Essa é a semana da minha estréia como colunista do blog. Aliás, é a minha estréia como colunista. Escrevo letras de música, projetos na área cultural, contos e outras coisas, mas nunca publiquei meus escritos em nenhum meio de comunicação, nem mesmo num blog. Por isso, estou muito feliz de fazer parte da família "Clóvis" e poder dividir minhas idéias com todos vocês, leitores. Infelizmente, pra mim, começo minha nova atividade revelando aqui as habilidades que adquiri nos últimos 23 dias, quando num jogo de futebol, quebrei meu tornozelo e rompi os ligamentos. Espero que ajudem todos vocês, leitores, a enxergar um lado positivo de estar imobilizado. Bem, pra início de conversa, essa infelicidade, ocorreu no dia 07 de Agosto e a cirurgia, a que fui submetido, aconteceu dez dias depois. À essa altura, você, leitor, deve estar se perguntando: "mas, que habilidades são essas, que um cidadão, operado do tornozelo, desenvolve em pouco mais de vinte dias?" Confesso, que minhas ordens médicas, foram para ficar em repouso absoluto, sem poder, em hipótese alguma, apoiar o pé esquerdo no chão. Então, para que não haja mais nenhuma áurea de mistério envolvendo o tema do meu texto, revelo que tais habilidades, são em relação ao manuseio das muletas, e como sobreviver nesta situação. Jogo futebol, praticamente, desde que nasci, e nunca, nunca mesmo, quebrei alguma parte do meu corpo, passei por alguma cirurgia ou levei algum ponto. Anestesia mesmo, só no dentista.Mas, desta vez, passei pelo pacote completo, uma espécie de "batizado" para sair dos "trinta" e entrar no "enta" (quarenta, cinquenta, sessenta, ....). E acho que pela primeira vez na vida, passei a dar valor ao meu corpo. Entendi o quanto precisamos de cada membro dele. É claro, que existem pessoas que já nascem sem algum ou que, por algum tipo de acidente, perdem alguma parte. Mas, vivem, normalmente, e felizes, na maioria das vezes. Mas, . . . . . . sem dor. Eu não perdi o meu pé, graças a Deus, mas, preciso de muito cuidado para me locomover, porque dói pra cacete!!! As duas noites que se seguiram ao pós operatório foram barra pesada. A primeira, ainda no hospital, precisei de uma injeção, do tipo "sossega leão" para conseguir dormir, e a outra, já em casa, não consegui pregar os olhos, mesmo a base de um coquetel de remédios, pesadissímos: cefalexina de 500mg, Voltaren de 75 mg e o PACO - paracetamol + fosfato de codeína de 530 mg. Todos esses remédios e mais uma rodada de cerveja, dá pra fazer uma viagem bacana, não? Mas, sai caro!! Bom, mas, vamos, ao que interessa. Uma das principais habilidades desenvolvidas, diz respeito ao equilíbrio. Hoje com o auxilio das muletas, sou capaz de subir e descer escadas, deslocar-me com tranquilidade por entre os móveis das sala, vestir a cueca ou a bermuda num pé só, e acho até, que me arrisco numa caminhada de 300 metros. Ou seja, se houver algum projeto do Grupo Corpo, para um espetáculo com bailarinos que se utilizam de muletas, eu me candidato!!! Também aumentei bastante a minha paciência. Numa situação delicada, como essa, ficamos reféns da boa vontade alheia. Por exemplo: eu moro numa casa com dois andares, onde a cozinha fica no primeiro e a sala, onde passo os dias e as noites, fica no segundo. Então, quando estou com sede ou fome, preciso que algum familiar, por gentileza, apanhe pra mim. Acabo vítima de inúmeras chantagens do meu filho mais velho, que insiste em trocar seus favores por coisas que o beneficiem. Tem que ter MUUUUIIIIITA PACIÊNCIA. Tomar banho, também exige algumas habilidades. E entre elas, se encontram algumas das já citadas: equilíbrio e paciência. Confesso que no começo, a dificuldade era tamanha, que cheguei a ficar dois dias sem uma ducha quente. Nada que tenha me deixado com um cheiro desagradável. Nas minhas condições, suar é quase um luxo. Ver televisão, também se tornou uma prática muito importante e, ao mesmo tempo, obtive uma constatação: não dá para viver sem uma tv por assinatura. Não há como depender, apenas, da programação dos canais abertos. Percebi que a televisão é uma companhia. É ela que está contigo nos momentos de solidão, nos momentos em que ninguém vem te visitar, nos momentos em que os parentes estão no primeiro andar e fingem que são surdos, quando você grita querendo algo. A televisão não te pergunta pela milésima vez, como foi que você se machucou. Ela é uma mulher bonita, gostosa e MUDA!! Há ainda, uma outra coisa que aprendi, e que considero muito valiosa para a minha vida: dormir sentado. Vocês não imaginam como isso me acrescentou.Por ter muitas dores ao deitar, encontrei uma posição confortável, no sofá da sala. Desde então, vivo ali. Sentado e com o pé para o alto, acordo, almoço, vejo tv, durmo e acordo, de novo, sem sair do lugar.Já adquiri, até um certo "apego" pelo local, e não sei, como farei, depois de curado, para voltar para a minha cama. E acreditem, não estou desenvolvendo nenhum tipo de problema na coluna. A vantagem dessa habilidade, é que não terei mais dificuldades em dormir em ônibus ou trens, ou mesmo, em reuniões ou palestras no trabalho. Desenvolvi também, elasticidade. Para ir ao banheiro fazer o "nº 2", por exemplo, não é nada simples. Pensem o seguinte: para se limpar, é preciso apoiar o peso do corpo no pé esquerdo, pois a mão que passa com o papel na bunda, é a direita, não é mesmo? Então, como fazer, se não posso apoiar o meu peso no pé esquerdo? Já imaginaram?!? Lamento amigos, mas, infelizmente, esse é um segredo que não pretendo revelar. Só digo que tem a ver, com elasticidade. O que certamente, me qualificaria como ginasta para as próximas Olímpiadas. Ginástica artística, é claro. FUI!!!!!!
Sandro Cortes.