faz sentir parte de uma comunidade maior. Eu, pessoalmente, me sinto muito mais vascaíno do que brasileiro. No termo futebolístico, se é que se pode dizer assim. E talvez até mesmo fora do futebol. Tem um amigo meu que diz sempre assim quando se refere a alguém que ele gosta: “Gente boa... vascaíno” (mesmo que não seja...). Um verdadeiro sentimento de nação. Paramos o silêncio durante o hino brasileiro contra a Coréia do Norte por que vimos uma bandeira do Vasco e começamos a cantar seu hino.rs Estranho, não é? Mas, enfim, eu queria falar sobre Copa do Mundo. Somando-se esse nacionalismo que só aparece quando disputamos alguma coisa com outros países – principalmente no esporte - , por que será que nos empolgamos tanto com o futebol, a ponto de parecer que nosso país está disputando uma verdadeira guerra? Tem um comercial de cerveja que mostra nossos jogadores se dizendo guerreiros, não tem? É disso aí que eu quero falar. Não dos comercias da Brahma, mas da idéia geral difundida e inerente. Vou explicar. É só uma teoria minha, sem grandes fundamentos teóricos. Mas quem se importa? Basear-me no que eu penso é melhor do que no que os outros pensam. Ou não... rs Então: como eu sou historiador formado (daqui a duas semanas) e blá blá, é inevitável pensar dentro desses moldes. Então vamos láááá atrás. Idade Média. Até mesmo antes, na Antiguidade grega e romana. Bom... naquela época, havia muitas guerras, feitas a todo o momento entre cidades ou entre os grandes senhores feudais a fim de expandir suas terras e conquistar novos vassalos. Bom, que seja... o que importa foi a atitude da Igreja em relação a todo esse mar de sangue que se praticava entre seus fiéis. Afinal, quase todos eram católicos. Pra dar uma solução a isso, a Igreja emitiu uma ordem proibindo guerras em dias santos (quase todos no calendário) e, posteriormente, foi aumentando o número de dias nos quais se tornava pecado guerrear. Mas aí fica complicado praquela classezinha dos nobres cavaleiros, serem guerreiros e não poder guerrear. O Homem precisava extravasar sua ânsia por lutas e combates de alguma forma. Nisso, criou-se aqueles torneios entre cavaleiros, bem típico dos filmes da Sessão da Tarde, dos camaradas com lanças sobre cavalos em direção uns aos outros. Por que eu falei disso? Acho que já sacaram meu raciocínio, né? Os esportes de hoje, assim como os esportes de antigamente, principalmente um evento de importância mundial como a Copa, servem para aplacar uma vontade inerente em nós Homens de lutar uns com os outros. Na Copa se tem o mesmo discurso de uma guerra: amor à nação; patriotismo; apoio de todos; etc.(ao menos com o Dunga e com Dom Diego). Mais do que gostar de seu país, acabamos por gostar de derrotar os outros ou ver nossos rivais se ferrando. Não é assim com a Argentina? Ou com o Flamengo?rs a Copa é como uma guerra... países tentam se afirmar e impor respeito. Outros só pretendem corroborar isso. Mas é sempre assim... E daqui a quatro anos vamos ter outra guerra. Se não podemos largar algumas bombas na Argentina, que ganhemos dela no futebol, na frente do mundo inteiro. Anarquista como sou, ligo muito pra isso não... a não ser quando meu Vasco tá em campo. =P

Ulisses Figueiredo.