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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Olhos de Parede

Abro os olhos lentamente, em uma manhã de domingo quase gélida. Fico na cama sentindo a vida despertar em cada músculo de meu corpo, reavivando as sensações da luta cotidiana, travada no trânsito, nos trens, no caminhar frenético pelas ruas da cidade...
Tenho que encontrar uma maneira de filtrar, ou melhor, digerir tudo isso e transformar em algo positivo. Em energia motriz para continuar a luta pela sobrevivência, travada nas florestas concretas plantadas por nós homens e que a cada dia invadem vorazmente o verde que nos alimenta. É uma incrível, porém real, contradição de nossa parte, plantamos o que nos destrói, destruímos o que nos alimenta.
Levanto, ou melhor, sento em minha cama, pego minhas armas: notebook, rabiscos em alguns papéis que foram acumulados durante as sensações da semana, caneta, um copo de café. Com estas armas em punho, começo a transposição da matéria e crio minha válvula de escape:

Dias de fúria

Esmagados pelo sórdido cotidiano

Olhos, espectadores silenciosos da angústia

Dias sem cura
A sociedade adoece agonizante
Em sua louca correria

Assisto a tudo calado
Hermeticamente fechado
Sistematicamente isolado
Com meus olhos vidrados

Duvido da felicidade dos sorrisos
Mais parecem retratos amarelados
De vidas sem vida

Duvido da veracidade dos olhares
Mais parecem janelas abertas
Para negras paisagens

Busco um sopro de vida
Em existências precárias
Que nem percebem as feridas
De sua alegria fingida

Pobre de mim
Assistindo a tudo, de mãos atadas
Vivendo a agonia de minha alma calada.

Nada melhor do que transformar vida em poesia. Deixar fluir o que está contido e acumulado em cada entranha do corpo. Só assim consigo gritar o que está calado e ser ouvido bem alto!
E mais uma semana se inicia...A nave vai...


André Fraga.

Um comentário:

  1. Aeeeeeeeeeeeeeew.... finalmente a estréia aguardada. Mais um irmão compartilhjando n'O Clóvis. Sei que todos vão gostar de seus textos e dou todas as boas-vindas ao camarada André!!!

    Agora, sobre o poema....
    Cara, é isso aí o que percebemos se nos dermos ao luxo de "olhar". Aquele olhar que quer realmente ver e se angustia com o que está diante de nós. É como teu irmão, o Bruno, me disse: sorte dos que são ignorantes. Esse mundo falso... essa vida falsa na qual fingimos muitas alegria para nos convencermos delas. Esse mundo CRUEL... rs

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