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segunda-feira, 15 de março de 2010

Absorvidos

Tinha terminado... aproveitei tudo até o final. Estávamos eu e mais dois amigos. Na verdade um deles era apenas conhecido, convidado pelo meu amigo a ir conosco. Ficamos ali por quase duas horas. O local estava vazio: era meio de semana e já bem tarde também. Sentamos e nos desligamos de tudo... foram as quase duas horas que eu disse, mas parecia uma eternidade. A realidade alterava-se a cada minuto que passava. Nossa mente nem estava mais ali. Vai saber onde diabos estávamos. Eu nem sabia mais quem estava do meu lado ou nem mesmo quem eu era. Algo absorveu-me... transformou-me... roubou-me os sentidos e a realidade. Na verdade uma nova realidade foi-me entregue e eu a abracei sem questionar. Eu estava absorto. Lembro de alguém me pedindo pra passar e eu disparei uns palavrões por aquela pessoa ter perturbado meu êxtase. Tinha terminado... não tínhamos mais o que fazer ali... deveríamos voltar pra casa. Mas como eu disse, estávamos absortos. Não conseguíamos encarar normalmente a realidade. Parecia fraca... sem emoção. Sem tesão... ESTÁTICA. Essa é a palavra. A realidade não tinha movimentos. Não aqueles vislumbrados há pouco. Meus amigos (na verdade só um era amigo... mas acho que já expliquei isso) pensavam da mesma forma. Todos concordavam que no dia seguinte deveríamos retornar ao mesmo local – ou quem sabe outro, mas da mesma forma bem apropriado – e quem sabe ficar até mais tempo. O problema era o dinheiro. Éramos moleques estudantes, desempregados, de classe média baixa e tínhamos que chorar pra conseguir grana pro nosso vício. Pois é... já éramos viciados. Sou até hoje. Eles também. Mas garotos sempre dão um jeito de descolar uma grana quando se interessam por algo... ou viciam-se... ou os dois, como no meu caso. Mas voltando ao dia seguinte, foi bem melhor. Mais intenso... mais tenso... dos melhores que experimentei. Dessa vez eu nem queria mais voltar pra casa. Eu simplesmente não havia retornado á minha realidade. Absorvido. E dali pra frente, todas as vezes foram assim. Minha depressão só aumentava. Quanto melhor, mais deprimido eu ficava quando percebia a monotonia monocromática da nossa realidade mono. Mas meus amigos, não há mais jeito. Adoro um cinema.

Ulisses Figueiredo.

4 comentários:

  1. o cinema, ulisses, também me proporcionou alguns dos melhores momentos da minha vida. (...) ontem, passando em frente ao cine íris, pensei no assunto cinema, no sentido de cinema como espaço físico. o íris tem uma arquitetura decorativa linda... a passando filmes pornô... que coisa.

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  2. não é sua culpa. somos abduzidos pelo cinema

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  3. haha, sim!
    quer coisa mais divertida do que se desligar da vida e assumir um papel de destaque em alguma missão pra salvar o mundo ou conquistar a gata mais gata do colégio mas que, por algum motivo perdido nos confins do universo, todos rejeitam, mesmo que por míseras duas horas?
    cinema é foda!

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