Então La Jetée é um desses exercícios estilísticos feitos por um cineasta excêntrico da Nouvele Vague? Sim, de certa forma. Mas não apenas isso. Eu diria que trata-se aqui de muito mais. Imagine uma obra de arte que tenha influenciado boa parte da ficção-científica cinematográfica posterior – sim, o filme é de ficção-científica. Imagine que o filme foi feito nos anos de 1960 e ainda hoje é impactante. Imagine que o filme tem suspense, fantasia, amor e tragédia, em apenas meia hora de projeção. Então, imagine o que um cara que se diz cinéfilo, como eu, estava fazendo a vida inteira que não conhecia este filme... Eu. Justo eu, amante de filmes de amor e de ficção-científica. De filmes que fazem pensar, enfim. É, amigos... Nem mesmo em tempos de Internet dá pra se conhecer tudo o que foi (e é) produzido.
A trama? A bela atriz Hélène Chatelain, com seu incógnito rosto, nos conduz, juntamente com seu apaixonado – vivido por Davos Hanich – a uma viagem quase sem volta, da qual eu mesmo não voltei até hoje. Não sei se a trama do filme importa ou convenha ser contada aqui. Até porque o filme é tão curto... O que posso dizer? É mais ou menos um filme sobre viagens no tempo. Inspirou Terry Gillian à realização do esplendido Os Doze Macacos. Está bem assim? A narração de Jean Négroni, os intrigantes efeitos sonoros e a maravilhosa música de Trevor Duncan e coral da Catedral St. Alexandre-Newsky fazem toda a idéia funcionar, de forma macia e ao mesmo tempo áspera, própria à introspecção.
Universos paralelos, intuição de futuros apocalípticos, experimentação psico-estética, pactos com o impossível e com o imponderável, amores impossíveis, inexorabilidade do carrossel da vida, guerra, paixão, nostalgia, fim do mundo, mundos que habitam exclusivamente o desejo – inconsciente ou consciente... La Jetée. Compre, baixe, faça o que quiser, mas não deixe de conhecer esta pequena grande obra do cinema mundial.
Luciano Fortunato.
Próxima semana: "Num momento se está diante da Bíblia e de algum daqueles livros de Richard Dawkins. Você escolhe o último e sabe muito bem onde isso tudo vai parar". SENTADO, de Ulisses Figueiredo.
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