Hoje acordei e o tempo era outro. Não era mais o mesmo tempo de quando dormi. Não digo que isso é uma novidade, ou que sempre é tudo igual, mas é que, havia uma certa urgência no dia. Não havia tempo a perder na frente do espelho do banheiro tentando calcular as tarefas do dia ou querendo enxergar mensagens filosóficas no reflexo dos meus olhos.O que quero dizer, é que não havia tempo para pensar no que já havia feito nos últimos 38 anos, no que falei sem pensar ou nas palavras que engoli e acabei cuspindo na pia ao acordar. Não tinha como voltar lá atrás para pedir perdão a quem magoei com um monte de "merda", ou então, para falar um monte de "merda" a quem merecia e não falei por medo, receio, ou porque caguei, somente.Não dava para ficar reparando nos quilos que ganhei durante o sono só de sonhar com rodízio de pizzas e no pouco que perdi porque deixei de comer aquele x-tudo antes de ir me deitar. Não comi por culpa, mas dormi com fome.O fato é que acordei sem tempo para o café e as manchetes sobre a política, tragédias, esporte, e economia. As mesmas do jornal do dia anterior, as mesmas de três dias atrás, as mesmas da semana passada, do mês passado, ou mesmo, dos anos anteriores.Tinha que me vestir e sair correndo. Encontrar a rua e o acaso soprando no asfalto, a meninada dos colégios emanando liberdade sem culpa, a dúvida de cada esquina, os ônibus e suas buzinas e o cheiro de vida que brota dos ralos. Era isso!! Eu precisava ver tudo e que tudo me visse! Não sabia do dia de amanhã. Não sabia das novas notícias, dos novos amores e dos falsos amores, ou mesmo dos horários dos transportes urbanos. Tudo poderia mudar. Ou pior, no outro dia meus olhos não poderiam ser mais os mesmos, e minha urgência, ter tempo e hora marcada.Por isso, investi em cada piscar de olho e não perdi um só cavalo, branco ou preto, que cruzou a minha estrada, não perdi nenhuma essência.Sandro Cortes.

